Como Luiz Barsi, Mark Mobius e Warren Buffett começaram a investir e as lições por trás de suas trajetórias
novembro 14, 2020
SÃO PAULO – Manter os ativos na carteira em momentos de grande volatilidade, preservando o foco em objetivos de longo prazo e com estratégias bem definidas são algumas das características que definem grandes investidores que se provaram vencedores ao longo das últimas décadas.
Seja escolhendo ações boas pagadoras de dividendos, buscando estratégias em regiões pouco exploradas ou comprando ações descontadas de empresas mal avaliadas, mas com futuros promissores, personagens como Luiz Barsi, Mark Mobius e Warren Buffett conquistaram não só a fortuna, como o reconhecimento do mercado financeiro.
E embora os três tenham alcançado fama e riqueza pelos investimentos de sucesso, o início da trajetória de cada um no mercado não poderia ter sido mais diferente.
Originalmente da área da comunicação, o viajante Mobius se interessou pelo universo dos investimentos apenas depois de formado, quando decidiu trabalhar em uma empresa de análise em Hong Kong.
Barsi, que estudou contabilidade, ciências atuariais, direito e economia, ingressou no mundo financeiro aos 30 anos, quando desenvolveu seu método de “carteira de ações previdenciária”.
Já Buffett, cuja história foi descrita na literatura, em documentários e diversas entrevistas, cresceu com acesso aos livros do pai, que era corretor de ações, e, aos 11 anos de idade, já tinha o próprio portfólio.
Conhecer como cada um desses megainvestidores começaram a investir e suas estratégias para escolher ativos pode ajudar quem está começando a desvendar o mercado financeiro, seja com recomendações do que fazer ou do que evitar.
Confira a seguir a trajetória de Barsi, Mobius e Buffett e seus principais conselhos para os novos investidores:
Os dois primeiros concederam entrevista ao InfoMoney. No caso do “Oráculo de Omaha”, o documentário “Como ser Warren Buffett” foi utilizado para embasar a matéria.
Luiz Barsi
Um dos mais bem-sucedidos investidores individuais do Brasil, com uma fortuna autodeclarada em aproximadamente R$ 2,2 bilhões em ações, Luiz Barsi não iniciou sua carreira de mais de 50 anos no mercado financeiro já no topo.
Filho de imigrantes espanhóis, começou a trabalhar aos nove anos de idade, engraxando sapatos e vendendo balas na porta dos cinemas para ajudar nas finanças de casa.
Aos 33 anos, fez uma análise sobre o sistema previdenciário brasileiro e concluiu que, para o longo prazo, seria preferível ser parceiro de um grande projeto a ser dono de um pequeno empreendimento.
“Foi então que comecei a buscar grandes empresas que pagassem bons dividendos para investir e compor minha carteira de ações”, afirmou, em ao InfoMoney.
Entre os primeiros investimentos, Barsi recorda os papéis de companhias como Aços Villares, Banco do Brasil, CSN e Petrobras, a última quando pagou R$ 0,40 o papel. Atualmente, as ações da petroleira são negociadas na casa dos R$ 20.
“Eu acumulava dinheiro e, quando a oportunidade de mercado se pronunciava, comprava com mais intensidade, a preços baratos, para construir um patrimônio”, lembra.
A estratégia, que permeia até hoje, consiste em uma análise fundamentalista de cada empresa, avaliando o setor de atividade e seu grau de perenidade, isto é, se em caso de crises teria como se manter na economia. É o caso de companhias dos setores de energia elétrica, financeiro e telecomunicações, diz.
Do portfólio criado há mais de 40 anos, o “rei dos dividendos” afirma que a grande maioria das ações permanece na carteira. “Na Klabin eu paguei R$ 0,19 e hoje custa R$ 24; Unipar comprei a R$ 0,25 e hoje custa R$ 36”, recorda.
O importante, segundo ele, é que o investidor faça aplicações financeiras com foco no médio e no longo prazo, além de reinvestir os ganhos obtidos.
“Seu patrimônio evolui na razão direta em que você reinveste os ganhos que têm. O importante reaplicar. Não tudo, mas pelo menos uma parte, para formar um patrimônio cada vez maior e uma perspectiva cada vez mais acentuada de receber proventos”, diz.
No entanto, com a volatilidade dos mercados e seus eventos imprevisíveis, a vida no mercado financeiro não são apenas flores. “Não dá para pensar que acertei todas na vida”, brinca Barsi.
Entre alguns percalços ao longo dos anos, o investidor de longa data recorda a compra de ações, no fim da década de 1980, do Banco Nacional, do Banco Econômico e do Banco Progresso, instituições financeiras que foram à falência e levaram à perda dos recursos investidos pelo investidor.
“Essas perdas não me aleijaram. Na época, foram passíveis de serem suportadas, porque o restante da carteira continuava gerando bons resultados”, conta.
