Busca por seguro cibernético cresce no país, mas análise das apólices fica mais burocrática

Busca por seguro cibernético cresce no país, mas análise das apólices fica mais burocrática

março 6, 2023 Off Por JJ

O Brasil está entre os alvos preferidos quando o assunto é ataque cibernético, sendo o segundo país da América Latina mais atingido por essas ocorrências, ficando atrás apenas do México.

Levantamento do “FortiGuard Labs”, laboratório de inteligência e análise de ameaças da Fortinet, aponta que o país contabilizou, em 2022, 103,16 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos, um aumento de 16% na comparação com o ano anterior.

A ampliação no número de ataques tem levado mais empresas a buscar proteção por meio do seguro para riscos cibernéticos ao mesmo tempo que as seguradoras adotam critérios mais rígidos para a liberação de apólices.

De acordo com dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados), os prêmios (valores que os segurados pagam à seguradora) saltaram de R$ 21 milhões, em 2019, para R$ 174 milhões, em 2022. Os sinistros (riscos cobertos durante a vigência do seguro), por sua vez, saíram de R$ 1 milhão para R$ 64 milhões no mesmo período.

João Fontes, presidente da subcomissão de linhas financeiras da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais) e líder de linhas financeiras da AIG no Brasil, destaca que o segmento vive um crescimento exponencial no país. Ao mesmo tempo que o mercado teve uma elevação no número de prêmios emitidos, aumentou também a taxa de sinistralidade.

Considerando o mercado como um todo, a sinistralidade atingiu 97% em 2020, foi a 103% em 2021 e recuou para 44% no ano passado. “É difícil para as seguradoras entenderem se essa queda é uma tendência ou foi apenas um ano que a sinistralidade foi mais baixa”, comenta Fontes.

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A insegurança em relação à sinistralidade tem tornado a análise das seguradoras mais criteriosa. Eduardo Bezerra, head de cyber insurance da Wiz Corporate, conta que até 2020, o questionário para o cliente que pretendia contratar um seguro cibernético tinha entre 4 e 5 páginas e hoje chega a 40 páginas de perguntas e pedido de informações.

A advogada Luciana Dias Prado, sócia da prática de seguros, resseguros e previdência privada do escritório Lefosse Advogados, afirma que muitos dos seus clientes não têm conseguido contratar o seguro contra riscos cibernéticos no Brasil e, com negativas das seguradoras daqui, estão buscando a proteção em outros países.

“Tem muita procura pelo seguro, principalmente pelas grandes empresas, mas estamos encontrando muita dificuldade para a contratação, até porque poucas seguradoras trabalham com esse tipo produto por aqui”, diz Prado.

A advogada Camila Calais, especializada em prática de seguros, resseguros e previdência privada do escritório Mattos Filho, concorda que tem sido mais difícil para os clientes contratarem o produto.

“O Brasil tem empresas muito grandes e com apólice na casa das centenas de milhão; tem as empresas de médio porte, com apólices variando entre R$ 30 milhões a R$ 40 milhões; e um mercado menor. Cada um desses mercados vai encontrar alguma dificuldade, mas para coberturas acima de R$ 100 milhões está mais difícil, com clientes tendo que contratar no exterior, sendo que lá também está bem complicado”, comenta Camila.

De acordo com Fontes, o mercado está, de fato, um pouco mais criterioso com relação à análise do risco. Ele lembra que cada seguradora tem seu processo interno de cotação, mas, de modo geral, as análises estão mais completas e complexas.

Ele comenta que na AIG, por exemplo, a sinistralidade ficou em torno de 72%. “Para mostrar o que significa, para cada R$ 1 ganho pela seguradora R$ 0,72 centavos são pagos de sinistralidade. Tem que juntar a isso as despesas da companhia. Se o índice combinado de seguradora, ficar abaixo de 1, ganhou dinheiro, acima de 1 significa que está perdendo dinheiro”, exemplifica ao lembrar que, enquanto o mercado teve crescimento de 72% no ano passado, a AIG apresentou expansão de 90% no mesmo período.

Entre as coberturas previstas no seguro contra ataques cibernéticos, Guilherme Krupellis, diretor técnico da corretora de seguros Vokan, destaca perdas causadas a terceiros e perdas do próprio segurado, como lucro cessante por interrupção do negócio. “Uma eventual multa da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) é uma cobertura adicional que pode ser contratada.”

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Proteção de Dados

Nesta semana, a ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados) publicou resolução que determina os critérios sobre como será calculada a multa e demais sanções administrativas por violação da LGPD.

Com isso, já poderão se aplicadas as penalidades previstas na lei, que vão de advertência, multa de até 2% do faturamento da empresa, no total de R$ 50 milhões por infração e suspensão parcial do funcionamento do banco de dados por seis meses até que se regularize a situação.

“O seguro não minimiza nem relativiza o dever da empresa para evitar os incidentes. O seguro é mais uma camada de proteção”, enfatiza o advogado Luiz Felipe Di Sessa, especializado em prática de proteção de dados e cybersecurity do escritório Mattos Filho.

O advogado Paulo Lilla, sócio da área de tecnologia, proteção de dados e propriedade intelectual do Lefosse, concorda que o seguro não vai resolver o problema da empresa. “O seguro não é ‘bala de prata’ que resolve todos os problemas. Ele ajuda no momento de crise, com multas e penalidades, que agora vai ter com o regulador e vai mitigar os riscos”, diz.

Segundo especialistas, é fundamental que a empresa adote uma política de segurança da informação, faça adequação à LGPD, tenha processos adequados assim como mecanismos robustos para prevenção e resposta rápida caso o incidente ocorra.

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“A LGPD trouxe uma série de exigências para que empresas estejam preparadas para atender aos requisitos e ao se preparar para atender à lei, ela se torna mais elegível também para o seguro”, considera Fontes.