Psicóloga explica como isolamento e pandemia podem causar depressão
agosto 17, 2020A pandemia e o isolamento social interferiram não só em nossa rotina, mas também em nossa saúde emocional. A perda de pessoas queridas ou conhecidas, as mudanças na economia e o excesso de informações, entre outros fatores, podem trazer doenças como a depressão. A psicóloga Cássia Guimarães falou sobre o assunto e explicou também como familiares e amigos podem ajudar aqueles que são acometidos pela doença.
Portal Infonet – A solidão favorecida pelo isolamento social pode ocasionar uma depressão? Porque?
Cássia Guimarães – O período isolamento social em razão da pandemia do novo coronavírus e de todas as mudanças ocorridas na rotina das pessoas, pode sim, gerar e agravar quadros de ansiedade e depressão. Estamos passando por um período de incertezas, medo de ser contaminado pelo vírus, desemprego ou diminuição de renda, afastamento de amigos e membros da família, que são fatores contribuintes para aumentar prejuízos emocionais, na saúde mental. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5,8% da população já apresentava depressão, antes mesmo da pandemia.
Infonet – Existe alguma relação de casos da Covid-19 ampliar a depressão e até mesmo a suicídios?
CG: Qualquer indivíduo está vulnerável a reações psicológicas durante a pandemia, causadas pelas incertezas e as mudanças impostas, que acaba provocando sofrimento psíquico. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), foi apresentado resultados que os casos de depressão praticamente dobraram, entre os entrevistados, durante a pandemia e o isolamento social. Inclusive a pesquisa demonstra que as mulheres estão mais propensas a sofrer com a ansiedade e depressão durante a quarentena do que os homens. Um resultado que é importante que deve ser informado é que quem recorreu a psicoterapia pela internet apresentou índices menores de estresse e ansiedade. Atualmente não tive acesso a dados oficializados a respeito do aumento de suicídio neste período de pandemia, mas não significa que o aumento não ocorreu, pois todo o cenário atual representa uma carga emocional muito forte, principalmente para os indivíduos que já são mais fragilizados.
Infonet – O que a depressão pode causar em uma pessoa?
CG: A depressão é uma doença que se classifica pela presença de sentimento de tristeza profunda, vazio ou irritável. Estes sintomas são acompanhados de alterações somáticas e cognitivas que interferem na capacidade de funcionamento do indivíduo, gerando a perda de interesse em atividades que anteriormente geravam momentos de prazer. Além disso, pode levar o indivíduo a diversos problemas emocionais, comportamentais e físicos. Dessa forma, a pessoa começa a reduzir a capacidade de suas atividades laborais, aumentar os comportamentos de risco, predisposição para o consumo de álcool e drogas, baixa autoestima, ideação suicida, problemas nos relacionamentos, entre outros prejuízos.
Infonet – Existem graus de depressão?
CG: Os quadros de depressão variam de acordo com a intensidade dos sintomas e pode ser categorizado em três graus: leves, moderados e graves. Uma pessoa com um episódio depressivo leve apresentará alguma dificuldade em levar adiante um trabalho simples e atividades sociais, mas é manejável e provavelmente não haverá grandes prejuízos no funcionamento social ou profissional. Já o episódio depressivo grave os sintomas surgem com maior intensidade, interferem grandemente no funcionamento social, profissional ou domésticas (não consegue trabalhar, cuidar de si mesmo, estabelecer relações, etc). Durante um episódio depressivo moderado, a pessoa apresenta sintomas intermediários, sua intensidade e/ou prejuízo funcional estão entre os episódios leve e grave.
Infonet – Como um familiar por perceber se uma pessoa está depressiva e como pode ajudá-la?
