Acordo da Opep+ surpreende e impulsiona preços do petróleo: qual o impacto para a Petrobras e para outras ações?

Acordo da Opep+ surpreende e impulsiona preços do petróleo: qual o impacto para a Petrobras e para outras ações?

janeiro 6, 2021 Off Por JJ

(Shutterstock)

SÃO PAULO – A sessão desta quarta-feira (6) é mais uma vez de ganhos para o petróleo, após a alta de cerca de 5% na véspera para os contratos futuros com vencimento em março do WTI e do brent, renovando maior patamar desde fevereiro de 2020. Nesta sessão, o brent subiu 0,60%, a US$ 53,92 o barril, enquanto o WTI avançou 1,4%, a US$ 50,63.

O grande catalisador para isso foi o desfecho da reunião da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) e seus aliados. Se, durante o começo da semana, havia um ambiente de cautela no mercado com indefinições sobre se haveria ou não um aumento de produção, a definição surpreendente do encontro guiou expectativas mais otimistas do mercado.

Foi acordado que os cortes de produção de petróleo, atualmente de 7,2 milhões de barris ao dia (mbpd) para o mês de janeiro de 2021, passarão para i) 7,125 mbpd em fevereiro de 2021, ou um aumento de 75 mil barris ao dia (kbpd) e (ii) -7,05 mbpd em março de 2021, ou um aumento de 75 kbpd. No caso, a Rússia foi o principal país-membro que obteve aumento de suas cotas de produção, no caso de 130 kbpd do total de 150 kbpd até o mês de março (seguida pelo Cazaquistão).

Já a Arábia Saudita aceitou reduzir sua produção em 1 milhão de barris ao dia em fevereiro e março. “Tal anúncio foi o principal motivo que acarretou a alta dos preços de petróleo, pois implica um melhor balanço de oferta e demanda de petróleo do que o previsto pelo mercado – no caso, de 500 mil barris ao dia”, apontaram em relatório Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP Investimentos.

Os sauditas apontaram que é necessário que a produção de petróleo continue restrita a fim de administrar o nível de demanda, afetada pela pandemia do coronavírus. Sua postura foi de oposição à Rússia, que sinalizou desejo de aumento na produção. Segundo Alexander Novak, vice-premiê do país, os programas de vacinação deverão avançar, o que impactará a retomada da atividade econômica e, consequentemente, a demanda por petróleo.

Na avaliação da XP, a postura da Arábia Saudita indica um comprometimento da nação com o equilíbrio dos mercados de petróleo e uma determinação para evitar discordâncias com a Rússia, tal como observado na guerra de preços de março de 2020 (que desencadeou o começo de um período de forte derrocada das cotações da commodity).

Para os analistas, apesar da eventual volatilidade de curto prazo relacionada à pandemia, a visão é otimista para preços de petróleo no médio e longo prazo conforme avancem as vacinações para a COVID-19 ao redor do mundo. “Tão logo isso ocorra, esperamos uma rápida recuperação da demanda de combustíveis e outros derivados de petróleo com a normalização da movimentação de pessoas e bens e da atividade econômica global”, apontam, prevendo, em um horizonte de médio prazo (6-12 meses), que os preços de petróleo Brent se recuperem para o patamar de US$55 a US$ 60 o barril, nível de preços que remunera os produtores de petróleo de xisto nos EUA, os quais consideram como produtores marginais da commodity.

Com base nas novas estimativas para os preços do petróleo após o acordo da Opep+ (veja na tabela abaixo), os analistas reiteraram recomendação de compra para ambas as classes de ações da Petrobras (PETR3;PETR4) – ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (com preferência por dividendos) – , elevando o preço-alvo dos papéis de R$ 32 para R$ 35 para ambas. Esses valores representam um potencial de valorização frente o último fechamento de 15,13% para os ativos ON e 16,5% para os papéis PN. Ambos os papéis fecharam a sessão da véspera acima dos R$ 30, patamar observado pela última vez somente nos meses anteriores à pandemia.

