O princípio da relatividade nos investimentos

O princípio da relatividade nos investimentos

julho 23, 2020 Off Por JJ

Segundo o princípio da relatividade formulado pelo cientista italiano Galileu Galilei (1564-1642), não existe sistema de referência absoluto pelo qual todos os outros movimentos possam ser medidos.

Quando você está sentado ou sentada na sua confortável poltrona lendo este artigo, pode parecer que tudo está parado em relação às paredes e aos objetos. Mas isso depende do referencial.

Na verdade, todos nós também estamos nos movendo a 100 mil quilômetros por hora em relação ao Sol, enquanto a grande estrela incandescente se move a 850 mil quilômetros ao redor do centro da Via Láctea.

Em relação a algum ponto do universo, definitivamente não estamos parados.

Ao meu ver, a teoria cai como uma luva na sua experiência como investidor ou investidora. Ninguém, a não ser você, vai entender o impacto de suas escolhas, sejam elas positivas, sejam negativas.

Além disso, somente você vai sentir o quanto essas experiências também mexem na sua percepção.

Frequentemente, vejo que cada vez mais pessoas estão dando mais importância à experiência que estão tendo, não porque estejam conscientes dela, mas porque conseguem fazer comparações – ainda mais agora, quando vivemos a era das redes sociais, do compartilhamento de informações.

Comparamos o que possuímos com o que os outros têm, o quanto ganhamos com o que os outros ganharam, e comparamos os nossos investimentos e informações com as que rolam na internet.

E, sempre que fazemos isso, olhamos a situação com a nossa visão relativa em relação a tudo o que está acontecendo e refletimos se estamos bem ou não.

Ao investir, nosso referencial é bem tangível: sabemos o quanto trouxemos de dinheiro para o mundo financeiro e quanto temos após realizar algumas aplicações ou investimentos.

Mas o mais interessante é que, a partir desse entendimento, o nosso referencial relativo cria algumas derivações que vêm da dúvida, do medo, da confiança, das informações que circulam e do contexto em que estamos inseridos.

Isso cria um vértice de novas expectativas. A pessoa que teve uma experiência negativa só espera voltar para o seu ponto relativo inicial, o zero a zero, para sair do mundo dos investimentos, pois não quer mais sentir dor.

Já a pessoa que está tendo uma experiência boa se prepara para entrar com mais energia no mercado. O fato é que, na Bolsa, você nunca mais terá a mesma percepção a cada dia que passa.

Isso é muito bem exemplificado com o atual momento em que vivemos.

Vejo muitas situações em uma mesma fotografia: as pessoas que chegam à Bolsa e se preparam para investir; as que terminam sua primeira experiência; as que se recuperam do prejuízo da queda devido à crise gerada pela pandemia da Covid-19; as arrependidas por terem saído com o prejuízo quando o mercado atingiu seu circuit breaker; as que estão felizes por terem pegado a oportunidade de alta do ano; ou, ainda, as que se convencem de que está tudo errado com os mercados ou que a Bolsa está precificando uma rápida recuperação da economia.

Cada pessoa tem um ponto de vista e todos eles estão certos, mas cada uma delas também corre o risco de estar errada nas suas escolhas se não souber entender e medir que, na prática, o que importa é somente uma coisa: saber se, de fato, valeu a pena fazer a escolha que fez e não se sentir frustrada ou agitada diante do surgimento de um novo cenário, sinal ou momento do mercado ou da sua vida.

Então, deixa eu tentar ajudar a explicar todas as “relatividades” que as pessoas que investem podem estar confrontando neste momento em que a Bolsa está superando os 100 mil pontos.

1. Você está chegando à Bolsa muito animado ou animada, ainda que com poucos recursos financeiros. Para você, todo momento é um bom momento, pois o foco é criar o hábito de fazer aportes e ir aumentando a massa crítica de capital.

Existe um valor relativo e outro absoluto quando você vê a variação do capital, ou seja, o valor relativo não cria uma mudança drástica de valor absoluto. Exemplo: 10% de R$ 100 é R$ 10, um valor que não vai transformar a sua vida.

Mas 10% de R$ 10 mil é R$ 1 mil, e você já consegue fazer algumas coisas interessantes com esse montante. Sendo assim, o foco aqui é criar o hábito de investir e ir se acostumando com as oscilações no tempo;

2. Você está chegando à Bolsa com um bom recurso, mas sem experiência.

Para você, a calma é importante, principalmente para não investir de uma só vez o seu capital.

Existem alguns desafios: a) você não entra com todo o capital que queria, a Bolsa sobe, e você fica fazendo conta de cabeça para saber quanto deixou de ganhar; b) você aporta todo o seu capital e a Bolsa cai, e isso gera uma grande dor, pois esse capital (dinheiro) tem uma memória muito importante para você; c) você faz aportes recorrentes, sem se preocupar com o resultado do curto prazo, e busca suavizar a sua experiência inicial. Se cair, sabe que tem mais uma sequência de aportes a serem feitos; se subir, ok, está subindo porque esse é o caminho natural de bons negócios;

3. Você está chegando à Bolsa com recursos e experiência.

Recomendo que tenha disciplina e avalie muito bem a assimetria que o mercado está apresentando, pois, se as coisas não saírem como planejadas, a frustração vai aumentar.

Estamos em um momento paradoxal: de um lado, a crise mais impactante da história, que obrigou os bancos centrais do mundo inteiro a injetar um fluxo financeiro jamais visto; por outro, uma taxa de juros que estimula a tirar toda e qualquer pessoa da inércia e da morosidade, obrigando-a a aprender a assumir riscos e fazendo com que os preços dos ativos financeiros subam;

4. Você entrou na Bolsa no início do ano e fez aportes de forma recorrente.

Parabenizo você pela sensação de dever cumprido, mas tenho certeza de que sofreu com as dúvidas no meio do caminho. Calma, agora você já pode falar que realmente é um investidor ou uma investidora que passou por fortes momentos de incertezas;

5. Você entrou na Bolsa em março sem conhecimento de como operar e surfou a grande onda de alta desde então.

Minha sugestão é olhar para os ativos que comprou, analisar se alguns são duvidosos, ajustar a sua carteira, buscar qualidade, diminuir o risco que tomou a mais do que o necessário e estudar, pois o mercado não vai se comportar sempre da mesma maneira;

6. Você saiu da Bolsa próximo das mínimas da crise.

Entenda que isso faz parte e é difícil expor a nossa história ao incerto e vê-la desaparecer diante dos nossos olhos. Somos impactados por vieses comportamentais – eu mesmo costumo dizer que cometemos sete erros importantes, mas estou sempre de olho para não os cometer (isso é assunto para outra coluna).

Enfim, cada pessoa terá a sua experiência no mercado de ações, e a relatividade se dará pelo contexto que ela vai viver, tanto internamente (suas experiências pessoais) quanto externamente (momento da Bolsa).

O momento é de alta – quem sabe veremos o Ibovespa em 120 mil ou 150 mil pontos. Mas, antes disso, poderemos vê-lo em 90 mil.

O que vai acontecer daqui para a frente é imprevisível, mas é a sua percepção como investidor ou investidora que vai ditar como você lidará com cada uma das situações.

Existem muitos outros pontos de vista que você pode ter sobre a Bolsa. Para o momento, sugiro que você escreva nos comentários o seu para que mais pessoas possam se identificar.

Abraços,

Guga Almeida