CG: A pessoa com depressão, apresenta alguns sinais que podem ser identificados por familiares ou pessoas próximas para procurar ajuda. O desânimo geral, a tristeza profunda sem explicação por vários dias, mudança de apetite, ganho ou perda de peso, insônia ou dormir em excesso, sentir-se sem esperança, sentir-se culpado, baixa autoestima, alteração da libido, pensamentos recorrentes de suicídio e morte, fadiga e também é importante ficar atento aos sintomas físicos que podem estar relacionados a transtornos emocionais (dores no corpo), todos esses sinais são alertas importantes.
É extremamente importante a família dos portadores de depressão entender o que é a doença, quais os sintomas, riscos e características para poder ajudar. Depressão não é preguiça ou frescura. A depressão é uma doença psiquiátrica crônica que tem como sintomas oscilações de humor caracterizada por tristeza profunda e persistente, forte sentimento de desesperança que compromete a vida da pessoa. Identificar o problema e procurar o tratamento com profissionais especializados (Psicólogo e Psiquiatra) é o melhor caminho.
Infonet – Se uma pessoa apresentar sintomas de depressão, mas tiver aversão a terapia, como um parente pode ajudar?
CG: É importante a família buscar um serviço de apoio para entender melhor a doença e a importância do tratamento, até mesmo para saber lidar com o familiar acometido pela depressão. Algumas atitudes que podem ajudar é: ser paciente, saiba ouvir, respeitar o momento da pessoa, oferecer carinho, incentivar a iniciar e não abandonar o tratamento, ficar próximo, dar atenção, entender que a pessoa não está neste estado porque escolheu. Mas o melhor caminho é procurar o tratamento o mais rápido possível com os profissionais especializados (psicólogo e psiquiatra). Normalmente o tratamento é medicamentoso e psicoterápico.
Infonet – Como as redes sociais podem prejudicar (ou intensificar) os casos de depressão? Neste momento que as pessoas estão mais conectadas, isso pode prejudicar um paciente?
CG: As redes sociais sempre foi uma fonte de interação social. Atualmente, essa plataforma possibilita benefícios e malefícios, depende da forma como cada um utiliza. Muitas pessoas usam as redes sociais como forma de interagir socialmente com pessoas que não convive diariamente, conhecer novas pessoas, adquirir novas habilidades, receber ou passar informações, entre outros milhares de benefícios. Mas também são diversas variáveis que podem prejudicar a saúde mental. Atualmente o excesso de informação a respeito do novo coronavírus é um tema que causa ansiedade, crise de pânico, medo de morrer e provoca pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais. É importante controlar o excesso de informação recebida e seja somente através de fontes confiáveis de comunicação, existe a chamada Fake News. Outro fator que também pode levar a depressão é a busca constante pela imagem da perfeição. Alguns pacientes apresentavam e/ou apresentam a procura do corpo perfeito, a felicidade constante, ser bem-sucedido, exatamente igual aos amigos ou seguidores famosos que postam imagens em suas redes sociais. O fato de não conseguir ser igual, pode desencadear sentimento de inferioridade, levá-lo à frustração e até a depressão.
Infonet – O número de procura para atendimento psicoterápico aumentou desde o início da pandemia? Como estão sendo realizadas as consultas?
CG: No início da pandemia o percentual de paciente diminui um pouco. Foi um período de muitas mudanças e a maioria das pessoas não estavam acostumadas as sessões de terapia on-line, apesar de já utilizar essa ferramenta a algum tempo, principalmente para pacientes residentes fora do Estado. Mas logo em seguida os números de pacientes voltaram a aumentar e as pessoas começaram a entender o funcionamento e se adequar à nova realidade. Inclusive fiquei surpresa com a grande adesão dos pacientes, principalmente os resistentes a usarem a tecnologia como aliado. Em torno de 95% dos meus pacientes aceitaram tranquilamente utilizar essa ferramenta. Os casos novos mais frequentes que tem surgido são os que necessitam de suporte por se sentirem ansiosos, estressados, tristes, preocupados e inseguros por causa da pandemia. As sessões estão sendo realizadas através das plataformas on-line com a mesma qualidade e duração da psicoterapia presencial.
por Aisla Vasconcelos e Verlane Estácio