“Não dá para investir 99% na velha economia predatória e 1% na sustentabilidade”, diz Marina Silva
julho 17, 2020SÃO PAULO – Com o mundo inteiro discutindo formas de se reerguer diante da crise causada pela pandemia, os debates sobre modelos de desenvolvimento sustentáveis foram acelerados. Marina Silva, uma das principais vozes sobre o tema no país, disse que a saída para a atual crise civilizatória que o mundo enfrenta está na sustentabilidade.
“Não dá para continuar alocando 99% dos recursos para a agenda da velha economia predatória e 1% para a agenda da sustentabilidade. Agora é a hora de fazermos de fato essa transição”, disse a ex-ministra do Meio Ambiente.
Marina participou nesta quinta-feira (16) do painel “O papel dos investidores na construção de um Brasil sustentável”, na Expert XP 2020, congresso de investimentos anual do grupo XP Inc.
A ex-ministra disse que, se no passado governos e sociedade eram divididos entre socialistas, capitalistas, liberais e conservadores, mas ao mesmo tempo todos se classificavam como desenvolvimentistas, agora todos são chamados para se tornar “sustentabilistas”.
“A sustentabilidade não é algo de um grupo, é uma necessidade civilizatória. É por isso que fundos de investimento não querem investir em quem tem economia predatória. É por isso que governos estão buscando sinergia entre investimentos públicos e privados para que, ao mesmo tempo que saiamos da crise econômica agravada pela pandemia, possamos sair da crise social e da grave crise ambiental que ameaça não apenas parte da vida, mas toda a vida no planeta”, disse.
Ao analisar o cenário brasileiro mais especificamente, Marina afirmou que as gestões de governo anteriores reduziram o desmatamento da Amazônia em 83% com o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, mas disse que esse “ciclo virtuoso” foi rompido pelo atual governo.
“A economia e o agronegócio estavam crescendo e o desmatamento caindo. E os investidores externos, obviamente, ficam mais tranquilos em uma situação como essa. Agora temos um retrocesso ético e político que faz o Brasil não só ter recursos a fundo perdido, que poderiam ser investidos no fortalecimento da governança e no desenvolvimento de pesquisas e atividades produtivas sustentáveis, mas esses recursos estão parados há um ano e meio”, disse.
Ela afirmou que a visão de que a economia se opõe à ecologia é a grande barreira que o país precisa romper para que haja uma realocação de capital que favoreça os projetos sustentáveis. E acrescentou que essa barreira se sustenta em decisões políticas e éticas concretas, que poderiam ser revertidas partir de ações não só do governo, mas da sociedade civil e dos empresários.
“Não dá para os recursos da agenda da sustentabilidade serem uma espécie de ‘santa indulgência’ daqueles que estão investindo na agenda predatória”, afirmou a ex-ministra.
Ao destacar a abundância de recursos naturais e culturais do País – que é dono 20% das espécies vivas do mundo, 11% da água doce do planeta e de uma “diversidade cultural invejável”, com mais de 200 povos, que falam 120 línguas – Marina defendeu que o Brasil teria tudo para ser uma nova potência global. “O Brasil é o país que está para o século XXI, como os EUA estavam para o século XX.”
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