André Jakurski: conheça o fundador do Pactual, que já operou para George Soros e há 22 anos está à frente da JGP
fevereiro 5, 2021Nome completo: | André Roberto Jakurski |
Local de nascimento: | Rio de Janeiro |
Ocupação: | fundador e gestor da JGP |
Patrimônio sob administração da JGP: | R$ 35 bilhões |
Quem é André Jakurski
Em 46 anos de carreira no mercado financeiro, o que não falta ao carioca André Jakurski são histórias interessantes. Ele já operou para o megainvestidor George Soros, foi um dos fundadores do banco Pactual, junto com o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, está entre os mentores do banqueiro André Esteves e há 22 anos é o principal gestor da JGP Asset Management, que administra R$ 35 bilhões de patrimônio.
Jakurski ainda cursava engenharia mecânica na PUC do Rio de Janeiro, quando decidiu que não seguiria o mesmo caminho que a maioria dos colegas da faculdade, que estagiavam em empresas estatais, como Eletrobras, Embratel e Petrobras.
Sem interesse em trabalhar no governo, chegou a estagiar na Esso (nome dado no Brasil para a petroleira americana Exxon), mas deixou a empresa por acreditar que não teria futuro, já que a companhia vinha encolhendo no país. Jakurski queria ser grande, ganhar muito dinheiro e, de preferência, em um negócio próprio.
A decisão, tomada ao lado do pai, também engenheiro, foi partir para uma pós-graduação em administração no exterior. Os pais, imigrantes poloneses, tinham uma empresa de iluminação pública (que instalava luz nas ruas da capital fluminense) e queriam que o filho administrasse o negócio.
Em 1971, aos 23 anos, Jakurski embarcou para os Estados Unidos, onde fez MBA em Harvard. Dois anos depois, já de volta ao Brasil, ajudou o pai por algum tempo, mas acabou indo trabalhar no Unibanco, onde permaneceu por dez anos. Nesse período, passou por várias áreas: crédito, leasing, assumiu diretorias no banco de investimentos e no banco comercial, mas nunca atuou como gestor.
A carreira ia bem, mas não era o que sonhava, principalmente porque não quis se mudar do Rio para São Paulo, onde teria de trabalhar para assumir a promoção que recebera do banco.
Aos 35 anos, saiu do Unibanco para fundar o Pactual com Luiz Cezar Fernandes (que deixava a sociedade no banco Garantia, de Jorge Paulo Lemann) e o economista Paulo Guedes, até então sócio e professor do Ibmec.
O Pactual, cujo nome foi inspirado nas iniciais de Paulo, André e Cezar, foi um marco para a carreira de Jakurski. O banco foi montado com um capital baixo, cerca de US$ 200 mil, mas cresceu rápido. Em dez anos, administrava um patrimônio de US$ 600 milhões.
A ideia inicial era que o Pactual funcionasse como um banco de investimentos, estruturando fusões e aquisições de empresas e formatando operações de financiamento mais sofisticadas. Não havia muitas instituições dedicadas a esse tipo de negócio, e o Pactual deveria explorar a seara.
Em pouco tempo, descobriram que ainda era cedo para o modelo. Em um período de economia fechada, o empresariado ainda preferia negociar por conta própria. Sem conseguir gerar receita suficiente, a alternativa foi partir para o investimento em ações e renda fixa.
Luiz Cezar, que financiou os sócios, credita o sucesso do Pactual à afinação dos dois mais jovens, segundo relatou em depoimento à revista Piauí. Ele, que já havia sido sócio do Garantia, era responsável por captar os negócios, enquanto Guedes fazia as análises macroeconômicas e Jakurski atuava na mesa de operações. A instabilidade econômica da década de 1980, em que o governo tinha de se financiar o tempo todo, com altas taxas de juros, foi um período de ouro para quem tinha capital e sabia ler os sinais macroeconômicos.
Em terra de cego, quem tem um olho é rei
O Brasil havia quebrado em 1982 e passou boa parte do ano seguinte negociando um plano de refinanciamento da dívida externa com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Tive muita sorte. Os preços das ações estavam muito depreciados, então era um bom momento para investir. Comecei a comprar ações para o Pactual em 1984 e vi que havia oportunidades incríveis”, afirmou o gestor em entrevista para o livro Fora da Curva.
