Candidatos de Bolsonaro estão perto de derrotas em grandes capitais
novembro 16, 2020
- por José Roberto Castro, especial para o InfoMoney
Os resultados preliminares indicam que o presidente Jair Bolsonaro terá muitas dificuldades em eleger, neste domingo (15), aliados nas principais cidades em que decidiu se envolver. O presidente apoiou diretamente candidatos em seis capitais e pode sair derrotado já em primeiro turno em quatro delas.
Os votos apurados até 21h20 de domingo mostram que os bolsonaristas em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Manaus dificilmente irão ao segundo turno. As principais esperanças do presidente nas capitais estão em Fortaleza e no Rio de Janeiro.
Antes mesmo do fim da votação, rivais de Bolsonaro já comentavam o desempenho fraco de seus candidatos neste primeiro turno. Ao votar no Rio de Janeiro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), disse que Bolsonaro está voltando “ao seu tamanho normal” nesta eleição. Durante o dia, o presidente da República apagou de suas redes sociais um vídeo postado no sábado em que pedia votos a aliados.
As prováveis derrotas
Na maior cidade do Brasil, Jair Bolsonaro escolheu Celso Russomanno, que liderou boa parte da disputa e depois se manteve em segundo lugar até as vésperas da votação. Nos últimos dias, o candidato Republicanos perdeu espaço rapidamente e aparece apenas como quarto colocado nas pesquisas de boca de urna.
Com 37% das urnas apuradas, o candidato bolsonarista tem cerca de 10% dos votos e já não é mais visto como um perigo pelo principal rival. O atual prefeito e líder das pesquisas Bruno Covas provocou o presidente ao dizer, à GloboNews, que não foi um bom negócio para Bolsonaro se envolver na disputa. “Ele só fez o candidato dele afundar”, disse à Folha de S.Paulo.
A candidata bolsonarista em Recife, Delegada Patrícia (Podemos), aparecia em quarto lugar com 13,78% dos votos e 37% das urnas apuradas – longe dos três candidatos que disputam duas vagas no segundo turno. Ela chegou a ser uma das convidadas de Bolsonaro em uma live e ouviu o presidente fazer um “apelo” aos eleitores da capital de Pernambuco. A disputa é liderada pelos candidatos de centro-esquerda Marília Arraes (PT), e João Campos (PSB), seguidos pelo ex-ministro da Educação Mendonça Filho.
Outro convidado de Bolsonaro em lives foi o candidato do PRTB em Belo Horizonte, Bruno Engler. Com apenas 12% das urnas apuradas, ele disputa o segundo lugar com a candidata Áurea Carolina (PSOL), mas ambos estão distantes do atual prefeito Alexandre Kalil (PSD), que segundo as pesquisas dos últimos dias pode se eleger em primeiro turno.
O terceiro candidato que esteve em uma live com Bolsonaro e que corre risco de amargar uma derrota neste domingo é Coronel Menezes (Patriota), em Manaus. Com 70% das urnas apuradas, ele é apenas o quinto colocado.
As disputas abertas
No Rio de Janeiro, consolidado na segunda posição, o atual prefeito Marcelo Crivella é uma das esperanças do bolsonarismo. Com 30% das urnas apuradas, ele tinha 21% dos votos válidos – uma vantagem de dez pontos para a terceira colocada e uma desvantagem 17 pontos para o líder Eduardo Paes (DEM).
Em Fortaleza, o bolsonarista Capitão Wagner (PROS) disputa a primeira posição com Sarto, candidato do PDT e de Ciro Gomes. Com metade das urnas apuradas, a distância entre os dois candidatos, que devem fazer o segundo turno, é de menos de dois pontos percentuais.
A construção dos apoios
Bolsonaro chegou à eleição municipal em uma situação inédita. É a primeira vez desde a redemocratização que um presidente da República não está filiado a um partido no momento da disputa pelas prefeituras.
Nem a falta de partido nem a pandemia impediram que o presidente escolhesse alguns nomes para “dar uma força”. Ao longo das últimas semanas, Jair Bolsonaro fez seguidas lives do Palácio da Alvorada em que apresentava santinhos de seus candidatos a prefeito e vereador, alguns deles tiveram a chance de participar pessoalmente. “Se você quer me fortalecer, fortaleça os nossos candidatos”, disse Bolsonaro em 9 de Novembro ao lado da candidata Delegada Patrícia, de Recife.
Sem legenda, Bolsonaro escolheu candidatos de diversos partidos. Em uma lista de 18 candidatos identificados pelo Infomoney como apoiados pelo presidente, a partir de declarações públicas, há dez partidos diferentes: Republicanos, PSD, PRTB, Podemos, Patriota, DEM, PSL, PROS, MDB e PL. O mais frequente é o Republicanos, partido de seu filho Carlos Bolsonaro e dos candidatos Marcelo Crivella e Celso Russomanno. “Se eu tivesse com um partido acertado comigo, infelizmente não foi possível ficar no meu partido, não teríamos problema hoje em dia, eu estaria fazendo campanha só para o meu partido”, disse durante uma live o presidente que deixou o PSL em 2019 e não conseguiu ainda viabilizar seu partido, que se chamaria Aliança pelo Brasil.
Durante as transmissões ao vivo em que promoveu seus candidatos, o presidente repetiu diversas vezes que não tinha como apoiar todos que o apoiaram em 2018, dando explicações aos bolsonaristas que ficaram de fora e dizendo que está recebendo “muita crítica mesmo”. “Eu não tenho como dar uma pequena força a todos vocês (…). Eu estou aqui discretamente dando uma força pra um candidato ou outro. E aqueles que porventura eu não estou citando o nome, me desculpe”.