Com incertezas, volume médio de negociações diárias na B3 cai para o menor nível desde 2019
abril 10, 2023O fim de um ano e o começo de um novo, com as festividades e as férias de janeiro, tendem a ser períodos de menor negociação de ativos na Bolsa de valores brasileira. Em 2023, porém, o cenário de baixo volume não se reverteu após esse intervalo e especialistas vêm apontando que investidores estão mantendo mais dinheiro em caixa – comprando e vendendo menos ações por conta das incertezas.
De acordo com um levantamento feito pelo TradeMap a pedido do InfoMoney, o volume médio diário de negócios no mercado à vista nos três primeiros meses deste ano foi de R$ 20,7 bilhões, contra R$ 26,8 bilhões em 2022, R$ 31,5 bilhões em 2021 e R$ 25,6 bilhões em 2020.
“O volume está baixo, extremamente baixo. Quando olhamos o que os investidores locais de equities têm feito, e falado, é que o posicionamento está muito em caixa. A indefinição, a incerteza e a complexidade de traçar um cenário futuro causa isso”, explica Adriano Yamamoto, head da corretora institucional do C6 Bank. “O que muita gente, inclusive eu, esperava que fosse acontecer é que teríamos mais detalhes e algo mais concreto desse novo governo, por exemplo, no que tange o novo arcabouço fiscal”.
Durante os primeiros 100 dias de Governo Lula, encerrados hoje, houve diversas sinalizações econômicas que não agradaram investidores e analistas. Declarações contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contra o atual nível das taxas de juros, e contra as privatizações feitas no governo passado, caso da Eletrobras (ELET6), por exemplo, foram alguns dos fatores que aumentaram a cautela. Reversão de incentivos fiscais, fim da política de preço com paridade de importação na Petrobras (PETR3;PETR4) e mudanças na lei das estatais também pesaram.
“Os investidores estão esperando definições para colocarem seu capital para trabalhar. Por enquanto, a incerteza é muito forte”, debate Yamamoto.
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Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos, afirma também que há um menor apetite por risco no mundo. A maior economia do planeta, dos Estados Unidos, por exemplo, também passa por uma série de indefinições.
“Tivemos uma incerteza adicional recentemente, no que aconteceu com o Silicon Valley Bank [nos EUA] e com o Credit Suisse [na Suíça]. Fomos além da preocupação com juros, inflação e recessão, que já vinha desde o ano passado. E esse sentimento mais negativo, para tomar menos risco, pode ajudar a diminuir a liquidez na Bolsa brasileira. Investidores tendem a diminuir posição em países emergentes”, explica a especialista.
A falência do SVB e a interferência no Credit Suisse aumentaram o temor de investidores mundiais. Nessas situações, os países emergentes, caso do Brasil, tendem a sofrer mais, por serem menos seguros e mais expostos a crises.
Relatório do Bank of America sobre o fluxo de capital no Brasil até o fim de março mostra que no terceiro mês do ano a entrada de dinheiro estrangeiro no Brasil ficou aproximadamente igual à saída – mesmo com os mercados emergentes e a China tendo recebido US$ 7,4 bilhões no período. No ano, contudo, há ainda um fluxo positivo de R$ 6 bilhões para o Brasil, contra US$ 37 bilhões no outro grupo.
“As saídas de fundos locais de ações e de hedge no Brasil, por sua vez, continuam. Na semana passada, vimos saídas de R$ 1 bilhão de fundos desses portfólios. No acumulado do ano, já são R$ 27 bilhões retirados”, acrescenta o banco americano.
Além das incertezas macroeconômicas e políticas locais e internacionais, por fim, analistas também destacam que os maiores níveis de juros e a retirada de liquidez do mercado, por parte de bancos centrais, também têm influência no volume baixo de negociações da B3.
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