Dona da Riachuelo fica mais perto de transformação na B3 e ação sobe – mas outras iniciativas estão no radar
outubro 27, 2020
SÃO PAULO – Algo bastante esperado pelo mercado para destravar o valor para as ações da companhia, a Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, anunciou em fato relevante na noite da última segunda-feira que o seu Conselho de Administração aprovou o início do processo para sua migração para o Novo Mercado, maior nível de governança da B3. As ações reagiram e, apesar de uma forte queda do Ibovespa nesta terça-feira, de 1,40%, os papéis GUAR3 subiram 3,87%, a R$ 15,57.
A aprovação inclui o início de negociações entre a administração da empresa e a B3, o que implicará em requisitos adicionais de governança corporativa a serem adotados pela Guararapes, como a apresentação de novos estatutos. Depois de concluído o processo, a diretoria realizará nova reunião para deliberar sobre a aceitação interna desses requisitos antes da migração.
O Itaú BBA aponta que a notícia é positiva, uma vez que a migração para o Novo Mercado pode desbloquear valor para o caso de investimento da Guararapes, dadas as expectativas de que isso irá melhorar a governança corporativa e aumentar a liquidez para as suas ações.
A migração para o Novo Mercado exige que todas as companhias abertas tenham um free float (ações que uma empresa destina à livre negociação no mercado) de 25%, enquanto o free float atual do GUAR3 é de 17,3% – o restante está nas mãos da família controladora.
“Dito isso, embora esperássemos esse movimento da administração, o anúncio foi feito antes do previsto”, avaliam os analistas do BBA.
Vale destacar que, no final de setembro, a ação GUAR3 registrou forte queda com o fundo do Itaú Fênix Ações vendendo 10,8 milhões de papéis (equivalente a 12,2% do free float) com uma nova estratégia de estar menos exposto a nomes menos líquidos, conforme destacou o Brazil Journal em reportagem. Com a ida ao Novo Mercado, a expectativa é de que as ações registrem maior liquidez.
O percentual do free float é bem abaixo de outras companhias, como a Lojas Renner (LREN3), o que também se reflete do valor dos papéis na Bolsa. Enquanto as ações da Guararapes são negociadas a um múltiplo de 10,31 a relação preço/lucro, as ações da Renner são negociadas a um múltiplo de 27,62 vezes. Em 27 de outubro, a Guararapes valia R$ 7,48 bilhões na bolsa e a Renner tinha um valor de mercado de R$ 32,77 bilhões.
A ida ao Novo Mercado era um projeto antigo de Flávio Rocha, atual presidente do conselho de administração da Guararapes, mas ainda esbarrava na resistência de seu pai, o lendário Nevaldo Rocha, que faleceu em junho passado.
Em entrevista recente ao canal Neofeed, Flávio Rocha tinha dados sinais de que a companhia poderia buscar novos níveis de governança. “Não há motivos para ficarmos fora do Novo Mercado. É o caminho natural da empresa”, afirmou. “Agora é hora de gerar valor.”
Longo caminho
Porém, esse pode ser o primeiro – mas importante – passo de um longo caminho para a companhia ganhar mais visibilidade na B3 e pelo menos aproximar os seus múltiplos frente a Lojas Renner.
Um assunto que vez ou outra sempre acaba por voltar à tona no mercado é a possível venda de ativos que pode destravar para a companhia, como é o caso do Midway Mall, além de imóveis de 50 lojas próprias, o que deve acontecer em algum momento, segundo aponta Rodrigo Glatt, gestor da GTI.
Glatt ainda ressalta que, após o primeiro passo com o estudo para a entrada no Novo Mercado, a oferta de ações por parte dos controladores para a companhia atingir o nível de exigência para a entrada no Novo Mercado ainda deve demorar para acontecer, uma vez que a empresa deve esperar que a ação reflita melhor os seus fundamentos.