Segundo Jakurski, o mercado era cru, na época. Poucos analistas conseguiam enxergar que o pior havia passado e as empresas estavam baratas. O Pactual, no entanto, pulava de uma ação para a outra. Comprava quando considerava que estava barata, vendia quando alcançava certa valorização e investia em outra oportunidade.
“Comprei papéis da Vale e de uma série de companhias privadas cujo preço foi multiplicado por trinta entre 1984 e 1986”, disse na mesma entrevista. Hoje, Jakurski reconhece que seria impossível repetir o feito, já que o mercado se desenvolveu e conta com muito investidores qualificados.
Fevereiro de 1986 foi um marco para a história do Pactual e do Brasil. O presidente José Sarney, primeiro eleito pelo voto direto após o regime militar, lançou o Plano Cruzado, com o objetivo de controlar a inflação.
Apesar de parte dos economistas e investidores estarem otimistas na época com o pacote de medidas (que incluía tabelamento de preços), a cúpula do Pactual apostava que o Plano faria água. Um mês após o anúncio do Cruzado, Jakurski vendeu todas as ações, apostando que os preços começariam a despencar em seguida. Não deu outra, e o Pactual conseguiu fazer muito bom lucro.
Ganhando a confiança de Soros
O megainvestidor húngaro-americano George Soros se interessou em investir no Brasil em 1987, em meio à instabilidade econômica que levaria a uma série de planos malsucedidos. Jakurski havia tido um único contato com ele em 1984, durante uma visita ao Ibmec, pouco depois da fundação do Pactual. Na ocasião, Soros havia afirmado que não sabia por que Jakurski e companhia estavam abrindo um banco, se o Brasil iria quebrar.
Jakurski argumentou que daria para ganhar dinheiro em qualquer situação, e acredita que a postura tenha sido responsável por Soros procurar o Pactual três anos mais tarde. O banco passaria a administrar um montante do investidor.
Dois meses após o acordo, no entanto, Jakurski decidiu devolver o dinheiro do megainvestidor, que se surpreendeu com a atitude. O brasileiro explicou que o mercado estava muito ruim e não valeria a pena arriscar com chance tão alta de perder. Mais tarde, Jakurski soube que o megainvestidor havia procurado duas outras instituições, e que ambas tiveram prejuízos em suas apostas. O Pactual passaria a gerir uma carteira de ações de Soros em 1992.
Considerado um dos traders mais bem-sucedidos do mercado brasileiro, Jakurski considera que o maior êxito à frente do Pactual aconteceu entre 1990 e 1992, após o Plano Collor, editado assim que Fernando Collor de Mello assumiu a presidência,em março de 1990.
O pacote de medidas congelou as contas bancárias e de investimentos, incluindo a da poupança, enxugando drasticamente a liquidez do mercado. A “maluquice”, porém, foi acompanhada por leis que permitiam investimento estrangeiro em bolsa de valores, abriam o mercado a produtos importados e sinalizavam privatizações.
Poucos e grandes acertos e muitos pequenos erros
A decisão de Jakurski naquele momento foi começar a comprar ações da Telebras. Na sua avaliação, os papéis da empresa estavam muito baratos e havia rumores de que a empresa pretendia lançar ADRs na bolsa de Nova York. Convicto de que as ações da estatal estavam baratas e iriam se valorizar, Jakurski chegou a investir mais de 100% do patrimônio do Pactual em ações na bolsa e em contratos de opções da companhia. Em um ano, as ações da Telebras passaram de US$ 2 para US$ 32. As carteiras dos clientes do banco renderam 540%, em média.
A saída do Pactual aconteceu em 1998, por desavenças com Luiz César. Até então, os dois eram os principais acionistas do banco. Jakurski discordava de quase tudo o que Luiz Cézar propunha, dos planos estratégicos para o banco à política de distribuição de bônus aos funcionários.
O ponto alto das tensões ocorreu em 1997. Luiz Cézar queria transformar o Pactual em um banco de varejo. O plano era comprar o BCN, do banqueiro Pedro Conde. A operação já estava fechada em R$ 300 milhões, segundo Luiz Cézar, mas na hora de assinar o contrato, Jakurski e Guedes desistiram do negócio. O episódio azedou o clima de vez entre os sócios e culminou com a saída de Jakurski e Guedes, que fundaram a gestora de fundos JGP.
