Apple, Amazon, Facebook e Twitter perdem juntos US$ 258,5 bi na sessão após resultados – mas questão vai além dos balanços
outubro 30, 2020
SÃO PAULO – A sessão desta sexta-feira (30) foi de forte queda para os principais índices americanos. O Dow Jones recuou 0,59%, para 26.501,60 pontos, o S&P 500 perdeu 1,21%, para 3.269,96 pontos, e o Nasdaq teve queda de 2,45%, para 10.911,59 pontos na sessão desta sexta-feira.
Com isso, Wall Street registrou a pior semana desde o “sell-off” de março em meio a fortes baixas de papéis de grandes techs americanas, um aumento recorde em casos de coronavírus e diante do nervosismo diante das eleições presidenciais nos EUA.
Na noite da última quinta-feira, Apple, Amazon, Alphabet (dona do Google), Facebook e Twitter divulgaram os seus resultados trimestrais. Nesta sessão pós-balanços, a Apple viu as suas ações caírem 5,60%, a US$ 108,86, a Amazon teve fortes perdas de 5,52%, a US$ 3.033,68, o Facebook teve perdas de 6,31%, a US$ 263,11, enquanto o Twitter teve uma impressionante baixa de 21,11%, a US$ 41,36.
Com isso, a Apple perdeu US$ 110,48 bilhões de valor de mercado, para R$ 1,862 trilhão, enquanto a Amazon perdeu US$ 88,8 bilhões (indo a US$ 1,52 trilhão). O Facebook perdeu US$ 50 bilhões, totalizando o valor de mercado de US$ 749,6 bilhões. Já o Twitter, com a queda bem mais forte, perdeu US$ 8,75 bilhões, indo a US$ 32,7 bilhões de valor de mercado. Juntas, as quatro companhias perderam US$ 258,54 bilhões.
A exceção ficou com a Alphabet, que teve alta de 3,43%, a US$ 1.621,01, e ganhou US$ 36,57 bilhões em valor de mercado, para US$ 1,1 trilhão. Nesta semana, mais precisamente na última terça-feira (27), também foram divulgados os dados da Microsoft, cujas ações tiveram baixa de 1,10%, a US$ 202,47 nesta sessão.
Apesar dos resultados considerados positivos para Amazon e Facebook, as suas ações caíram forte na sessão em Wall Street; a Amazon previu salto nos custos relacionados à Covid-19, enquanto o Facebook alertou para um 2021 mais difícil, o que impacta as ações das companhias.
Já a Apple Inc viu seus papéis registrarem fortes perdas após a companhia informar a maior queda nas vendas trimestrais do iPhone em dois anos devido ao lançamento tardio dos novos telefones 5G. O Twitter, por sua vez, decepcionou com o baixo crescimento na base de usuários.
Já a Alphabet, dona do Google, superou as estimativas para vendas trimestrais já que as empresas retomaram os anúncios e viu as suas ações subirem.
“Os resultados das techs bateram as estimativas, ‘mas o mercado é muito exigente e esperava guidances ainda melhores. Por essa razão, todas registraram quedas (com exceção da dona do Google), pois os investidores tinham grandes expectativas”, explicaram, em nota, os analistas do Bankinter.
A semana foi marcada pela divulgação de resultados de grandes empresas. Conforme destacam Guilherme Giserman, Vinicius Araujo e Gustavo Senday, analistas internacionais da XP Investimentos, quase 50% do S&P 500 apresentou resultados, com o peso puxado justamente pelas FAAMGs – Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e Google -, que sozinhas respondem por 23% do valor de mercado do índice.
“Aliás, é a primeira vez que se atinge tal concentração; durante a bolha pontocom de 2000 a relação das top 5 chegou a uma máxima de 18%”, destacam os analistas.
Até o final desta sexta, 75% das empresas do mercado americano terão divulgado resultados, dando uma boa ideia de como se comportou o consumidor durante este trimestre de reabertura econômica parcial, avaliam os analistas.
Cerca de 270 das 500 maiores empresas americanas já revelaram os seus números e, no agregado, lucros vieram 17% acima dos modelos, com apenas 40 companhias desapontando (15%). Ou seja, do total, 85% ou divulgaram lucro em linha ou acima do esperado.
Até o momento todos os setores superaram as previsões, com exceção de utilities. Conforme apontam os analistas, o destaque vai para o petrolífero, com lucros 125% acima das baixíssimas expectativas (alcançando US$ 450 milhões). Mesmo assim, petroleiras são as que mais sofrem com a falta de visibilidade da demanda da commodity e veem seu faturamento cair em 34% na base anual.
O líder de crescimento de lucro no trimestre foi o setor de bens de consumo (englobando alimentos, bebidas e bens de uso doméstico), com alta de 13% ao ano.
O setor de tecnologia, por sua vez, alcançou US$ 33,2 bilhões de lucro até o momento, crescendo 11% na base de comparação anual.
