Ação da Sabesp acumula baixa nos 7 pregões após a lei do saneamento: o que explica esse movimento?
julho 3, 2020SÃO PAULO – Considerado um grande catalisador para as ações da Sabesp (SBSP3), o marco do saneamento foi aprovado pelo Senado na noite do último dia 24 de junho, elevando as expectativas por mais investimentos privados no setor de saneamento.
Contudo, desde que a votação ocorreu, as ações não tem registrado um bom desempenho na bolsa: enquanto o Ibovespa registra ganhos de 2,5%, os ativos SBSP3 têm queda de mais de 3% no mesmo período de sete pregões.
Conforme já destacado em análise sobre o setor (veja mais aqui) logo após a aprovação do marco, além do fato das ações terem subido bem mais que o benchmark da bolsa nos últimos três meses à espera da aprovação (alta de 69% ante ganhos de 38% do índice), o fato do marco ser aprovado não significa o fim da saga, uma vez que os investidores seguirão de olho nos passos dos governantes para viabilizar a privatização da estatal.
No caso do governo de São Paulo, em entrevista ao podcast Stock Pickers, do InfoMoney, Henrique Meirelles, destacou que, apesar de não ser um processo muito rápido, está de olho na privatização. “Investimento [em saneamento] é a prioridade. E mediante aporte do Estado não é uma estratégia vitoriosa. Precisamos do investimento privado, via capitalização ou privatização”.
Contudo, o banco suíço UBS destaca que uma possível razão para o desempenho pior dos papéis SBSP3 é a expectativa pelos vetos de Jair Bolsonaro, o que pode acontecer nos próximos dias, já que o presidente tem 15 dias para sancionar a lei.
O artigo que tem potencial de gerar mais dor de cabeça ao mercado é o artigo 14, parágrafo 1. Ele aponta que, no caso de um processo de privatização de uma empresa de saneamento estatal, não há necessidade de consentimento dos titulares (municípios) caso não haja alterações no objeto e na duração do Contrato de Programa (mecanismos que permitem a dispensa de licitação pelo prefeito ao contratar estatais).
Com isso, caso haja o veto a esse artigo, as propostas de privatização exigiriam o consentimento de cerca de 370 municípios no caso da Sabesp, o que elevaria a complexidade de projetos de venda destas estatais.
Para Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos, que possui recomendação neutra para os ativos, tal processo de privatização não deve se iniciar antes das eleições de 2020 em vista da sensibilidade do tema a municípios.
Para o UBS, contudo, o processo pode ser mais simples do que parece: “caso o governo de São Paulo consiga avançar com a privatização, é provável que a Sabesp tenha de focar apenas nas 20 principais cidades do Estado, que já correspondem a três quartos da receita total da companhia”.
A Sabesp, ressaltam os analistas Giuliano Ajeje e Guilherme Reif, tem atuação em 369 municípios paulistas e as 20 principais cidades correspondem a 75,5% da receita total, sendo que a capital corresponde sozinha a 50%.
“Acreditamos ser possível que o governador [João Doria] tenha apoio político, já que 75% dos prefeitos das principais cidades são do mesmo partido político ou de partidos políticos aliados”, afirmam os analistas.
No quadro abaixo, elaborado pelo UBS, constam as cidades com maior relevância para a receita da Sabesp, assim como os prefeitos e os seus respectivos partidos políticos.
Os analistas do UBS, que possuíam recomendação de compra para os ativos, colocaram a ação em revisão, mas reforçam ver um potencial significativo para os ativos se a empresa for privatizada, avaliando que o estado de São Paulo poderia arrecadar entre R$ 21 bilhões e 35 bilhões. O banco aponta que, com a privatização, a ação da Sabesp tem o potencial de valer R$ 98 (potencial de valorização de 68%).
Após o evento
No final do mês passado, o Itaú BBA também destacou a queda dos ativos após a aprovação da lei de saneamento, considerada pelos analistas “um evento transformador e que melhorará substancialmente a estrutura regulatória do setor”.
Dentro das ações do setor, a Sabesp é a principal escolha dos analistas, por ser a mais provável de ser privatizada, enquanto a Copasa (CSMG3) enfrenta um cenário mais complicado, pois o governo de Minas Gerais precisa mudar a constituição do estado e fazer um referendo (votação) popular. Já o governo paranaense, que controla a Sanepar (SAPR11), não manifestou a intenção de privatizar a empresa.
“Esperamos que os investidores se tornem mais otimistas com a Sabesp quando o governo de São Paulo iniciar o processo de privatização”, afirmam, destacando que o governo deve se tornar mais incisivo sobre o assunto nas próximas semanas. O primeiro passo provavelmente será solicitar a aprovação da privatização na Câmara dos Deputados do estado (é necessária aprovação por uma maioria simples).
O governo terá que decidir qual é o melhor modelo de privatização, podendo vender todas as suas ações a um investidor estratégico, como no caso da privatização da Cesp (CESP6), ou vender suas ações em uma oferta secundária, como foi feito no caso da BR Distribuidora (BRDT3).
“Em nossa opinião, a melhor alternativa seria a segunda, pois acreditamos que seria muito difícil encontrar um investidor estratégico disposto a comprar a Sabesp, considerando o valor de mercado da empresa de R$ 39 bilhões. As concessionárias privadas de saneamento que operam no Brasil são muito pequenas para concorrer com a Sabesp. Portanto, uma venda bem-sucedida dependeria de encontrar uma operadora internacional disposta a entrar no Brasil. Desta forma, vender ações no mercado em uma oferta de ações subsequente e, assim, tornar a Sabesp uma corporation completa, parece uma alternativa melhor. Acreditamos que um acordo poderia ser concluído em 2021”, apontam os analistas.
Na avaliação do Itaú BBA, caso a empresa seja privatizada, a ação pode valer entre R$ 71 e R$ 88 (com potencial de alta entre 22% e 51%), com a companhia se tornando mais eficiente. Assim, a expectativa é de que o processo possa demorar, mas que há grandes perspectivas de ganhos caso essa etapa seja concluída.
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