“Não queríamos mais fazer aquelas operações arriscadas da época do Pactual e, além disso, como o mercado se sofisticou, as oportunidades óbvias desapareceram”, afirmou Jarcurski, no livro Fora da Curva.
A caminho de completar cinco décadas de carreira, Jakurski fez escola no mercado. Considerado um dos melhores traders do país, fez escola no país. Em julho de 2020, André Esteves, o maior acionista do BTG Pactual, afirmou: “Jakurski foi meu sócio durante muitos anos, meu chefe, e o pai do DNA de gestão de risco do banco, o que deve te dar orgulho até hoje, não é?”. A reverência ao fundador do Pactual foi feita durante um evento para investidores do banco.
Em 22 anos de JGP, Jakurski ganhou muito mais do que perdeu, como se espera de qualquer bom investidor. Segundo ele, as grandes oportunidades são raras; pela própria natureza delas, aparecem esporadicamente. Já os erros são diários, às vezes, horários. O bom gestor precisa ter a capacidade de diferenciar as oportunidades corriqueiras das excepcionais, o que nem sempre é fácil. “Muitas vezes, passa um elefante voando na sua frente e você não vê”. Essas frases são de entrevista?
O fundamental, ensina o gestor, é analisar as probabilidades de ganhar e perder dinheiro em diferentes cenários. “Ninguém consegue prever o futuro, e todo investidor perde dinheiro, porque investir é um jogo de tentativa e erro. Mas, para acumular patrimônio, é preciso evitar os grandes riscos que possam levá-lo à ruína”.
Investimento responsável e o fim do capitalismo
A queda da barragem de resíduos da Vale, em Brumadinho, em janeiro de 2019, provocou fortes perdas ao fundo de ações da JGP, que tinha a mineradora como principal posição. A empresa perdeu um quarto do valor dias após o desastre que matou 259 pessoas.
“Percebemos que estávamos desprezando os riscos associados à mineração, à questão climática, e decidimos estudar isso a sério”, afirmou Marcio Correia, gerente de ações da JGP do Rio de Janeiro, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo em outubro de 2020.
Uma das providências da JGP foi vender dois terços das ações da Vale. Depois, em agosto de 2020, a gestora lançou seu primeiro fundo exclusivo balizado por critérios ambientais, sociais e de governança, o chamado ESG.
No novo fundo não há espaço para Vale, Petrobras e talvez nem sequer empresas de vestuário que trabalham com fast fashion, já que o consumo consciente também é um dos elementos do crivo da seleção de empresas responsáveis. O movimento é um sinal de revitalização da JGP, considerada uma das casas de investimento mais tradicionais do país e que ficou conhecida pelo pragmatismo de seu fundador mais célebre.
Recentemente, Jakurski vem criticando a postura dos bancos centrais, que, na sua visão, vêm promovendo a queda da produtividade e do próprio capitalismo. “Nos últimos 20 anos os balanços dos bancos centrais cresceram de US$ 2 trilhões para US$ 23 trilhões. Isso fez os juros ficarem baixos, a economia flutuar graças a diarreias monetárias. Mas dinheiro do Banco Central não cria riqueza, cria uma anestesia temporária”, explicou durante uma live feita com a Liga de Mercado Financeiro da PUC-Rio, em setembro de 2020. Segundo ele, a combinação da atuação dos BCs e do envelhecimento da população ocidental derrubarão a produtividade.
Avesso a entrevistas, o investidor tem aproveitado as raras aparições públicas, geralmente em eventos do mercado, para discorrer sobre sua tese. De acordo com ela, sustentar as economias com transferência de capital para pessoas que não geram produto é transferência de riqueza entre gerações e entre classes de pessoas. Essas estratégias não vão gerar crescimento e são, de certa forma, o prenúncio da morte do capitalismo, em sua avaliação.
“O capitalismo vive de produtividade, que normalmente traz juros reais positivos. Estou cético de que algo interessante virá com essa atuação fiscal dos tesouros e monetárias dos Bancos Centrais”, afirmou durante a live.
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