S&P revisa dois terços dos ratings soberanos globais; América Latina é a região mais afetada
maio 23, 2020SÃO PAULO — Desde que a pandemia do coronavírus provocou uma série de medidas de isolamento e distanciamento social em todos os países do mundo, no início de março, a Standard & Poor’s já revisou dois terços de todos os ratings soberanos globais.
Em relatório divulgado nesta semana, a agência de classificação de risco afirmou que entre todas as regiões do mundo, a América Latina e Caribe foi a que mais foi afetada negativamente pelas revisões anunciadas. Por aqui, a S&P reafirmou em abril o rating BB- do Brasil, mas alterou a perspectiva de positiva para estável.
Segundo a agência, a pandemia de Covid-19 atingirá o pico global na metade do ano, com uma recuperação econômica iniciando apenas no final de 2020.
Dos 135 ratings soberanos classificados pela S&P no mundo, a maior parte das perspectivas das notas está inclinada para o lado negativo. “Entretanto, apesar de nossa previsão de contrações econômicas e déficits fiscais crescentes na maioria dos países classificados, nós reafirmamos mais da metade dos ratings que analisamos.”
A saúde financeira da maioria dos governos será mais fraca este ano, segundo a S&P. Ou seja, a recessão pandêmica deve resultar em classificações soberanas mais baixas. No entanto, a agência ressaltou que é preciso distinguir os impactos de curto e longo prazos.
Sobre a América Latina e Caribe, a S&P reafirmou apenas 12 das 29 notas de crédito soberanas que tem na região. É pouco mais de 40%, o que é abaixo da média global.
“Reduzimos os outros 17 ratings ou revisamos as perspectivas para baixo, principalmente de estável para negativa, mas em dois casos de positivo para estável”, afirmou.
Entre os 12 países da região que possuem classificações em grau de investimento (selo de bom pagador), apenas quatro — Peru, Uruguai, Turks e Caicos e Montserrat — permanecem inalterados desde o início de a pandemia.
Sete dos 17 ratings soberanos de grau especulativo (com maior chance de calote) permanecem inalterados: Paraguai, Guatemala, Honduras, Costa Rica, Barbados, El Salvador e Nicarágua.
Os demais, mais uma vez, ou tiveram os ratings cortados os suas perspectivas reduzidas. A S&P tem classificação de default seletivo em três países: Argentina, Venezuela e Equador — embora apenas um (Equador) esteja relacionado à pandemia.
Além da questão de descontrole fiscal e flexibilidade monetária limitada e, às vezes, um perfil externo fraco, muitos países da região dependem do turismo, remessas e exportações de mercadorias — e todos estão sofrendo neste ano, afirmou a S&P.
“Além disso, a região como um todo tem perspectivas de crescimento do PIB mais fracas do que outras partes do mundo. A taxa de crescimento do PIB per capita de um país é uma variável importante em nossa análise de classificação, pois o crescimento normalmente se traduz em melhores estruturas fiscais e finanças públicas mais fortes”, acrescentou a agência.
Os países com maiores perspectivas de crescimento do PIB a longo prazo estão em melhor posição para estabilizar e reverter uma deterioração de curto prazo em suas finanças públicas, disse a S&P.
Sobre o Brasil, a agência afirmou que a revisão da perspectiva do rating do país no mês passado deveu-se ao efeito negativo da pandemia no PIB e desempenho fiscal em 2020, combinado com o progresso mais lento do que o esperado na “agenda ambiciosa de reformas econômicas”.
“Também esperamos que suas finanças públicas se deteriorem 2020 devido a maiores déficits de gastos e receitas. Como resultado, a dívida líquida da administração pública poderia aumentar cerca de 10 pontos percentuais para 66% do PIB”, disse.
“Apesar das consideráveis incertezas, assumimos que o déficit fiscal cairá lentamente com as perspectivas de recuperação econômica moderada em 2021. Eventos políticos recentes podem afetar a eficácia das políticas do governo em resposta ao choque da Covid-19.”
A agência afirmou que as discordâncias políticas entre o governo e o Congresso se tornaram mais agudas nas últimas semanas, o que poderia complicar a execução de políticas e controles fiscais.
“Essa situação também aumenta a incerteza sobre a aprovação e implementação de reformas estruturais após a crise. Podemos rebaixar o rating do Brasil nos próximos dois anos se — uma vez que os efeitos da pandemia se dissipem — o perfil fiscal do Brasil permanecer mais fraco do que o esperado por um período prolongado, prejudicando as perspectivas de declínio nos déficits do governo”, concluiu.