Com os tropeços, Barsi manteve seu foco e passou a determinar critérios mais rigorosos ao comprar novos ativos, de forma a reduzir ao máximo a probabilidade de erro.
Mark Mobius
Formado na área de comunicação pela Universidade de Boston, nos EUA, Mark Mobius, ex-gestor da Franklin Templeton e considerado o guru dos mercados emergentes, fez seu primeiro investimento quando estudou economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Os papéis comprados foram da empresa de comunicações COMSAT Corporation, tema de sua tese de doutorado, em 1964.
“Foram as minhas primeiras ações e elas tiveram um bom desempenho, então deu para testar como era investir na Bolsa”, contou, em entrevista feita por telefone ao InfoMoney.
O gosto pelo mercado financeiro, contudo, surgiu apenas mais tarde, quando trabalhou em uma empresa de research em Hong Kong.
“Um cliente pediu que eu estudasse o mercado de ações do país. Na época, eu não sabia nada sobre análise fundamentalista, mas fiz uma análise técnica do mercado e descobri que estava para se formar o padrão ‘Ombro-Cabeça-Ombro’”, lembra.
De olho na indicação de queda brusca dos preços, Mobius diz ter avisado o cliente a tempo de evitar o prejuízo.
O histórico no campo das comunicações foi fundamental, segundo ele, para aprimorar a criatividade e o pensamento analítico em meio a tantos algoritmos e computadores.
Questionado sobre personagens que o inspiraram no mercado financeiro, Mobius conta que só foi ter um quando conheceu John Templeton. “Depois que o conheci e fui contratado por sua empresa, passei a aprender muito com ele.”
Ao olhar para trás, contudo, o gestor, atualmente na própria casa, a Mobius Capital Partners, reconhece que deveria ter distribuído melhor os investimentos em seu início no mercado. “Comprar apenas uma ou duas ações foi um erro, é preciso diversificar e não ficar concentrado em uma única empresa ou um só país ou setor”, afirmou.
Aos novos investidores, ele recomenda uma pesquisa prévia antes de cada investimento, focando não apenas no balanço da companhia, como no conhecimento das pessoas por trás da empresa.
“Isso é algo que aprendi ao longo dos anos. Números são apenas uma parte do investimento, você realmente precisa prestar atenção em quem está administrando a companhia.”
Warren Buffett
Assim como Barsi, o megainvestidor americano Warren Buffett, com um patrimônio estimado pela revista Forbes em US$ 86 bilhões, começou desde cedo a juntar moedinhas com a venda de jornais, balas e refrigerante de porta em porta em Omaha, em Nebraska (EUA), onde nasceu e mora até hoje.
No documentário “Como ser Warren Buffett“, ele conta que, desde os sete anos, já lia os livros da biblioteca do pai, que trabalhou como corretor de ações e depois fundou sua empresa de investimentos. Com a inspiração dentro de casa, o jovem Buffett comprou o primeiro lote de ações aos 11 anos, da petroleira Cities Services, por US$ 38 cada.
O investidor mirim avaliou, na época, que os papéis estavam descontados e aproveitou para aplicar de olho em ganhos para si e sua irmã Doris. Para sua infelicidade, a ação perdeu quase um terço do valor poucas semanas depois da aquisição.
Apesar de Doris insistir para que o irmão vendesse os papéis e não perdesse todo o dinheiro, Buffett se agarrou aos ativos até que voltassem aos US$ 40, quando vendeu os papéis com um lucro de US$ 2 cada. Embolsado o dinheiro, Buffett viu as ações da companhia dispararem para cerca de US$ 200.
Na Columbia University, Buffett conheceu Benjamin Graham, seu professor e mentor, que o ensinou os fundamentos do value investing, estratégia de investimento que aposta no potencial de valor das empresas a longo prazo.
Com esse aprendizado, ele começou, em 1962, a comprar ações da Berkshire Hathaway, que na época atuava no ramo de têxteis e, segundo ele, era uma empresa barata em um negócio ruim. Três anos depois, adquiriu papéis suficientes para controlar a companhia e mudar toda a gestão, que não o agradava.
Com Graham, Buffett também aprendeu duas regras de investimento. A primeira: nunca perca dinheiro. A segunda: nunca se esqueça da primeira regra.
Aos novos investidores, a recomendação de Buffett é ter sempre foco nos objetivos de longo prazo e buscar boas empresas dentro do seu próprio círculo de competência.
“É preferível ficar em empresas que você conheça, sem se preocupar com o que tem lá fora; o importante é definir o seu jogo”, afirmou no documentário “Como ser Warren Buffett”.
A importância de selecionar boas empresas também é uma filosofia propagada pelo Oráculo de Omaha, que reforça que o investidor está comprando um nome, uma marca, um pedaço de uma companhia. “Leva-se anos para criar uma reputação e minutos para destruí-la.”
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