Após Copom, taxas de títulos do Tesouro Direto recuam nesta quinta-feira
dezembro 10, 2020
SÃO PAULO – As taxas pagas pelos títulos públicos negociados via Tesouro Direto apresentam queda na manhã desta quinta-feira (10), após o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, ter mantido a taxa Selic em 2% ao ano.
No comunicado divulgado ao término da reunião, a autoridade monetária destacou mais uma vez as altas recentes da inflação, esperando que, em dezembro, os números ainda se mostrem elevados.
“Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular, às medidas de inflação subjacente”, diz o texto.
Na avaliação de Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, e Patrícia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos, o que mais surpreendeu na mensagem foi o fato de o Copom ter anunciado que acabará em breve com o forward guidance — a previsibilidade de longo prazo que era dada ao mercado sobre o baixo patamar dos juros.
“O que me chamou atenção é que a gente via um feedback dos diretores do BC e do próprio Roberto Campos, o presidente, de que o forward guidance estava funcionando em relação ao seu objetivo principal, que era de manter a ancoragem do mercado e diminuir volatilidade e ruído em relação aos próximos movimentos de juros”, disse Patrícia, durante live do InfoMoney.
“E todo mundo via que o principal ponto que poderia ruir esse forward guidance era o fiscal, mesmo sabendo que o sistema é de metas. Eu acho que teve um problema de comunicação grande com a maneira que foi colocado esse novo trecho. A questão não é nem se ele [o BC] está correto ou não ao fazer isso, mas a maneira como foi explicada com ‘retirada em breve’ ficou em discordância com os últimos comunicados do próprio BC. (…) O que ele vinha falando e o que ele fez agora, houve uma quebra. Eu espero uma explicação mais robusta na ata”, completou.
Já Thaís afirmou que a LCA já esperava um movimento de alta da Selic após a metade de 2021, com os juros encerrando o ano em 3%. “Talvez com essa sinalização a gente tenha alguma antecipação desse movimento, talvez na reunião de junho, talvez na de maio. Vai depender muito de como vai vir a atividade nesse começo de ano e da inflação”, disse.
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Em relatório, o economista do Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou esperar que o Copom mantenha a Selic no atual patamar até o segundo semestre de 2021, e inicie então uma normalização gradual da taxa básica de juros.
“Entretanto, embora esperamos que o Copom seja paciente, reconhecemos que o risco de uma antecipação do ciclo de normalização monetária, dado os níveis atuais excepcionalmente baixos de juros reais e nominais, e o fato de que, embora ancorada, a inflação pode estar sujeita a choques idiossincráticos, pode acontecer”, escreveu.
Mercado hoje
No Tesouro Direto, o título prefixado com vencimento em 2026 pagava um prêmio anual de 6,73% na abertura dos negócios, ante 6,78% ontem. A taxa paga pelo mesmo papel com juros semestrais e prazo em 2031, por sua vez, cedia de 7,38% para 7,33% ao ano.
Entre os papéis indexados à inflação, o com vencimento em 2026 pagava uma taxa anual de 2,46%, ante 2,52% nesta manhã. Já o juro pago pelo Tesouro IPCA+2035 era de 3,74%, ante 3,84% na sessão passada.
Confira os preços e as taxas dos títulos públicos nesta quinta-feira (10):
Cena doméstica
Ainda entre os destaques do dia, as vendas no varejo cresceram 0,9% em outubro na comparação com setembro, acima da expectativa dos economistas consultados pela Bloomberg, de alta de 0,1%. Com isso, o patamar do varejo bateu recorde pela terceira vez seguida, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficando também 8,0% superior a fevereiro, nível pré-pandemia.
No acumulado no ano, o varejo cresceu 0,9%, enquanto no acumulado em 12 meses, o avanço ficou em 1,3%.
No âmbito político, as atenções recaem sobre a demissão, na véspera, do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, com a nomeação para o cargo de Gilson Machado, que comandava a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo).
Os investidores também monitoram as eleições na Câmara dos Deputados. Ontem, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), lançou sua candidatura à Presidência da Câmara, com apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de partidos que formam o bloco do Centrão: Progressistas, PSD, PL, Solidariedade e Avante. Também tem apoio de Patriota, PROS e PSC. Espera-se também que o PTB oficialize nesta semana a adesão a sua candidatura.
Do outro lado, líderes de seis partidos anunciaram um novo bloco na Câmara dos Deputados a partir de 2021, formado por DEM, PSL, MDB, PSDB, Cidadania e PV, com 147 deputados. De acordo com Efraim Filho (DEM-PB), líder do DEM, o movimento faz parte de um esforço do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) para eleger um sucessor. Ainda não foi escolhido um candidato.
Na quarta, Maia afirmou que o governo estaria “desesperado” para eleger um aliado como presidente da Câmara, com objetivo de fazer avançar a pauta de costumes e desorganizar a agenda do meio ambiente.
Quadro internacional
Na cena externa, os investidores acompanham as negociações nos Estados Unidos acerca de um novo pacote de estímulos à economia.
Ontem, o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel, afirmou que republicanos e democratas continuam a buscar uma forma de avançar nas negociações.
Por lá, os mercados monitoram ainda a abertura de uma ação antitruste de escopo nacional contra o Facebook, sob alegação de que a gigante do Vale do Silício atuou de “maneira predatória” ao comprar rivais menores, entre eles Instagram e WhatsApp.
Ainda no exterior, o ministro britânico, Boris Johnson, e a presidente da Comissão Europeia Reguladores de União Europeia, Ursula von der Leyen, se reuniram ontem para discutir os termos do novo acordo comercial pós-Brexit. Ainda persiste um impasse sobre assuntos-chave, incluindo direitos a pesca e regras de competição.
Nesta quinta, líderes europeus se reúnem em Bruxelas para uma reunião de dois dias do Conselho Europeu, o que levanta esperanças de que ocorra avanços sobre o acordo.
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