Antes da crise, endividamento dos brasileiros já era o maior em quatro anos
abril 28, 2020A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus pegou os brasileiros em situação financeira mais vulnerável, com alto nível de endividamento.
Dados divulgados nesta terça-feira, 28, pelo Banco Central mostram que, em fevereiro, o endividamento das famílias com os bancos atingiu 45,5%. O porcentual é o maior desde os 45,8% verificados em outubro de 2015, quando o Brasil enfrentava a crise fiscal do governo Dilma Rousseff.
O cálculo do endividamento leva em conta o total das dívidas bancárias, dividido pela renda das famílias no período de 12 meses. Se for considerado o endividamento sem as operações de crédito imobiliário – geralmente de valores mais elevados para as famílias -, o porcentual de fevereiro ficou em 26,8%, também acima do verificado em anos mais recentes.
Os dados de fevereiro ainda não refletem o acirramento da crise provocada pelo novo coronavírus. Isso porque foi em março que o isolamento social se intensificou nas cidades brasileiras, afetando a atividade econômica, a renda e o emprego. Na prática, em março, a crise recaiu sobre famílias já naturalmente mais endividadas.
“Temos trajetória de crescimento do endividamento das famílias já há algum tempo”, pontuou hoje o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, durante entrevista coletiva virtual. “Este desenho do endividamento é consequência do que víamos no mercado de crédito (antes da crise): o crédito livre para pessoas físicas puxando (as operações)”, afirmou.
Como os efeitos da pandemia se intensificaram em março, a expectativa é de que os dados do mês – a serem divulgados apenas no fim de maio – mostrem endividamento ainda maior nas famílias. Com o desemprego maior e a renda menor, os brasileiros tendem a fazer menos dívidas para aquisição de bens como veículos e imóveis. Por outro lado, é natural que a demanda por crédito pessoal ou emergencial aumente.
Durante a coletiva, Rocha evitou comentar se o nível de endividamento das famílias preocupa o Banco Central.
Comprometimento da renda
Os números do BC mostraram ainda que, em fevereiro, o comprometimento da renda das famílias com dívidas bancárias ficou em 20,0%. O porcentual é próximo do verificado no fim de 2019, mas superior ao visto em anos anteriores. Se o financiamento imobiliário for excluído da conta, o comprometimento da renda com dívidas bancárias estava em 17,6% em fevereiro.