Com Selic a 7,75% e sinalização de mais altas de juros, quais são as melhores alternativas para investir?

Com Selic a 7,75% e sinalização de mais altas de juros, quais são as melhores alternativas para investir?

outubro 27, 2021 Off Por JJ

(Gerd Altmann/Pixabay)

SÃO PAULO – A perda de confiança em torno da principal âncora fiscal do país, o teto de gastos, somada ao avanço acima do esperado da inflação medida pelo IPCA-15, exigiram uma postura mais agressiva do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou os juros básicos da economia em 1,5 ponto percentual nesta quarta-feira (27).

Com isso, a Selic agora é de 7,75% ao ano – esse foi o quinto aumento da taxa básica de juros neste ano. No anúncio, os dirigentes do Banco Central destacaram que “diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante”.

O Comitê ponderou ainda que “neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista”.

No documento, o Copom afirmou ainda que antevê outro ajuste de mesma magnitude para a próxima reunião, ou seja, de 1,5 ponto.

Entre os fatores elencados pelo colegiado para a piora no cenário estão os recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal. Segundo o comitê, isso acabou elevando “o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos”. “Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, destacaram os dirigentes.

De acordo com o último Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, as estimativas dos economistas eram de que a taxa básica encerraria 2021 em 8,75% ao ano. Para 2022, as projeções dos analistas apontam para juros de 9,50% ao ano.

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O cenário de maior aperto monetário e de pressões inflacionárias que só devem se dissipar a partir do ano que vem faz com que as sugestões de investimentos na renda fixa destaquem os papéis pós-fixados e atrelados à inflação, especialmente em títulos públicos e em ativos de crédito privado com isenção de imposto.

Há oportunidades também em títulos prefixados, segundo gestores de fortunas, que estão oferecendo retornos de 12% a 14% ao ano, o que garante uma rentabilidade de pelo menos 1% ao mês.

Dentro da renda variável, especialistas consultados pelo InfoMoney afirmam que mantiveram a posição em Bolsa, apesar da forte turbulência dos últimos dias. E alguns saíram às compras, com os descontos vistos nos preços de algumas ações.

Fundos multimercados seguem no radar, com preferência para quantitativos e fundos com estratégias complementares, de acordo com gestores. Destaque também para fundos imobiliários, nos quais alguns casas aumentaram a posição, diante da queda recente do valor das cotas.

Renda fixa privada

Quando o assunto é renda fixa, o aumento das taxas de juros levou a Sonata Gestão de Patrimônio a fazer mudanças nas alocações sugeridas aos clientes. Fundos multimercados, por exemplo, perderam o lugar diante do crescimento da parcela destinada à renda fixa, especialmente privada.

Patrícia Palomo, sócia da Sonata, explica que as empresas estão aproveitando a maior demanda por renda fixa para melhorar o perfil de suas dívidas e alongar os prazos. Ela destaca que há várias companhias AAA – com melhor risco de classificação de crédito – que recentemente fizeram ofertas de debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs).

Na hora de selecionar, a especialista afirma que empresas voltadas para alimentação, combustíveis, transmissão de energia e saneamento são as preferidas. A razão é que algumas delas seriam beneficiadas em um cenário de juros mais altos e inflação elevada, além de investimentos maiores feitos no segmento.

Patricia, no entanto, pondera que as transmissoras de energia podem ser afetadas por um eventual racionamento e crise mais severa de energia, mas que esse não é o cenário base por enquanto. “Há várias empresas oferecendo títulos que pagam IPCA mais 5% ao ano, IPCA mais 6% ao ano, com isenção de imposto de renda, no caso de CRIs, CRAs e debêntures incentivadas”.

Como não há a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o ideal é escolher com cuidado, segundo a sócia da Sonata. Além disso, é preciso atentar aos prazos porque o mercado secundário é menos líquido do que o de títulos públicos, caso o investidor queira vender o papel antes do vencimento.

Dan Kawa, CIO da Tag Investimentos, também vê oportunidades interessantes em títulos atrelados à inflação e pós-fixados. No entanto, ele prefere ser mais cauteloso para entrar. “É muito difícil acertar um ponto de inflexão, ainda mais em um cenário desafiador. Estamos em dúvida se o carrego [os juros] não pode ser maior. Por isso, estamos fazendo em fases, aplicando aos poucos”, pontua.

Ao falar sobre prazos, Kawa diz que os retornos nos pós-fixados estão mais atrativos entre os papéis com vencimento em até quatro anos. Já entre os títulos atrelados à inflação, há boa relação risco-retorno para prazos a partir de três anos.

Renda fixa pública

Embora acredite que os juros estejam atrativos na renda fixa, a preferência de Carlos Belchior, estrategista-chefe da G5 Partners, é por títulos públicos – especialmente os atrelados à inflação (Tesouro IPCA+).

Belchior pontua que a diferença de taxas oferecidas pelos papéis do governo e emissores privados vem diminuindo ou estabilizando, com o aumento da oferta.

“A atratividade no crédito privado não está tão interessante ao nosso ver. Temos aumentado a posição em NTN-Bs [títulos públicos atrelados à inflação] para vender assim que as taxas oferecidas por papéis de crédito privado ficarem maiores”, destaca.

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Ao olhar para os títulos públicos, o estrategista-chefe diz que os papéis com vencimento até 2030 são os prediletos da gestora neste momento. “Mesmo se errar e os juros reais forem pra 6,25%, com um ano carregando aquele título, você fica numa situação razoável”.

Na renda fixa prefixada, Belchior diz que vê oportunidades em títulos de prazo curto, mas que a posição nesses papéis deve ser menor do que em pós-fixados. “A diferença de juros entre o 2025 e o 2030 não está tão grande”, destaca.