Contudo, alguns analistas de Wall Street projetam que as ações de tecnologia e comunicações que impulsionaram uma recuperação massiva nos mercados dos EUA neste ano enfrentarão tempos mais difíceis nos próximos meses, não importa se o presidente republicano Donald Trump ou o desafiante democrata Joe Biden ganhe as eleições de terça-feira.
Entre os temores no radar, estão as de regulamentações mais rígidas e perspectivas de que outro grandes projetos de estímulo impulsionaria uma rotação de ações do segmento de tecnologia para outros setores, como empresas de equipamentos e materiais de construção.
“Haverá uma mudança e ela está só começando, mas ainda levará tempo”, disse à Reuters Max Gokhman, chefe de alocação de ativos da Pacific Life Fund Advisors. Ele recentemente diminuiu a sua exposição a grandes techs de overweight (exposição acima da média do mercado) para neutra.
Alguns investidores apontaram ainda as recentes audiências em Washington como um sinal de que mais regulamentações virão para o setor, independentemente de qual for o partido do presidente.
Por outro lado, o banco americano Morgan Stanley está positivo com as empresas de tech citadas acima, possuindo recomendação equalweight (equivalente à neutra) apenas para o Twitter e equivalente à compra para Facebook, Apple, Amazon, Alphabet e Microsoft, vendo potenciais respectivos de alta para as ações de 19,7%, de 24,9%, de 23,5%, de 16,3% e de 23%. Para o Twitter, a projeção é de queda de 5,7% para os papéis.
Em relatório para comentar os resultados, os analistas do banco apontaram que os resultados de anúncios do Facebook, Google e Twitter foram fortes, reafirmando a recuperação mais rápida do que o esperado no segmento, destacando que as plataformas de grande alcance estão bem posicionadas para capitalizar as mudanças do mercado em 2021.
Contudo, nesta sessão, as incertezas pesaram mais e levaram à queda de boa parte das ações do setor. Veja abaixo os resultados detalhados e o desempenho dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) negociados na B3:
Apple (AAPL34, R$ 62,31, -6,92%)
Os resultados da Apple vieram levemente acima das expectativas do mercado, mas incertezas sobre a menina dos olhos da empresa, o iPhone, ofuscaram o balanço do quarto trimestre da gigante de tecnologia.
Vale ressaltar que a Apple adota um ano fiscal diferente, por isso o resultado publicado agora trata-se do último trimestre do ano fiscal de 2020 da empresa.
A receita da empresa ficou em US$ 64,7 bilhões, acima das expectativas do mercado, que segundo dados da Refinitiv esperavam uma receita de $ 63,70 bilhões.
O lucro por ação (LPA) foi de US$ 0,73, também acima das previsões dos analistas, que apostavam em um LPA de US$ 0,71.
Apesar do aumento da receita, as vendas do iPhone caíram mais de 16% frente ao mesmo trimestre do ano passado. A empresa também deixou no ar indefinições sobre as projeções de vendas do smartphone no trimestre encerrado em dezembro, que será o primeiro do ano fiscal de 2021. Juntos, os dois fatores contribuíram para azedar o sentimento dos investidores em relação ao balanço.
A falta de detalhes, destacada por analistas, refere-se principalmente ao desempenho esperado para as vendas do iPhone 12, que foi lançado no dia 13 de outubro, com uma novidade que incomodou muitos consumidores: o novo smartphone não vem mais com fones e com o plugue do carregador.
Apesar de não apresentar as projeções de vendas, Tim Cook, CEO da Apple, disse que está otimista com o iPhone 12, destacando alguns pontos: o fato de o novo aparelho ser equipado com a tecnologia 5G; as promoções que devem ser realizadas por operadoras; e a base de clientes fiel. Cook afirmou que os dados iniciais são “realmente muito bons”.
Ainda que as vendas de iPhone tenham decepcionado no trimestre que passou, analistas estão mais focados nas comercializações futuras do iPhone 12, que devem fazer mais diferença nos próximos trimestres, já que o lançamento aconteceu apenas no meio de outubro. Veja mais clicando aqui.
Amazon (AMZO34, R$ 8.693, -6,81%)
A Amazon continua se beneficiando da procura crescente por compras online, em um cenário no qual diversos países continuam adotando medidas de isolamento social para combater a pandemia de Covid-19. A gigante, mais conhecida por seu comércio eletrônico, reportou nesta quinta-feira (29) os resultados financeiros para o terceiro trimestre de 2020 – e superou as projeções dos analistas.
O lucro foi de US$ 6,3 bilhões, ou US$ 12,37 por ação. Analistas consultados pela Refinitiv (Thomson Reuters Financial & Risk) e pelo portal Yahoo projetavam retornos de US$ 7,41 por ação neste trimestre. O lucro representa o triplo dos US$ 2,1 bilhões vistos no terceiro trimestre de 2019.
Já a receita ficou em US$ 96,1 bilhões no terceiro trimestre de 2020, alta de 37% sobre o mesmo período de 2019. As previsões eram de US$ 92,7 milhões.
