JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3): o que esperar do setor em 2024, segundo o Santander
dezembro 20, 2023O ano que está acabando será esquecível para os grandes frigoríficos brasileiros. JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) viram seus balanços se deteriorando nas comparações anuais – mas 2024 pode ser diferente para algumas delas, pelo menos para os analistas do Santander.
As duas primeiras empresas, JBS e Marfrig, foram impactadas negativamente principalmente por conta do ciclo de gado nos Estados Unidos, país onde têm grandes partes das suas produções.
Por lá, o ciclo do gado se encontra em um período de baixa, o que encarece o preço da cabeça e, decorrentemente, aumenta os gastos dos frigoríficos. A JBS, por exemplo, viu sua margem Ebitda (Ebitda = Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês/receita) ficar em 5,9% no terceiro trimestre, ante 9,6% um ano antes.
Masterclass
As Ações mais Promissoras da Bolsa
Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita
O time do banco, chefiado por Guilherme Palhares, continua a enxergar um cenário difícil nessa frente em 2024, mas vê tanto a JBS quanto a Marfrig com gatilhos positivos.
“Na nossa visão, 2024 deverá ser outro ano desafiador para a produção de carne bovina nos EUA. Os abates devem continuar a diminuir, pois ainda não vemos sinais de retenção de gado. Isso pode levar a preços altos do gado para os próximos dois anos em um cenário de potencial limitado de repasse”, fala.
No caso da JBS, porém, a normalização da oferta de frango e o forte momento na Austrália mais do que compensam a dificuldade que a empresa deve enfrentar com a US Beef. .
Continua depois da publicidade
Os mercados brasileiro e americano de frango enfrentaram dinâmicas semelhantes em 2023, com a superprodução sendo a característica principal.
Durante o primeiro semestre de 2023, de acordo com os analistas, a queda nos preços do frango levou a um maior nível de alojamentos e pressionou os preços. No segundo semestre de 2023, no entanto, os alojamentos desaceleraram à medida que as exportações diminuíram, o que ajudou a sustentar os preços no mercado interno devido à menor disponibilidade.
“Acreditamos que 2024 está começando melhor do que 2023, pois os alojamentos desaceleraram e os preços no mercado interno estão estáveis. Por outro lado, deve ser um caminho cheio de obstáculos pela frente”, fala.
Já no caso da Austrália, a visão é de que o ciclo do gado melhorou acentuadamente no final de 2023. O time do banco traz que os preços do gado caíram 34% desde o início do ano e o abate de gado em 2023 deve crescer 11% em relação ao ano anterior.
A Seara, braço de frango no Brasil, foi responsável por 11,62% da receita da JBS no terceiro trimestre, a Pilgrim’s Pride, braço nos Estados Unidos, por 23,8%, e a JBS Austrália, por 8,5%. A Beef North America, do outro lado, respondeu por 31,5% do faturamento da companhia.
Além do ciclo do gado
Por fim, há ainda a potencial listagem da JBS nos EUA. “Seria transformadora e poderia preparar a empresa para uma nova fase de crescimento, enquanto permitiria acesso a uma nova base de investidores e financiamento”, acrescentam.
No caso da Marfrig, a principal razão que deixa o Santander otimista é o fato de que a companhia está negociando com um valuation atrativo, com sua fatia na BRF não precificada.
Fora isso, uma maior resiliência do seu negócio nos Estados Unidos e o legado da venda de plantas para a Minerva também são diferenciais, com a companhia provavelmente ficando com os frigoríficos mais lucrativos, que devem aumentar suas margens.
“De 2010 a 2015, a National Beef conseguiu superar a indústria de carne bovina. As margens de Ebitda para os primeiros três anos da parte negativa do ciclo ficaram acima de 4%. Isso foi há 13 anos e a empresa está agora em uma posição ainda melhor para superar o mercado”, dizem. “A Marfrig vendeu uma capacidade de 19,4 mil cabeças por dia para a Minerva no início de 2023. Os ativos legados são maiores e têm maior exposição a produtos de valor agregado, o que deve reduzir a volatilidade dos resultados no futuro”, completam.
Já a Minerva, para a qual o Santander está um pouco menos otimista, pode ser impactada justamente pela sua aquisição. A empresa, como já mencionado, adquiriu diversas unidades de abate da concorrente por R$ 7,5 bilhões.
“A movimentação ainda precisa ser aprovada pelas autoridades antitruste e, embora a aquisição esteja alinhada com os objetivos estratégicos, existem riscos relacionados a uma possível reversão do ciclo do gado no Brasil antes que a desalavancagem ocorra e às incertezas quanto ao tempo de fechamento do negócio”, dizem os analistas do Santander.
Hoje, o ciclo no Brasil está em um momento positivo para os frigoríficos, devido à alta do número das cabeças, o que impulsiona o Ebitda. Se a tendência mudar, a alavancagem da companhia, medida pela relação entre dívida líquida e Ebtida, pode aumentar consideravelmente.
Por fim, a BRF (BRFS3), para o time do Santander, deve surfar no curto prazo por conta da redução de custos, com o preço dos grãos em baixa, e das despesas financeiras, devido aos aportes que a companhia recebeu.
No entanto, a tendência pode mudar. “Os preços do milho têm um risco de alta devido ao estresse climático em áreas produtoras-chave e há ainda um aumento na concorrência de alimentos processados”, explicam.
O Santander tem recomendação de outperform (acima da média do mercado, equivalente à compra) para JBS, com preço-alvo em R$ 37 (potencial de alta de 52%), bem como para a Marfrig, com preço-alvo em R$ 15,70 (potencial de 70,4%). Para a Minerva e para a BRF as recomendações são neutras, com alvos em R$ 8 (7,8%) e R$ 16 (12,3%).