Confronto em Israel puxa ações de petroleiras, mas efeitos ainda são limitados

Confronto em Israel puxa ações de petroleiras, mas efeitos ainda são limitados

outubro 10, 2023 Off Por JJ

As primeiras impressões do mercado brasileiro de petróleo é de que o conflito em Israel, que pegou o mundo de surpresa durante o último fim de semana e já deixou mais de mil mortos entre israelenses e palestinos, deve gerar uma volatilidade de curto prazo nos preços internacionais do óleo, mas não a ponto de proporcionar um cenário parecido com o observado em fevereiro de 2022, com a deflagração da Guerra na Ucrânia.

“Há algum tempo o preço do petróleo vem se mantendo praticamente estável entre US$ 85 e US$ 95, até porque o consumo não tem evoluído. Além disso, não houve uma queda na produção da Rússia como o mercado esperava”, avalia o general Joaquim Silva e Luna, ex-presidente da Petrobras (2021-22).

A cotação do barril de petróleo do tipo Brent com entrega para dezembro, referência para o mercado internacional, avançou 4,2%, para US$ 88,15. Mesmo que essa volatilidade seja momentânea, ela influenciou no desempenho das petroleiras listadas na B3. Prio (+8,78%), PetroRecôncavo (+8,70%), 3R Petroleum (+6,01%) e Petrobras (4,30%) ajudaram o Ibovespa a subir 0,86% nesta segunda-feira (9).

O temor de uma escalada no conflito na região da Faixa de Gaza entre israelenses e o grupo Hamas, a ponto de envolver grandes produtores como Irã e Arábia Saudita ou outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), não é descartada, mas é vista como pouco provável no momento. “Minha impressão é que tudo não passará de mais volatilidade no curto prazo – a não ser que ocorra algum evento ‘fora da curva’”, avalia um importante executivo de uma petroleira listada ouvido pelo IM Business.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi na mesma linha, em entrevista nesta segunda-feira. Prates afirmou que a estatal está monitorando os efeitos do conflito sobre os preços e vê risco de maior oscilação nos valores do diesel no curto prazo. “Não tem que fazer muito mais do que a gente está fazendo, tem que ir acompanhando os preços, principalmente do diesel, e ir se organizando”, explicou. “Isso não quer dizer que vamos fazer ajuste o tempo todo”, disse.

“Devemos ter nessa semana um rali nos preços do petróleo que havia caído bastante na semana passada. As coisas podem piorar dependendo de um maior envolvimento do Irã que parece ter sido o principal apoiador do Hamas. O receio no mercado de petróleo é o Irã fechar o Estreito de Ormuz e nesse caso teremos uma crise sem precedentes”, escreveu Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Contexto diferente

Silva e Luna, que presidiu a Petrobras no início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, enxerga diferenças importantes entre os conflitos. O ponto mais evidente é de que, na guerra no leste europeu, os russos são o terceiro maior produtor mundial de petróleo (9,76 milhões de barris produzidos por dia em 2022) e que, iminentemente, iriam sofrer sanções econômicas pela invasão ao território ucraniano.

“Ali vivemos um contexto que eu chamei de ‘três guerras’ seguidas. Vínhamos da covid, que já tinha afetado a oferta de petróleo por conta das medidas de prevenção. Também enfrentamos a maior seca do Brasil em 91 anos [ligando as usinas termelétricas, movidas a gás natural]”, relembra. “Então a Petrobras saiu de uma importação de 40 navios de GLP [Gás Liquefeito de Petróleo] para 120 navios em um momento em que o preço foi para as alturas”, acrescenta o general.

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O ex-presidente da Petrobras lembra ainda que os preços do barril do petróleo saíram de um patamar em torno de US$ 85 para US$ 110 entre fevereiro e abril de 2022, quando Silva e Luna saiu da estatal. “Chegamos a segurar o preço dos combustíveis por 92 dias, mas chegou em um ponto em que as importadoras nos diziam que havia risco de desabastecimento. Precisávamos de 30 dias para fazer um pedido e receber, senão teria que começar a disputar navio de petróleo no meio do mar – como chegaram a fazer com pedidos nossos”.

Joaquim Silva e Luna, ex-presidente da Petrobras: general comandou estatal no início da Guerra na Ucrânia, em 2022 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Trazendo para o confronto no Oriente Médio, tanto israelenses quanto palestinos não são produtores relevantes da commodity. O temor seria um possível envolvimento do Irã nos ataques do Hamas, conforme noticiou o Wall Street Journal no fim de semana. Os iranianos produziram em 2022 pouco mais de 2,5 milhões de barris por dia, cerca de um quarto da produção diária da Rússia no mesmo comparativo.

“Sinceramente não vejo o petróleo disparar por causa desse cenário [em Israel], somente se isso evoluir para algo maior [e envolver outros países], o que me parece pouco provável no momento”, reforça Silva e Luna, que foi adido militar em Israel nos anos 2000 e presenciou os conflitos da Segunda Intifada, uma revolta de civis palestinos contra Israel que ocorreu entre 2000 e 2005.

O general também vê diferenças entre os ataques do último fim de semana e os ocorridos em outubro de 1973, que deram início à Guerra do Yom Kippur entre israelenses, egípcios e sírios por conta de territórios ocupados por Israel em 1967. O confronto acabou deflagrando a primeira grande crise do petróleo. “O Hamas é um grupo pequeno em termos de efetivo [em comparação com Egito e Síria]. Ali foram países inteiros para uma guerra”. O confronto de 1973 durou 18 dias e matou mais de 20 mil pessoas.

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“As variáveis são bem diferentes. Naquele momento [1973], o preço do barril estava muito baixo e com tendência a subir. A guerra, naquele momento, só acelerou o crescimento do preço do barril. Agora a situação lembra mais o segundo choque de 1989. Isso porque a reação ao segundo choque foi o aumento de juros como vinha ocorrendo agora”, acrescentou Adriano Pires.

IM Business

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