Avanços da Pfizer e Eli Lilly trazem esperança de fim da pandemia
novembro 10, 2020
Quase um ano após o início da pandemia, o mundo recebeu duas boas notícias: a vacina desenvolvida pela Pfizer mostrou resultados “extraordinários” e a terapia de anticorpos da Eli Lilly conseguiu autorização de uso emergencial nos Estados Unidos.
Os dois avanços foram de certa forma ofuscados pela notícia de que o ensaio no estágio final de uma possível vacina chinesa foi interrompido no Brasil devido a um evento adverso grave, o primeiro revés desse tipo entre as vacinas em rápido desenvolvimento pelo país asiático.
Embora a reação dos mercados globais tenha permanecido extremamente positiva – o rali global injetou mais de US$ 1,8 trilhão ao valor do índice MSCI All Country World -, a realidade é que uma incerteza significativa permanece na corrida pela imunização.
A China já administrou suas vacinas – incluindo a da Sinovac Biotech, cujo estudo acabou de ser suspenso no Brasil – para centenas de milhares de pessoas sob um amplo programa de uso emergencial. A suspensão do estudo destaca os riscos de governos agirem com base em dados positivos iniciais para autorizarem vacinas sem um entendimento de longo prazo dos perfis de segurança desses medicamentos.
Os processos de desenvolvimento, que normalmente levam anos, foram encolhidos para meses, e especialistas alertam que o mundo pisa em território desconhecido com as vacinas contra a Covid-19.
Ainda assim, dados preliminares divulgados pela Pfizer foram tão inesperadamente positivos que superaram todas as ressalvas, o que levou investidores a migrarem de ativos vistos como portos seguros – como o iene e os títulos do Tesouro dos EUA – para opções mais expostas à recuperação econômica.
Com a pandemia de coronavírus aparentemente fora de controle nos EUA e em partes da Europa, a vacina da Pfizer e a tecnologia genética experimental que ela utiliza foram recebidas como uma salvação.
As 13 economias que já fecharam acordos de fornecimento com a Pfizer e sua parceira alemã BioNTech agora estão posicionadas de forma vantajosa. A Pfizer e a BioNTech disseram que devem conseguir produzir 1,3 bilhão de doses de da vacina – o suficiente para vacinar 650 milhões de pessoas – até o final de 2021. Estima-se que cerca de 50 milhões de doses estejam disponíveis em 2020.
Pelo menos quatro países também têm acordos com a Moderna, cuja vacina usa a mesma tecnologia experimental RNA mensageiro (mRNA) da Pfizer. A empresa deve divulgar dados preliminares em breve.
Os EUA e o Japão têm o maior número total de pedidos para ambas as vacinas mRNA – 200 milhões e 170 milhões, respectivamente – e até países em desenvolvimento como Peru e Equador têm encomendas para a vacina da Pfizer.
A FDA, agência que regula fármacos e alimentos nos EUA, aprovou a terapia de anticorpos da Eli Lilly para casos leves e moderados de Covid-19, outra arma no arsenal dos médicos para combater o coronavírus.
O foco agora está nos desafios significativos à frente, especialmente em como distribuir vacinas mRNA, devido à necessidade atípica de armazenamento refrigerado e transporte.
As vacinas devem ser armazenadas a temperaturas baixissímas de 70 graus Celsius negativos, instalações que nem mesmo muitos grandes hospitais possuem, sem mencionar países em desenvolvimento, onde a eletricidade é intermitente.
Vacinas de duas doses também são difíceis de administrar em populações que moram em lugares remotos ou precisam percorrer longas distâncias para chegar aos centros de vacinação.
As notícias da Pfizer “são muito encorajadoras, no entanto, não significarão, por si só, que seremos capazes de retomar a vida normal em breve”, disse Linda Selvey, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade de Queensland, na Austrália.
Ela disse que é importante ter várias vacinas disponíveis “para garantir que todas as pessoas no mundo estejam protegidas”.
A China já liberou o uso emergencial de vacinas desenvolvidas por três empresas domésticas, que foram aplicadas em centenas de milhares de pessoas. Já havia dúvidas se as farmacêuticas chinesas poderiam distribuir vacinas para tantas pessoas sem quaisquer eventos adversos graves, quando o estudo da Sinovac no Brasil foi suspenso devido a um incidente ocorrido em 29 de outubro.
Um pesquisador do Instituto Butantan, que tem parceria com a Sinovac para produzir a vacina no país, disse que um participante do ensaio havia morrido, mas que a morte não está relacionada à vacina. AstraZeneca e Johnson & Johnson também interromperam testes nos últimos meses para investigar eventos adversos graves antes de reiniciá-los.
“A questão-chave ainda está centrada no tempo”, disse Michael Kinch, especialista em vacinas da Universidade de Washington, em St. Louis. “Será fundamental monitorar a segurança e a eficácia nas próximas semanas e meses. No mínimo, aprendemos que precisamos olhar para o longo prazo.”