Bancos esperam demora em socorro às empresas aéreas e montadoras
maio 5, 2020(Bloomberg) — Um plano para socorrer empresas do setor aéreo e de automóveis do Brasil por meio de empréstimos sindicalizados está emperrado com a crescente complicação nas negociações com os bancos comerciais e o banco de desenvolvimento BNDES, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
As empresas que discutem os empréstimos estão queimando caixa e enfrentando quedas recordes em suas receitas à medida que a pandemia de coronavírus se intensifica, mas não estão conseguindo um acordo em torno de preços ou garantias, disseram os banqueiros envolvidos nas negociações, pedindo para não serem identificados discutindo conversas privadas.
O BNDES está liderando os esforços para apoiar cadeias produtivas com empresas com faturamento de pelo menos R$ 300 milhões de setores selecionados, afirmou o presidente do banco, Gustavo Montezano, no mês passado, em uma videoconferência com executivos do Itaú Unibanco.
Ele está organizando empréstimos sindicalizados em parceria com bancos, incluindo os privados, para economizar dinheiro para o governo, disse ele. Os empréstimos não terão juros subsidiados, disse ele.
Até agora, os setores escolhidos para empréstimos são os de varejo “não-alimentar” e as empresas de automóveis, energia e companhias aéreas. Outras indústrias podem ser incluídas posteriormente, de acordo com Montezano.
As empresas negociadas na Bolsa local poderiam estruturar o empréstimo sindicalizado emitindo títulos conversíveis em ações, papéis que normalmente têm taxas de juros em média mais baixas, de acordo com Sergio Rial, presidente do Banco Santander Brasil. Isso daria aos credores a chance de participar do “upside” se as empresas se recuperarem, disse Rial em uma transmissão ao vivo em 15 de abril.
A Azul () e a Gol Linhas Aéreas Inteligentes () têm ações negociadas na Bolsa local, mas a Latam Airlines é negociada na Bolsa do Chile, dificultando a estruturação do empréstimo, disseram os banqueiros. As negociações estão paralisadas até no caso da Azul e da Gol, pois não há acordo em torno do preço das ações dos bônus conversíveis, de acordo com os banqueiros, que disseram que os atuais acionistas também estão reclamando da diluição de suas participações.
Rial disse durante a Live que o mercado deve definir o preço da ação para os bônus conversíveis, porque “qualquer tentativa de construir artificialismos de preços gera depois dúvidas na forma como eles foram estabelecidos”.
Os banqueiros também disseram que o governo deveria entrar com uma participação maior na ajuda de cerca de R$ 10 bilhões às companhias aéreas. Eles dizem que o resgate é justificado pelo tamanho do Brasil e pela importância estratégica do setor para o país, inclusive para o transporte de carga. As companhias aéreas também representam um grande risco de crédito para os bancos comerciais do país.
A posição do BNDES é de que os acionistas das empresas socorridas terão que fazer sacrifícios, incluindo nenhum pagamento de dividendos, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.
Um representante do BNDES não quis comentar.
O BNDES e os bancos privados ainda estão discutindo os termos da ajuda financeira, e a Gol espera obter detalhes em breve, disse Richard Lark, diretor financeiro da companhia aérea, em teleconferência com analistas e investidores na segunda-feira. O BNDES sinalizou que esperava ter um plano para apresentar até 15 de maio, embora não haja prazo “cravado”, de acordo com Paulo Kakinoff, presidente da Gol.
Kakinoff disse na teleconferência que, independentemente dos termos oferecidos, não é certo que a empresa usará as linhas de crédito.
A Latam está conversando com o BNDES desde o final de março e nenhuma proposta formal do banco foi apresentada até o momento, informou a empresa em comunicado por e-mail.
“A diluição dos acionistas, se for proposta, não deveria ser um problema desde que ela fique dentro de parâmetros aceitáveis e similares ao que já foi formalizado em outros países como os EUA”, disse a empresa.
A Azul disse que também não possui proposta formal do BNDES, mas está em “conversas frequentes” com o banco e outros órgãos do governo. “Acreditamos que conseguiremos chegar numa equação que funcionará para todos e protegerá dezenas de milhares de empregos e um serviço essencial para o nosso país”, disse a empresa em comunicado por e-mail.
Para o setor automotivo, os banqueiros disseram que estão se tornando mais céticos sobre as perspectivas de um empréstimo sindicalizado de até R$ 40 bilhões sugerido em negociações preliminares, disseram as pessoas. Muitas empresas automobilísticas já possuem seus próprios bancos e não mantêm fortes relacionamentos com os maiores bancos do Brasil. Elas também não têm ativos locais suficientes para fornecer garantias adequadas, disseram os banqueiros.
Alguns banqueiros citaram a necessidade de garantias de suas matrizes fora do país, incluindo uma estrutura de participação nos lucros em caso de recuperação, e isso é difícil de negociar, disseram os banqueiros. O BNDES propõe fornecer o dinheiro para o financiamento e distribuir o risco de crédito aos bancos comerciais.
O BNDES também está defendendo que os 26 fabricantes de automóveis de capital estrangeira precisariam usar o crédito para ajudar os fornecedores locais e oferecer garantias de suas matrizes.
No setor de energia, um empréstimo sindicalizado de R$ 17 bilhões em discussão é atraente para os bancos, pois seria pago pelos consumidores como uma porcentagem de suas contas de energia, disseram os banqueiros. Um modelo semelhante foi usado com sucesso para empréstimos de resgate em 2014 e 2015, quando um aumento no consumo e falta de chuva elevaram os preços.
Neste momento, só falta uma definição da agência reguladora do setor, a Aneel, sobre o tamanho da transação, uma vez que seu objetivo é reduzir os custos futuros para os consumidores.
Para as empresas do setor de varejo de produtos não-alimentícios, apenas algumas reuniões foram organizadas, disseram as pessoas, e as discussões estão em estágios muito iniciais.
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