Após reclamações, CVM abre processo para analisar relatório do UBS BB que derrubou as ações do IRB

Após reclamações, CVM abre processo para analisar relatório do UBS BB que derrubou as ações do IRB

outubro 15, 2020 Off Por JJ

IRB Brasil
IRB Brasil (Foto/Reprodução: Youtube)

SÃO PAULO – A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo para apurar denúncias feitas por diversos investidores motivada pela divulgação de um relatório de análise sobre o IRB (IRBR3) pelo UBS BB.

Na noite do dia 5 de outubro, o UBS BB publicou relatório em que retomou a cobertura para as ações do IRB, com recomendando de venda e preço-alvo de R$ 4,60. Meses antes, a recomendação era de compra, com preço-alvo de R$ 48. Ou seja, houve uma baixa de 90% no preço-alvo. No dia seguinte após a divulgação do documento, as ações da resseguradora caíram 17,11%, seguindo uma queda de 10,18% na sessão seguinte.

Para os analistas do UBS BB, a avaliação de que a companhia terá um “novo normal” bem mais modesto a partir de agora motivou a recomendação de venda. Segundo o banco, a cotação por volta dos R$ 8,10 (perto do valor do fechamento da ação no dia 1 de outubro, antes da divulgação do relatório) não se justificaria, já que embute um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 20% e uma taxa de sinistralidade de 62% no longo prazo. Para os analistas Mariana Taddeo e Kaio Prato, esses números são muito altos frente à situação da companhia (veja mais clicando aqui).

O documento acabou gerando grande repercussão entre os investidores. Nas redes sociais, alguns perfis falaram sobre o volume elevado de posições “vendidas” (apostando na queda) nas ações e pediam que investidores fizessem denúncias à CVM. Também alegaram que a motivação para a divulgação do relatório foi prejudicar a concorrência; vale destacar que Bradesco e Itaú fizeram aporte de R$ 600 milhões no IRB via aumento de capital em agosto.

Ao InfoMoney, o UBS BB se posicionou sobre o tema através de porta-voz: “Apoiamos a qualidade de nossos relatórios e refutamos quaisquer alegações de conflito de interesse, juntamente com outras acusações infundadas que foram feitas. Acreditamos que nosso relatório é equilibrado, independente e fornece uma análise objetiva para nossos clientes institucionais.”

Vale destacar que é o procedimento que a CVM abra processo a respeito do tema quando há reclamação de investidores – no caso, foram cerca de 40 reclamações entre os dias 6 e 9 de outubro. Se encontrar alguma irregularidade, iniciará um processo administrativo sancionador. Caso contrário, o processo será arquivado.

A Comissão de Valores Mobiliários afirmou que zela pela orientação e proteção dos investidores, “que podem, sempre que necessário, buscá-la por meio dos canais de atendimento disponíveis” e também salienta que não faz juízo de valor com relação à quantidade de consultas ou reclamações, e que “todas as demandas são analisadas e respondidas”.

Ano difícil na Bolsa

Em um cenário de incertezas no radar, a maior parte dos analistas de mercado prefere manter cautela com o papel. De acordo com o consenso Bloomberg, apenas duas casas de análise recomendam compra para o ativo, quatro têm recomendação de manutenção e quatro de venda (ou equivalente).

A ação do IRB registra um ano bastante difícil na Bolsa, com queda de cerca de 80% no acumulado do ano, na “lanterninha” do Ibovespa. Desde fevereiro, a companhia passa por diversos reveses, que começaram com os questionamentos da gestora Squadra sobre os resultados, passando pela polêmica após a notícia enganosa de que o megainvestidor Warren Buffett teria comprado ações da companhia, a saída de importantes executivos da companhia e a entrada de novos gestores que estão buscando “arrumar a casa”.

Abarcando esse período, a companhia ganhou um grande número de investidores de varejo no papel. A base de pessoas físicas entre os acionistas teve alta de 967%, passando de 27.12 em setembro de 2019, para 289.488 no fim de julho de 2020.

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