Apesar da alta desta sessão, os papéis ainda registram queda de 34,37% no acumulado de 2020, em um ano em que o varejo de vestuário foi bastante impactado por conta das restrições à abertura de lojas por conta da pandemia do novo coronavírus.
Contudo, neste ponto, Glatt ressalta que a companhia está em um caminho de crescimento no online e de mudança no seu segmento financeiro através da criação de contas digitais, ponto este que será monitorado atentamente pelos investidores.
Em meados de outubro, o Itaú BBA havia reforçado em relatório que a companhia estava em um momento transformacional ao ressaltar que os ajustes na gestão de estoques e no modelo de aprovação de crédito deveriam render frutos neste ano, mas que foram postergados para 2021 em meio à pandemia.
“Novos formatos de loja, como Casa Riachuelo e Carter’s, e a transformação da Midway Financeira podem levar a um viés de alta para nossas estimativas”, apontaram os analistas Thiago Macruz, Helena Villares, Emerson Vieira e Gabriel Simões em relatório do último dia 16. Eles possuem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos GUAR3, com preço-alvo de R$ 31, o que representa um potencial de valorização de 99,10% em relação ao fechamento da ação nesta terça.
No fim de setembro a Midway Financeira recebeu a aprovação, pelo Departamento de Organização do Sistema Financeiro do Banco Central (BC), para prestar serviços de pagamento relativos à modalidade emissor de moeda eletrônica. Com isso, apontou a dona da Riachuelo, o objetivo é transformar a Midway em uma “grande plataforma digital de serviços financeiros”. O emissor de moeda eletrônica é um tipo de instituição que gerencia conta de pagamento do tipo pré-paga, na qual os recursos devem ser depositados previamente.
Em julho, a empresa havia informado que iria solicitar ao BC a autorização para oferecer contas digitais através de uma estrutura mais ágil e focada no cliente.
Para 2021, os analistas do Itaú BBA possuem expectativa de que a Midway Financeira entregue as melhorias em resultados operacionais em 2021, visto que os desafios de 2020 obrigaram a empresa a investir em melhorias em seu modelo de scorecard e aprovação de crédito, fortalecendo ainda mais seu modelo de negócios.
Resultados no radar
Em meio à expectativa pelos próximos passos para a entrada da varejista do Novo Mercado, um novo catalisador de curto prazo e que pode dar mais indicações sobre os rumos e iniciativas da companhia além da governança corporativa será a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, no próximo dia 11 de novembro.
Na avaliação do Bradesco BBI, no geral, esse deve ser mais um trimestre difícil para o varejo de moda, mas com as sinalizações das companhias de que “há uma luz no fim do túnel” com as tendências de fortes quedas nas vendas se revertendo entre os meses de agosto e setembro depois de um mês de julho bastante difícil com as lojas ainda fechadas e liquidação dos estoques de inverno.
A expectativa do BBI, que possui recomendação neutra para as ações GUAR3, é que a companhia registre um prejuízo de R$ 19 milhões no terceiro trimestre, revertendo o lucro de R$ 55 milhões do mesmo período de 2019, mas bem inferior ao prejuízo de R$ 296,2 milhões no segundo trimestre deste ano.
Vale destacar que, no segundo trimestre, no auge das medidas de restrição à mobilidade urbana por conta do coronavírus, a companhia já havia reforçado a sua estratégia de multicanalidade e viu sua receita online crescer quase cinco vezes – passando de R$ 30 milhões no primeiro trimestre para R$ 140 milhões no segundo.
Se os resultados de varejistas de vestuário já seriam acompanhados de perto pelos investidores pelos sinais de como se dará a recuperação, o da Guararapes ainda tem outro elemento em meio às transformações pelas quais ela está passando. Assim, além do resultado do dia 11 após o fechamento, a teleconferência no dia 12 com os executivos da companhia também serão acompanhados de perto pelos já investidores – e por possíveis novos investidores – da Guararapes.
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