Já conforme aponta a Levante Ideias de Investimentos, a decisão da Opep+ surpreendeu diante da demanda global acima das expectativas nas primeiras semanas de dezembro, refletindo lockdowns mais curtos do que o projetado na União Europeia, e por permitir que a Rússia aumente sua produção, transferindo o impacto fiscal somente à Arábia Saudita. Além disso, desde julho, ocorre queda quase ininterrupta dos estoques, embora ainda permaneçam historicamente elevados.

Nesse contexto, a visão é que o corte reflete uma aceleração da pandemia nos últimos dias, especialmente em países como a Alemanha, que enfrenta dificuldades para controlar os casos, e Reino Unido, que sofre com uma nova cepa mais contagiosa. “Países asiáticos, como Coreia do Sul e Japão, também reportaram aumento substancial dos casos, que atingiram valores diários superiores aos reportados na primeira onda. Em conjunto, os números apontam para retração da demanda global, e a Arábia Saudita parece ter se antecipado a esse movimento”, avaliam.

A decisão, apontam os analistas, “indica um mercado com oferta e demanda mais equilibradas nos próximos meses, o que é música para ouvidos para a Petrobras”.

O Bradesco BBI ainda aponta que, embora o corte seja uma medida de precaução à luz da outra onda de Covid-19, a ação foi claramente altista para o petróleo, já que o mercado não espera que os bloqueios tenham o mesmo efeito de demanda que tiveram em abril do ano passado. Agora, a OPEP + se reunirá apenas em março para discutir os próximos passos, enquanto o comitê de monitoramento se reunirá em fevereiro para dar sua impressão atualizada sobre o mercado.

Mas, além da Petrobras e demais petroleiras listadas na B3, como a PetroRio (PRIO3), também integrante do Ibovespa, outras empresas da Bolsa podem ser impactadas pela medida da Opep+.

Na avaliação do BBI, o acordo dá uma leitura positiva para a São Martinho (SMTO3) já que este corte na produção de petróleo pode sustentar a alta dos preços, o que geralmente beneficia os preços do etanol e do açúcar (cada um representando cerca de 50% das vendas estimadas da São Martinho para 2021).

Isso ocorre porque a expectativa é de preços mais altos da gasolina, o que abre espaço para preços mais altos também do etanol. Consequentemente, também pode levar a uma mudança nas usinas para produzir mais etanol em comparação com açúcar, o que pode reduzir a oferta de açúcar no mercado e, assim, sustentar preços mais altos da commodity.

“No entanto, estimamos que, com o preço spot atual do brent de US $ 54 o barril e um preço spot do açúcar de US$ 16,30 por libra-peso, ainda é mais atraente para as usinas do Brasil produzirem mais açúcar do que etanol (estimamos o equilíbrio para os preços do açúcar seriam de cerca de US$ 13,50 por libra-peso), limitando assim a alta para os preços spot do açúcar. Dito isso, com todo o resto constante, se incorporarmos o preço spot do brent de US $ 54 o barril em nosso modelo, aumentaríamos nossa estimativa de Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] para 2021 em 23% devido ao benefício dos preços mais altos do etanol”, avaliam os analistas, referindo-se à São Martinho.

A recomendação dos analistas do BBI para o papel SMTO3 é neutra, com preço-alvo de R$ 26, o que configura uma queda de 4,75% em relação ao fechamento da véspera. Vale ressaltar que o papel da companhia registrava alta de mais de 6% na sessão desta quarta-feira.

Para a Julius Baer, a visão segue positiva para os preços do petróleo, destacando que o acordo pode ser de fato eficaz em termos de fornecer suporte adicional aos preços. “Acreditamos que as tendências atuais se mantêm com os fundamentos e os fluxos, ou seja, o humor cada vez mais positivo no mercado deve continuar a favorecer os preços. Dito isso, essas tendências parecem ser mais dinâmicas do que inicialmente esperado e, em consequência, os preços do petróleo estão à frente de nossa trajetória de recuperação projetada”.

Os analistas do Goldman Sachs, por sua vez, apesar de apontarem que a decisão dos sauditas provavelmente reflete sinais de enfraquecimento na demanda à medida que os lockdowns voltam, mantêm sua previsão de que o Brent deva fechar o ano a US$ 65 por barril – ou uma alta de 21% em relação ao fechamento da véspera.

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