No Tesouro Direto, por exemplo, o Tesouro Prefixado 2024 oferecia retorno de 12,12% na manhã desta quarta-feira (27), enquanto o papel com vencimento em 2031 tinha uma taxa de 11,97%, no mesmo horário. Ou seja, o título de menor prazo apresentava juros mais altos do que o de maior vencimento.

Fundos multimercados

Embora os fundos multimercados tenham maior dificuldade para entregar resultados em um cenário de alta de juros, os gestores ponderam que seguem com posições – ainda que menores.

Patrícia, da Sonata, reforça que tem optado por fundos com estratégias complementares. “Temos alguns que são focados em estratégias macro. Temos gestores que estão posicionados pensando em um cenário em que tudo vai piorar e há outros que estão posicionados em um cenário completamente diferente, bem mais positivo”.

Kawa, da Tag Investimentos, também diz que prioriza a diversificação. Ele conta que possui posição em fundos quantitativos, fundos de retorno absoluto – que podem investir apostando na alta ou na queda de um papel e mudar rapidamente a estratégia, além de fundos multiativos com operação em todo o mundo.

Quem também manteve uma parte da alocação em multimercados é Alessandra Lara, head de produtos no escritório de agentes autônomos The Wall Investimentos. Para isso, a especialista diz que buscou fundos que investem em BDRs (recibos de ações estrangeiras negociados na B3) e que operam no exterior.

“O cenário de juros mais alto pode até ser difícil para alguns gestores, mas quem ‘saiu da casinha’, com posições fora, navegou melhor. Demos preferência para essas casas”, diz Alessandra.

Bolsa brasileira

Ao falar sobre alocação em Bolsa, os gestores pontuam que mantiveram a alocação ou que a posição foi reduzida de forma orgânica, quando o Ibovespa recuou. O especialista da Tag Investimentos, por exemplo, diz que está neutro em Bolsa brasileira, mas que não vai vender a esses patamares porque os preços estão bastante descontados.

A queda, no entanto, foi vista como oportunidade para Alexandre Steinberg e Eduardo Cortez, sócios-fundadores da gestora Skade Capital. Cortez explica que o olhar foi mais centrado em empresas com receita dolarizada, com menor dependência do ciclo econômico doméstico. “Fomos atrás de empresas que já tinham fundamentos, em que a piora no cenário só abriu uma chance para investir de um jeito mais barato”.

Ele acrescenta que investiu em seguradoras, que são bastante beneficiadas pela alta dos juros, assim como montou posições em algumas commodities agrícolas e aumentou a alocação em ações ligadas ao petróleo.

A razão, explica Cortez, é que o preço do petróleo não deve ceder, diante da crise energética que vive a Europa e com medidas anunciadas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados, que mantiveram acordo para elevar a produção da commodity para 400 mil barris por dia (bpd) em novembro.

No setor de petróleo, por exemplo, os sócios da Skade citam nomes como 3R (RRRP3) e Enauta (ENAT3), sendo que a segunda ação é a preferida. Cortez afirma que a companhia tem bastante caixa e que isso pode ajudá-la neste momento a adquirir novos campos a preços mais atrativos e a melhorar sistemas internos.

Quem também aproveitou o momento para ir às compras foi a Sonata Gestão de Patrimônio. Patrícia conta que muito da reprecificação que ocorreu na Bolsa é natural porque houve uma mudança no patamar de juros, saindo de 2% em janeiro para algo perto de 7% agora, o que encarece o custo do capital e aumenta a taxa de desconto, diminuindo o preço justo dos papéis.

Embora o curto prazo seja de forte volatilidade, a executiva está otimista com o resultado das empresas, porque vários estão vindo bons. “Temos buscado garimpar. Se medirmos no mês, os índices de empresas de consumo e de setor imobiliário, por exemplo, caíram bastante. Se olharmos as empresas de utilities [ligadas à concessões públicas], não caíram muito. Estamos de olho no que mais foi penalizado”.

Fundos imobiliários

Ainda que os juros mais elevados sejam ruins para os fundos imobiliários, Kawa afirma que aumentou marginalmente a alocação diante da rodada de queda nos preços das cotas.

A preferência, segundo ele, é por fundos de fundos. O executivo da Tag diz que há vários que estão cotados abaixo do valor patrimonial das cotas. Se calculada a relação entre o preço e o valor patrimonial (P/VPA), há opções em que o resultado é menor do que um, o que pode indicar que a cota está precificada abaixo do que seria considerado justo.

“Em um cenário mais hostil, eles são interessantes. Nós compramos fundos que investem em ativos de logística, lajes corporativas, que tem um bom mix de ativos”, aponta Kawa.

Poupança

A elevação da Selic faz com que uma parte dos investidores, ainda apegados à poupança, tenha esperança de obter retornos maiores. Embora os rendimentos de fato aumentem, eles seguem moderados e abaixo da inflação corrente. Na prática, o investidor continua a perder dinheiro ao deixar seus recursos aplicados na caderneta.

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No melhor dos cenários, com a Selic a 7,75% ao ano, um investimento de R$ 10 mil na poupança renderia 5,43% – ou R$ 543 – em um ano. Se o investidor destinasse o mesmo valor a um produto de renda fixa com retorno de 100% do CDI, teria um retorno de 6,39% no mesmo período, já considerando o desconto do Imposto de Renda. Se a rentabilidade prometida fosse maior, como 120% do CDI, o rendimento chegaria a 7,67% ao ano.

Confira simulações de retorno considerando quatro diferentes níveis da taxa Selic na tabela a seguir: