As lições de Benchimol e Luiza Trajano para superar a crise: transformação digital e fortalecimento da cultura

As lições de Benchimol e Luiza Trajano para superar a crise: transformação digital e fortalecimento da cultura

junho 5, 2020 Off Por JJ

Guilherme Benchimol, CEO da XP Inc. (foto: Zeca Caldeira)

 

SÃO PAULO – “A epidemia deixou evidente que não tem como não ser digital. Se você ainda não é, vai ter que ser. A cada crise que passamos fui descobrindo que precisamos ser antifrágeis, no sentindo de que precisamos montar um negócio que cada vez mais sobreviva a qualquer tipo de cenário. Os clientes querem os melhores produtos, com preço baixo e o mais rápido possível”, afirmou Guilherme Benchimol, fundador e CEO da XP Inc.

Na noite desta quinta-feira (4), ele e Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, participaram de uma conversa durante o evento Connections, da Monte Bravo Investimentos, escritório de agentes autônomos filiados à XP Inc.

Trajano também ressaltou a importância de ser digital em meio à crise. “O digital é uma cultura da experimentação. Tenta, não deu certo? Muda rápido e se acertou multiplica. A inovação e o [bom] atendimento são as únicas coisas que vão diferenciar o negócio. E não tem como inovar sem o digital”.

Par ela, manter o foco nas vendas sempre, sem se distrair dessa meta quando o negócio começa a crescer é crucial para a empresa deslanchar. “Para o empreendedor crescer ele precisa descentralizar e ter foco. E foco na venda que é a gasolina do negócio. Quando a venda acontece tudo dá certo. Agora, se o cliente tá mal servido, é outro problema. O dia em que eu não receber uma reclamação de cliente, aí saberei que a empresa está bem”, diz Trajano.

A importância da cultura na crise

Benchimol conta que quem é o empreendedor que está começando nem sempre se preocupa com a cultura e tá mais preocupado em sobreviver e vender, mas ele ressaltou quatro pontos que devem ser levados em consideração:

  • Quanto antes o empreendedor entender que tão importante quanto atingir as metas quantitativas é atingi-las com a cultura da empresa, melhor;
  • Deixe claro para quem estiver entrando qual é a cultura e quem é você para que não haja quebra de expectativas e para você atrair perfis que vão caminhar juntos;
  • A cultura é a graxa que faz com que todas as engrenagens se encaixem: seja flexível e esteja disposto a aprender e mudar de ideia;
  • Essa cultura forte ajuda a atravessar crises se você cuidar dela a longo prazo de forma meritocrática;

Economia

Questionado por Luiza sobre como melhorar a imagem do Brasil lá fora, Benchimol disse que a sociedade está se empoderando durante a crise e empreendendo mais, o que deve ser visto com bons olhos pelo investidor estrangeiro.

“O país fica mais forte se é a sociedade que puxa o crescimento. Mas é difícil empoderar a sociedade com juros tão elevados. Desde o Plano Real o Brasil teve juros de mais de 13% ao ano em média. Quem vai ter coragem de sair da poupança e tomar risco? Isso sem contar as burocracias. Mas a gente vem tentando administrar melhor as contas públicas e podemos terminar o ano com juros de 2%”, afirma o CEO.

Ele detalha como a redução dos juros pode mudar a mentalidade dos brasileiros. “Uma pessoa que tinha R$ 500 mil guardado com juros de 13% ao ano, ganhava R$ 65 mil por ano sem risco e com alta liquidez. Essa renda no fim deste ano pode cair 85% e esse ganho passará a ser de R$ 10 mil. E isso vai obrigar a pessoa a tomar risco, pensar em empreender, investir diferente e começa a ser uma transformação”, diz.

Mulheres

A presença das mulheres no mercado também foi pauta da conversa. Luiza Trajano disse que hoje apenas 7% dos conselhos de empresas são formados por mulheres e defendeu iniciativas para ampliar a presença feminina em posições de liderança. “Eu sou a favor de cotas, é um processo transitório, mas necessário para eliminar a desigualdade. Como eu digo na empresa, para os meus diretores, mulher ganhar mais que homem é uma questão de caneta.”

Ela também reforçou que o avanço passa pela mudança de posturas, tanto das empresas quanto das próprias mulheres. “Para as mulheres, eu digo: enquanto vocês não trabalharem a culpa, de ganhar bem, de crescer, não vai mudar. E para as empresas eu falo: sejam inteligentes, toda vez que eu indico uma mulher para alguma posição e o conselho fala sim, o negócio dá um salto, porque são elas que decidem tudo hoje.”

E o futuro?

Ao ser questionada sobre o futuro da empresa, Luiza disse que segue acreditando no poder das lojas físicas. “Nós abrimos 150 lojas físicas no ano passado, se eu não acreditasse no modelo eu não abriria. E nós vamos continuar, vamos abrir loja em Brasília neste ano, por exemplo. O Brasil é grande, as pessoas gostam do calor humano e quando eu abro uma loja física, eu vendo muito mais na internet”, diz.

Ela ponderou, no entanto, que o modelo vai se reinventar e as lojas devem passar a funcionar também como um ponto de encontro e de socialização, por isso devem se preocupar mais com a experiência do cliente. “A loja tem que ter um pãozinho de queijo, um cheiro, tem que ser um parque de diversão para o cliente”, comenta.

Na mesma linha, ao responder uma pergunta sobre a decisão de manter o home office para todos os funcionários da XP até dezembro, Benchimol disse que o escritório deve passar a ser visto muito mais como um lugar que preza pela experiência dos funcionários.

“Após a pandemia, nós devemos ter um meio do caminho entre o que era antes e o que temos hoje. Pelo que converso com funcionários e vejo em pesquisas, a vida como era antes tinha o calor humano, contato, mas também era carregada de muita ineficiência. Na XP, as pessoas gastam em média 45 minutos em cada perna para chegar ao trabalho e voltar para casa e tinha muita interrupção. Tem coisas boas e ruins, então acho que a gente vai ter um lugar para se encontrar, fazer reuniões importantes, mas não uma exigência de estar lá das 9h às 18h todo dia”, diz Benchimol.

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