Para economistas, abandonar isolamento durante pandemia pode levar a cenário ainda pior no futuro

Para economistas, abandonar isolamento durante pandemia pode levar a cenário ainda pior no futuro

abril 2, 2020 Off Por JJ

Foto conceitual do COVID-19 (novo coronavírus) e globo terrestre, feita em estúdio
(CADU ROLIM / FOTOARENA
/ ESTADÃO CONTEÚDO)

SÃO PAULO – Três frases analisadas por um grupo de economistas de renome de diversas universidades americanas apontam que, na visão deles, há um falso dilema entre salvar a economia ou a saúde em meio à pandemia do coronavírus.

De acordo com pesquisa publicada no final de março pela escola de negócios da Universidade de Chicago, conhecida pelo liberalismo, a maior parte dos economistas avalia que abandonar as medidas de isolamento social no atual estágio de propagação da Covid-19 poderia ser ainda mais danoso em termos econômicos lá na frente.

A avaliação é de que, com o lockdown, haverá sim um grande impacto na economia. Contudo, ele deverá ser tolerado, sob pena de agravar o impacto econômico no futuro caso não haja isolamento.

Os economistas tiveram que dizer se concordavam fortemente, concordavam ou discordavam de três afirmações feitas a eles sobre o coronavírus e o impacto na economia.

A primeira frase é sobre se “uma resposta abrangente de políticas adotadas contra o coronavírus envolve tolerar uma contração bem expressiva da atividade econômica, até que a difusão da doença caia de forma significativa”.

52% dos pesquisados concordam fortemente com a afirmação, 36% concordam, enquanto 5% estão incertos, enquanto nenhum dos respondentes discorda.

Contudo, avalia José Scheinkman, da Universidade de Columbia, é crucial preservar a capacidade das empresas de todos os tamanhos para que elas retornem rapidamente uma vez que o distanciamento social não seja mais necessário.

Para o economista Michael Greenstone, de Chicago, uma questão que se coloca é que a contração não se deve apenas às  políticas de contenção, mas também a mudanças de comportamento que as pessoas estão tendo de qualquer maneira.

Além dessas observações, há aqueles mais otimistas e os mais pessimistas sobre o tempo de duração do lockdown e também sobre quando se dará a retomada. Para Larry Samuelson, da Universidade de Yale, o que já se vê é um cenário de uma das maiores recessões da história, sem uma perspectiva de fim. Já para Kenneth Judd, de Stanford, haverá sim uma grande contração econômica, mas que pode ser de curta duração.

Também há considerações sobre como será o fim do isolamento social. Daron Acemoglu, do MIT, sugeriu que pode ser ideal escalonar o retorno ao trabalho para grupos de baixo risco depois que o pico da doença passar.

A segunda afirmação é sobre se “abandonar o isolamento severo, em um momento no qual a probabilidade de ressurgimento das infecções continua alta, causará dano econômico maior do que seguir com o lockdown para eliminar o risco de ressurgimento da doença”.

41% concordam fortemente com a afirmação, 39% concordam (ainda que não enfaticamente), enquanto 14% estão incertos (e, novamente, ninguém discordou).

“Não sou um epidemiologista, mas tudo o que leio sugere que um fim prematuro do isolamento poderá sair pela culatra”, afirma Anil Kashyap, da Universidade de Chicago.

Já para Christopher Udry, da Northwestern, a chave é reduzir a probabilidade de ressurgimento da doença direcionando melhor as medidas preventivas. Até que isso aconteça, um distanciamento social estrito será necessário.

Por fim, está a terceira frase: se uma otimização de recursos envolveria ter o governo “investindo mais  em expansão da capacidade de tratamento através de construção de hospitais temporários, a aceleração da testagem, elaboração de mais máscaras e ventiladores, além de dar incentivos financeiros para a produção de uma vacina bem-sucedida”.

66% concordam fortemente com a proposição, enquanto 27% apenas concordam, sendo que nenhum economista informou que está incerto ou que discorda da proposição.

Entre críticas à velocidade do governo americano em comprar testes e equipamentos, William Nordhaus, de Yale, destaca: é difícil saber o que é investir demais contra a pandemia ao levar em consideração a duração e a profundidade da recessão.

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