Esse crescimento vem depois de um segundo trimestre que já tinha sido considerado muito positivo. A Amazon havia lucrado US$ 5,2 bilhões – então seu melhor resultado histórico, de uma série que começou há 26 anos. O terceiro trimestre coloca um novo recorde. Na comparação com o segundo trimestre de 2020, o lucro expandiu 21%.
Contudo, do lado negativo, pesou o guidance mais fraco para o lucro operacional, reflexo de despesas adicionais ligadas à pandemia. Veja mais clicando aqui.
Twitter (TWTR34, R$ 118,61, -21,62%)
O Twitter registrou lucro líquido de US$ 28,7 milhões no terceiro trimestre, 21,37% inferior ao lucro de US$ 36,5 milhões de igual período de 2019, informou a companhia nesta quinta-feira (29). O lucro por ação diluído ficou em US$ 0,04, de US$ 0,05 anteriormente, ante previsão de US$ 0,06 dos analistas consultados pelo FactSet.
A receita do Twitter ficou em US$ 936,2 milhões no trimestre mais recente, crescimento de 14% ante igual intervalo do ano passado. O crescimento foi ajudado por formatos de publicidade atualizados, medição de anúncios aprimorada e o retorno de eventos que foram interrompidos devido à pandemia, disse o diretor financeiro do Twitter, Ned Segal.
A receita de anúncios no terceiro trimestre cresceu 15%, para US$ 808 milhões, superando as estimativas de US$ 645,95 milhões.
Contudo, os dados de novos usuários foram os que decepcionaram o mercado, levando à forte baixa dos papéis. A empresa de mídia social com sede em San Francisco ainda disse que teve 187 milhões de usuários ativos diários monetizáveis (mDAU) durante o terceiro trimestre, aquém das expectativas dos analistas de 195,2 milhões de usuários, de acordo com dados da Refinitiv. No trimestre anterior, eram 186 milhões.
Já os custos e despesas cresceram 13% em relação ao mesmo período do ano passado para US$ 880 milhões, já que a empresa gastou mais com infraestrutura. Veja mais clicando aqui.
Facebook (FBOK34, R$ 53,70, -6,95%)
O Facebook teve lucro líquido de US$ 7,85 bilhões no terceiro trimestre deste ano, um avanço em relação ao resultado de US$ 6,091 bilhões de igual período de 2019. O lucro por ação diluído ficou em US$ 2,71, de US$ 2,12 anteriormente, acima da expectativa de US$ 1,90 dos analistas ouvidos pelo FactSet.
A receita da empresa ficou em US$ 21,47 bilhões no terceiro trimestre de 2020, de US$ 17,383 bilhões anteriormente. Apesar dos números positivos, a empresa também destacou em seu balanço que, olhando para 2021, “nós continuamos a enfrentar uma parcela significativa de incerteza”.
A companhia diz acreditar que a pandemia da covid-19 contribuiu para uma aceleração na mudança do comércio tradicional para o online, com aumento na demanda por anúncios.
Uma alteração na tendência, porém, poderia ser um vento contrário para o crescimento da receita no próximo ano, aponta.
Além disso, a empresa diz que espera mais ventos contrários “significativos” em direcionamento e medição, por questões como mudanças de plataforma, notadamente a iOS 14 da Apple, bem como por possíveis mudanças no panorama regulatório. Veja mais aqui.
Alphabet (GOGL34, R$ 61,50, -2,86%)
Destoando do dia negativo dos mercados, está a Alphabet, que é dona do Google. A companhia registrou lucro líquido de US$ 11,2 bilhões no terceiro trimestre deste ano, ou US$ 16,40 por ação, superando as projeções compiladas pela Refinitiv, que apontavam para lucro de US$ 11,29 por ação.
A empresa bateu as expectativas em praticamente todas as áreas. A receita entre julho e setembro ficou em US$ 46,17 bilhões, uma alta de 14% na comparação com o mesmo período do ano passado, sendo que os ganhos com propagandas avançaram 10%, para US$ 37,10 bilhões.
No período, as chamadas “outras receitas” do Google, que inclui hardware como seus telefones Pixel e produtos em nuvem, ficaram em US$ 5,48 bilhões, em comparação com US$ 4,05 bilhões um ano atrás.
A Alphabet disse que sua receita de “outras apostas”, que inclui suas subsidiárias fora do Google, como a empresa de automóveis autônomos Waymo e a divisão Verily, rendeu US$ 178 milhões, em comparação com US $ 155 milhões no mesmo período de 2019.
“A receita total reflete o crescimento de base ampla liderado por um aumento nos gastos dos anunciantes na Pesquisa e no YouTube, bem como na força contínua do Google Cloud e Play”, disse a diretora financeira da Alphabet, Ruth Porat, em comunicado.
A receita de anúncios do YouTube aumentou para US$ 5,04 bilhões, ante US$ 3,8 bilhões um ano atrás, enquanto as vendas do Google Cloud subiram de US$ 2,38 bilhões para US$ 3,44 bilhões. Veja mais aqui.
(com informações da Agência Estado e Reuters)
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