Brasileiros vão às urnas na eleição presidencial mais equilibrada desde 2014
outubro 30, 2022Mais de 156 milhões de brasileiros estão aptos para irem às urnas neste domingo (30) para escolher quem comandará o país entre 2023 e 2026: se o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), será reconduzido ao cargo, ou se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornará ao Palácio do Planalto após 12 anos, para um terceiro mandato.
A disputa, marcada por polarização, fake news, violência, denúncias à Justiça Eleitoral e fatos inéditos, já é a eleição presidencial mais equilibrada desde 2014 — quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) derrotou Aécio Neves (PSDB) por menos de 3,5 milhões de votos (51,6% a 48,4%, uma diferença de 3,2 pontos percentuais).
As pesquisas eleitorais, que ficaram em xeque no primeiro turno devido a discrepâncias em relação aos resultados das urnas, têm apontado vantagem para Lula. Mas também mostraram que Bolsonaro encurtou a distância após o primeiro turno.
Os levantamentos divulgados no sábado (29) apontam Lula com 49% das intenções de voto, contra 45% de Bolsonaro (52% a 48% nos votos válidos), segundo o Datafolha, e 50% a 43% (54% a 46% nos votos válidos), segundo o Ipec. Em uma disputa tão apertada (e difícil de prever), a abstenção pode ser mais um fator a pesar sobre o resultado da eleição.
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Fatos inéditos da eleição
Para ser reeleito, Bolsonaro precisará conquistar um feito inédito na Nova República: reverter a derrota no primeiro turno. Desde a disputa entre Lula e o ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1989, nunca um candidato conseguiu tal feito.
Bolsonaro obteve 43,2% dos votos válidos no primeiro turno, contra 48,4% de Lula (quase 6,2 milhões de votos a menos). Esta também é a primeira vez desde a redemocratização que um presidente disputa a reeleição em desvantagem no segundo turno.
Caso perca para Lula, Bolsonaro também quebrará outra marca: nunca o candidato à reeleição ao Palácio do Planalto foi derrotado. Desde que a reeleição passou a valer para disputas presidenciais, FHC, Lula e Dilma foram reconduzidos ao cargo (em 98, 2006 e 2014, respectivamente).
Um estado chave para Bolsonaro tentar a virada é Minas Gerais, o “swing state” brasileiro, pois desde a redemocratização, sempre quem termina à frente em Minas Gerais vence a eleição presidencial (a mesma “coincidência” ocorre com o Amazonas).
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Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país, com 16,2 milhões de eleitores (atrás apenas de São Paulo, que tem 34,6 milhões), e Bolsonaro conta com o apoio do governador mineiro, Romeu Zema (Novo) — que se reelegeu no primeiro turno e fez campanha para o presidente no segundo.
Disputas estaduais
Além da eleição presidencial, em 12 estados haverá disputa para governador neste segundo turno. Quase 83 milhões de brasileiros (56% dos eleitores) escolherão também o chefe do Executivo estadual.
O PT, partido do ex-presidente Lula, foi o protagonista no 1º turno (conquistou 3 estados), à frente de União Brasil, MDB e PP (2 estados cada um). A sigla lidera também em número de disputas no segundo turno (4), empatado com União Brasil, PSDB e PL.
Em número de eleitores, o PT foi o 3º colocado. O partido venceu no Ceará, no Piauí e no Rio Grande do Norte (que juntos têm 11,9 milhões de eleitores), mas o Novo ganhou em Minas Gerais (2º maior colégio eleitoral do Brasil, com 16,3 milhões) e ficou à frente da sigla, assim como o PL (que ganhou no Rio de Janeiro, o 3º maior colégio com 12,8 milhões de eleitores).
Neste segundo turno estão em disputa 3 dos 5 maiores colégios eleitorais do Brasil (São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul), além de estados importantes como Pernambuco e Santa Catarina:
- São Paulo (maior colégio eleitoral do país): 34,6 milhões de eleitores
- Bahia (4º maior): 11,2 milhões
- Rio Grande do Sul (5º): 8,5 milhões
- Pernambuco (7º): 7 milhões
- Santa Catarina (10º): 5,4 milhões
Em alguns estados haverá enfrentamento direto entre candidatos a governador apoiados por Bolsonaro e Lula: Tarcísio de Freitas (Republicanos) contra Fernando Haddad (PT) em São Paulo; Jorginho Mello (PL) contra Décio Lima (PT) em Santa Catarina; e Wilson Lima (União Brasil) contra Eduardo Braga (MDB) no Amazonas.
