Autonomia do BC garante avanço mesmo com novos objetivos para política monetária, dizem economistas

Autonomia do BC garante avanço mesmo com novos objetivos para política monetária, dizem economistas

fevereiro 11, 2021 Off Por JJ

BRASÍLIA (Reuters) – A autonomia do Banco Central, que irá à sanção do presidente Jair Bolsonaro após mais de 30 anos em discussão no país, representa um avanço importante ao blindar a política monetária de interferências político-partidárias, dizem economistas.

A avaliação é que formalizar em lei uma autonomia que o BC já goza em boa medida na prática aumenta a confiança na autoridade monetária e representa um passo em direção às melhores práticas já adotadas por economias desenvolvidas.

“Evidências apontam que bancos centrais autônomos tendem a ter maior credibilidade e, por causa dessa credibilidade, o custo para se buscar a meta de inflação diminui”, diz Thomaz Sarquis, economista da Eleven Financial Research.

O projeto, aprovado na noite de quarta-feira na Câmara dos Deputados, fixa mandato de quatro anos para o presidente do BC, não coincidente com o mandato do presidente da República, e estabelece que sua exoneração por insuficiência de desempenho só pode acontecer se for submetida pelo Conselho Monetário Nacional ao presidente e depois aprovada pela maioria absoluta do Senado Federal.

A Câmara não promoveu alterações ao texto já aprovado no Senado.

Uma questão que gerou ruído durante a tramitação do projeto foi o fato de o Congresso ter introduzido mais metas para o BC no texto. Além de assegurar a estabilidade de preços e zelar pela estabilidade do sistema financeiro, o que já é missão do BC hoje, a legislação também irá prever agora como objetivos da autoridade monetária a suavização das flutuações do nível de atividade econômica e o fomento ao pleno emprego.

O texto, contudo, hierarquiza essas metas, explicitando que a estabilidade de preços é o “objetivo fundamental” da autarquia e que as demais devem ser perseguidas sem prejuízo desse objetivo principal.

“Essa fórmula em que você coloca a estabilidade de preços em primeiro patamar e atribui outros objetivos secundários não é muito diferente daquela adotada pelo Banco Central Europeu”, disse o economista-chefe do Itaú e ex-diretor do BC, Mário Mesquita, em conversa recente com jornalistas.

“É uma fórmula aceitável para o caso brasileiro. Talvez tivesse sido melhor você ter só focado na estabilidade de preços e na estabilidade financeira? Sim, mas entendo o processo legislativo como tentativa de agregar opiniões. Considero que é um avanço.”

Luiz Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, diz considerar “justo” o estabelecimento da mais metas e ressalta que os pesos dos objetivos são “totalmente assimétricos”.

“Nos Estados Unidos, você tem a meta de inflação e a busca do pleno emprego. Qual é o pleno emprego? Alguém sabe? Nunca atrapalhou o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) em fazer sua política monetária, como acho que não vai atrapalhar em nada o Banco Central a fazer a sua política.”

Já Sarquis defende que, antes de fixar mais objetivos para o BC, “primeiro a gente deve consolidar a instituição de controle inflacionário, conforme os demais países realizaram”.

“Uma vez que isso se provar concreto, nesse contexto é bastante interessante ter um mandato dual, mas precisaria de um tempo para validar e comprovar que nosso Banco Central é uma instituição capaz de manter a inflação controlada, com credibilidade”, diz.

Aprovada a nova legislação, os mandatos dos oito diretores do BC também passarão a ser escalonados. O modelo é diferente do que vigora atualmente, quando cada presidente que assume nomeia o presidente do autarquia e os diretores –os nomes já precisam passar pelo crivo do Senado.

O BC, que hoje é uma autarquia vinculada ao Ministério da Economia, deixará de ter essa vinculação.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que o novo modelo evitará o risco de ingerência política como a que ele aponta ter sido sofrida pela gestão de Alexandre Tombini, à frente do BC de 2011 a 2016 sob o governo da presidente Dilma Rousseff.

“O Banco Central, com essa autonomia, fortalece a instituição, ganha ainda mais credibilidade e dá mais estabilidade e previsibilidade para a gestão da política monetária”, afirma Agostini.

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