Derrotas no Congresso e pressão por gastos frustram Guedes
maio 7, 2020(Bloomberg) — O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem demonstrado cansaço com as derrotas da equipe econômica no Congresso e teme que, sem apoio do presidente Jair Bolsonaro, os gastos públicos atinjam níveis que ele e sua equipe consideram insustentáveis, disseram três pessoas com conhecimento do assunto.
Guedes não pediu para sair do governo, mas ele tem dado sinais de que seu futuro à frente do ministério não está garantido, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque o assunto não é público.
Procurados, o Ministério da Economia e o Palácio do Planalto não comentaram o assunto.
A derrota mais recente ocorreu no Congresso, onde foi aprovado o projeto de ajuda financeira a estados e municípios para combater os efeitos da crise do novo coronavírus, na quarta-feira. A única contrapartida exigida pela equipe econômica em troca de um socorro de R$ 125 bilhões era que governadores e prefeitos não elevassem salários do funcionalismo público por 18 meses. Deputados e senadores, no entanto, excluíram uma série de categorias da norma, como profissionais de saúde, professores e policiais.
Quando o Ministério da Economia procurou o Palácio do Planalto para pedir ajuda e desarmar a bomba, descobriu que foi o próprio Bolsonaro quem deu o sinal verde para que as mudanças ocorressem na hora da votação, disseram as pessoas. Como Guedes estava frustrado com a situação, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, intervieram para aliviar as tensões, acrescentaram as pessoas.
Então o presidente fez um gesto de apoio a Guedes nesta quinta-feira e prometeu que vai vetar as mudanças feitas pelo Congresso com o argumento de que na economia quem dita a cartilha é Guedes. O ministro, em contrapartida, fez coro à campanha de Bolsonaro pela reabertura da economia, durante a visita desta quinta-feira ao STF. “A economia está começando a colapsar”, disse Guedes.
Apesar da demonstração pública de afinidade, no entanto, ainda não está claro se o presidente cumprirá sua promessa de veto, pois ao fazer isso corre o risco de irritar os principais membros de sua base de apoio, como policiais. Mesmo se o fizer, o Congresso ainda pode derrubar o veto presidencial.
O Ministério da Economia já se prepara para mais pressões por gastos públicos, disseram três pessoas com conhecimento do assunto. O governo gastará quase R$ 130 bilhões para pagar o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais durante três meses por causa da crise. Os estímulos fiscais dados durante a crise farão com que o déficit primário do setor público seja superior a R$ 600 bilhões, cerca de 8% do PIB, em 2020.