Estratégia de Lula
A disputa mais acirrada desde 2014 tem sido marcada pela polarização entre os candidatos e por fake news distribuídas pelas campanhas, violência e denúncias à Justiça Eleitoral — o que inviabilizou qualquer chance de uma “terceira via” se tornar viável.
Lula disse logo após o primeiro turno que o segundo turno era “apenas uma prorrogação” e sinalizou que trabalharia pela ampliação de sua base de apoio. “Segundo turno é a chance de amadurecer a construção. É construir um arco de apoio antes de ganhar”.
Isso de fato ocorreu, pois o ex-presidente conseguiu o apoio dos candidatos Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que ficaram respectivamente em 3º e 4º lugares (Tebet inclusive foi bastante ativa na campanha, enquanto Ciro apenas seguiu a decisão do partido e “sumiu” no segundo turno).
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Também declarou apoio a Lula um amplo arco de políticos, como o ex-presidente FHC (PSDB); os ex-ministros e ex-presidenciáveis Henrique Meirelles (União Brasil) e Marina Silva (Rede); o senador José Serra (PSDB); e João Amoedo, fundador do Novo, que inclusive foi suspenso do partido por isso; além de juristas e do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa.
O petista ganhou o apoio também de nomes que tiveram papel de destaque na economia brasileira durante o governo FHC, como Armínio Fraga, Pedro Malan, Persio Arida e Edmar Bacha. Fraga foi presidente do Banco Central (BC), Malan foi ministro da Fazenda e Persio Arida é apontado como um dos “pais do Plano Real” — assim como Edmar Bacha.
Estratégia de Bolsonaro
Já Bolsonaro disse após o primeiro turno que aproveitaria as quatro semanas de campanha do segundo turno para mostrar as ações de sua gestão no enfrentamento à pandemia de Covid-19, no combate à inflação e na recuperação da economia brasileira. Ele também aproveitou para relembrar as denúncias de corrupção contra Lula e o PT, para aumentar a rejeição do seu adversário.
O presidente ganhou o apoio de políticos como o do ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil), que deixou seu governo acusando-o de tentar interferir na Polícia Federal, mas fez as pazes com ex-chefe e se elegeu senador pelo Paraná.
Também embarcaram na campanha de Bolsonaro governadores, como Rodrigo Garcia (PSDB-SP), Cláudio Castro (PL-RJ), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). No meio jurídico, recebeu apoio de Marco Aurélio Mello, ex-ministro do SF.
Bolsonaro até conseguiu diminuir sua rejeição e aumentar a de Lula, mas continuou mais impopular que o ex-presidente: segundo o Datafolha, a rejeição de Bolsonaro foi de 54% em 26 de maio; para 52% em 1º de outubro; e 50% na pesquisa divulgada na quinta-feira (27). Já a de Lula subiu de 33% para 40% na véspera do primeiro turno e agora está em 45%.
O presidente também conseguiu melhorar a avaliação do seu governo, mas ainda é mais reprovado do que aprovado. Sua gestão é avaliada como ruim ou péssima por 40% da população, como ótima ou boa por 36%, e como regular por 24%, segundo pesquisa Ipec da segunda-feira (24). Em 15 de agosto, esses percentuais eram de 43%, 29% e 26%, respectivamente.
Última semana de campanha
A última semana de campanha começou com o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), aliado de Bolsonaro, resistindo a uma ordem de prisão no domingo (23). Jefferson atirou com um fuzil e jogou granadas em policiais federais que foram prendê-lo em sua casa em Levy Gasparian (RJ).
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A agente Karina Oliveira e o delegado Marcelo Vilella foram feridos pelos estilhaços de granada arremessada. Horas após o ataque, o presidente buscou se distanciar do outrora aliado, chamando-o de bandido durante uma sabatina.
No dia seguinte à prisão de Jefferson, a campanha do presidente protocolou uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que emissoras de rádio veicularam menos inserções suas do que de seu adversário, violando norma estabelecida pela Justiça Eleitoral.
O presidente da corte, ministro Alexandre de Moraes, negou a ação, pediu investigação contra campanha de Bolsonaro por “possível cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno” e afirmou que “todo candidato de boa-fé sabe” que o tribunal não fiscaliza as inserções eleitorais.