Como o Open Banking redefinirá o ecossistema financeiro no Brasil
janeiro 29, 2021Os próximos meses serão estratégicos para o futuro do setor bancário no Brasil. Com a primeira etapa de implementação do Open Banking marcada para o dia 1 de fevereiro, terá início nos bancos um movimento que promove o direito dos clientes de compartilhar suas próprias informações financeiras.
Esse movimento traz uma mudança fundamental em como os bancos estruturam seus negócios e interagem com seus clientes, uma vez que os clientes passam a ser reconhecidos como “donos” efetivos de suas informações. Essa transição vai alterar não apenas o relacionamento que os clientes têm com as instituições financeiras, mas também a dinâmica e a essência dos modelos de negócios do setor bancário, podendo redefinir todo o ecossistema de serviços financeiros do país.
Os bancos terão a oportunidade de olhar para o Open Banking sob a perspectiva do cliente, a fim de identificar suas necessidades não atendidas e pensar em como o movimento do Open Banking poderá ser usado para atendê-las, gerando mudanças positivas tanto para os bancos quanto para os consumidores.
Algumas questões ainda permeiam o tema e precisamos refletir sobre elas, como: O que muda para as pessoas físicas? Quais são as expectativas pela ótica do cliente? O consumidor pessoa física poderá, por exemplo, fazer o download, em seus dispositivos móveis, de um único aplicativo, no qual poderá ter acesso a serviços e opções de diferentes bancos? Qual será o valor agregado aos clientes pessoa jurídica? Essas e outras questões têm sido exploradas pelo mercado e vamos a seguir, abordar algumas delas.
Quando o Open Banking estiver em pleno funcionamento, basta o consentimento do cliente para que seus dados sejam compartilhados entre instituições financeiras seguindo o princípio da reciprocidade. O perfil dos melhores clientes, hoje guardado a sete chaves pelos bancos, poderá ser acessado pela concorrência por meio do consentimento do próprio cliente. Seus hábitos, se costumam ter dinheiro disponível para aplicações, se pagam contas em dia, entre outras informações, podem ajudar a criar uma visão expandida e personalizada de cada cliente pela instituição financeira.
O Open Banking chega para promover ainda mais transparência e proporcionar ao consumidor uma melhor gestão dos seus recursos financeiros, auxiliando na obtenção das melhores ofertas de produtos e serviços financeiros de forma mais ágil, segura e inteiramente digital.
Hoje, a maioria dos produtos dos bancos é acessada e gerenciada por meio de seus próprios canais e, embora os clientes tenham produtos de várias instituições, as organizações têm visibilidade limitada entre elas. Além disso, os clientes têm dificuldade em consolidar e gerenciar sua vida financeira quando utiliza mais de uma instituição. Com a chegada do Open Banking, teremos, simultaneamente, a agregação de novos serviços e produtos, criando uma rede complexa de provedores que precisarão interagir entre si, não apenas para possibilitar a troca de dados, como também para responder às demandas cada vez mais exigentes dos clientes.
A Deloitte identificou, em sua Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2020, que a indústria financeira já vem se preparando para a chegada do Open Banking. Diante de um cenário em que canais digitais foram responsáveis por 63% das transações em 2019, e os investimentos aplicados em tecnologia no mesmo ano alcançaram R$ 24,6 bilhões – o desenvolvimento das APIs externas, ou seja, as APIs que são abertas ao mercado, estão caminhando em ritmo muito acelerado.
São as APIs [Application Programming Interface, ou “interfaces de programação de aplicações”] que viabilizarão tecnicamente a troca de informações entre as instituições e que proporcionarão aos clientes a possibilidade de consolidação de suas contas, investimentos e produtos, tanto do próprio banco, como de outras instituições. Novas funcionalidades de agregação de contas permitirão que o cliente visualize, no aplicativo da instituição financeira, todas as contas, investimentos, serviços e produtos contratados que tenha, tanto do próprio banco como em outras instituições.
A infraestrutura tecnológica, os modelos de compartilhamento de dados e as próprias diretrizes regulatórias são habilitadores do Open Banking, em que os novos modelos de negócio facilitados por essas capacidades levarão a mudanças sensíveis na dinâmica do mercado. Não há dúvidas de que a indústria de serviços financeiros está se movendo para um cenário mais aberto e distribuído, e a criação de novos ecossistemas com parceiros estratégicos para entrega de novos serviços e soluções aos clientes finais, será fator primordial na competitividade.
O Open Banking ressalta a necessidade de as instituições financeiras expandirem seus modelos para ecossistemas, inclusive com eventuais concorrentes, bigtechs, fintechs e empresas de outros setores a fim de manterem sua competitividade e alavancarem novas fontes de receita. Os bancos devem agora direcionar parcerias de forma mais estratégica para sustentar os negócios buscando uma posição de destaque no mercado.
A disrupção causada pelo Open Banking deve incentivar ainda mais a entrada de novos players não tradicionais – inclusive de outros segmentos do mercado –, o que aumentará a competição no setor e a pressão por preço. Outro aspecto competitivo, importante nesse movimento, será a capacidade das instituições financeiras de analisar os dados compartilhados e gerar ações contundentes que agreguem valor à experiência e à jornada de seus clientes.
Ao mesmo tempo em que uma instituição financeira compartilha seus dados, ela também tem a oportunidade de agregar mais informações, criando uma visão expandida dos clientes, ou seja, além do universo que ela já domina hoje. A partir desse universo agregado de informações e utilizando os dados para ações de relacionamento, como retenção e prospecção, os bancos podem implantar diversas ‘alavancas de valor’ através do Open Banking.
Independentemente de seu porte, as instituições financeiras devem fomentar e participar ativamente do momento disruptivo em que nos encontramos. Ao adotar essa postura, essas organizações se colocam em uma posição de vanguarda, liderando o movimento de transformação do setor.
*Sérgio Biagini é sócio-líder da Indústria de Serviços Financeiros da Deloitte.
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