Dividendos de Fiagros alcançam 1,38% em janeiro; valores distribuídos chegam a R$ 2,65 por cota
janeiro 28, 2023O ano começou com os Fiagros (fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais) engordando a conta dos investidores. Segundo levantamento feito por Anna Clara Tenan, especialista em Fiagros da Órama, a taxa média de retorno com dividendos (dividend yield) dos Fiagros tipo FII (que reproduzem a estrutura dos fundos imobiliários) foi de 1,38% ao mês. O valor supera o registrado em dezembro, de 1,27%.
Dado que os dividendos dos Fiagros são isentos de Imposto de Renda, o dividend yield equivale a um retorno de 1,62% fazendo a conta com o gross-up da tributação. Gross-up é um cálculo que permite a comparação de investimentos isentos e não isentos de impostos. O resultado equivale a uma taxa de 145% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) no mês, considerando o número de dias úteis em janeiro.
Nos últimos 12 meses, o dividend yield médio dos Fiagros tipo FII sempre superou 1% ao mês, com destaque para julho e janeiro, quando houve um pico nos dividendos.
Os fundos imobiliários também costumam ter dividendos maiores em julho e janeiro, mas não pelos mesmos motivos. Anna Clara explica que nos FIIs existe a obrigação de distribuir no mínimo 95% do resultado semestral aos cotistas. Se um fundo tiver lucro adicional retido ao final do período, a tendência é que pague dividendos elevados no mês seguinte.
Já nos Fiagros não existe a obrigação de distribuir um percentual mínimo do lucro semestralmente. A especialista destaca que os dividendos elevados em julho e janeiro se justificam nos CRAs (certificados de recebíveis de agronegócio) presentes nas carteiras dos fundos.
A maioria dos CRAs recebem semestralmente os pagamentos dos devedores, atrelados ao ano safra. Por este motivo, os dividendos costumam ser mais elevados nestes meses.
Confira os Fiagros que pagaram os maiores dividendos em janeiro de 2022:
Fundo | Gestor | Segmento | Periodicidade dos Dividendos | Dividendos em Jan/23 | Dividend yield jan/23 | Data de Pagamento | Regra de Distribuição |
NCRA11 | NCH Capital Brasil | CRAs | Mensal | R$ 2,65 | 2,97% | 24/01/2023 | No 17º dia útil do mês subsequente. |
OIAG11
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Fator ORE | CRAs | Mensal | R$ 0,16 | 1,56% | 13/01/2023 | No 10º dia útil de cada mês. |
VGIA11 | Valora Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 0,15 | 1,51% | 18/01/2023 | Até o 13º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
CPTR11 | Capitânia Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 1,45 | 1,47% | 18/01/2023 | Não informado |
XPCA11 | XP Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,14 | 1,43% | 13/01/2023 | Até o 10º dia útil. |
EGAF11 | Eco Agro | CRAs | Trimestral | R$ 4,20 | 1,41% | 13/01/2023 | Até o 10º dia útil do mês subsequente. |
FGAA11 | FG/A Gestora | CRAs | Mensal | R$ 0,14 | 1,41% | 13/01/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
VCRA11 | Vectis Gestão | CRAs | Mensal | R$ 1,50 | 1,41% | 12/01/2023 | No 9º dia útil do mês subsequente. |
JGPX11
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JGP | CRAs | Mensal | R$ 1,30 | 1,36% | 13/01/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
RURA11 | Itaú Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,14 | 1,35% | 06/01/2023 | No 5º dia útil do mês subsequente. |
DCRA11 | Devant Asset | CRAs | Mensal | R$ 0,12 | 1,33% | 13/01/2023 | No 10º dia útil após o encerramento do período de apuração. |
KNCA11 | Kinea Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 1,40 | 1,28% | 12/01/2023 | Não informado |
GCRA11 | Galapagos Capital | CRAs | Mensal | R$ 1,22 | 1,26% | 13/01/2023 | No 10º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
RZAG11 | Riza Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,12 | 1,24% | 13/01/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
SNAG11 | Suno Asset | Híbrido | Mensal | R$ 1,20 | 1,19% | 24/01/2023 | Não informado |
BBGO11 | BB Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,94 | 1,17% | 13/01/2023 | Não informado |
PLCA11 | Genial Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 1,10 | 1,13% | 13/01/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
LSAG11 | Leste | CRAs | Mensal | R$ 1,23 | 1,13% | 13/01/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
AAZQ11 | AZ Quest Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 0,10 | 1,03% | 13/01/2023 | Não informado |
AGRX11 | Exes Gestora de Recursos | CRAs | Mensal | R$ 0,10 | 0,98% | 13/01/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
Fonte: Órama, com dados da Quantum Axis. Dados coletados no dia 20/01/2023. Obs: até janeiro, o EGAF11 pagou dividendos trimestralmente, mas a partir de fevereiro a frequência será mensal.
Perspectivas para 2023
Os dividendos acima de 1% ao mês devem continuar para os Fiagros em 2023, segundo Anna Clara. Para a Órama, a Selic deve fechar 2023 em 11,75% ao ano. “Só a rentabilidade do CDI das carteiras já seria próxima de 1% ao mês. Considerando o spread médio de 4,97%, estaríamos falando de um dividend yield de mais de 1,30%”, calcula a especialista.
Além de entregar retorno acima do CDI recorrentemente, os Fiagros embutem o benefício de serem isentos de Imposto de Renda – desde que os fundos tenham cotas negociadas na Bolsa ou no mercado de balcão organizado, com no mínimo 50 cotistas. “Eles devem pagar rendimentos acima dos FIIs em 2023”, destaca Anna Clara.
Confira a evolução dos dividendos dos Fiagros abaixo:
Por que o rendimento dos Fiagros está superando o CDI?
Os Fiagros entregam bons dividendos porque boa parte deles investem em CRAs (certificados de recebíveis de agronegócio), que historicamente apresentam mais operações atreladas ao CDI. Desta forma, segundo Anna Clara, os Fiagros de CRAs conseguem entregar dividendos recorrentes mais altos do que aqueles que investem diretamente em terras.
“No cenário de juros em patamares elevados ainda para os próximos meses, essas carteiras conseguem se destacar”, explica a especialista. Segundo ela, os gestores têm preferido este tipo de Fiagro, devido à demanda dos investidores por dividendos regulares.
De acordo com o levantamento, em dezembro de 2022, 91% das carteiras dos Fiagros ofereciam CDI mais um spread médio (taxa adicional) de 4,97% ao ano. Em novembro, a rentabilidade vista nas carteiras era CDI mais 4,91%.
Já a parcela de Fiagros com carteiras indexadas ao IPCA (índice de inflação) era menor em dezembro: apenas 9% dos fundos ofereciam IPCA mais 8,71% ao ano, em média. Em novembro, a rentabilidade era IPCA mais 9,02% ao ano.
Se comparado com janeiro de 2022, para ter uma visão do ano, 95% das carteiras dos Fiagros entregavam CDI mais 5,24%, enquanto 5% dos fundos apresentavam um retorno médio de IPCA mais 7,94% ao ano.
É possível perceber que ao longo de um ano, os spreads dos fundos atrelados ao CDI diminuíram, enquanto os indexados ao IPCA aumentaram. Anna Clara destaca que é importante observar algumas questões: a primeira é que em janeiro de 2022, existiam menos fundos negociados (nove), enquanto em dezembro o número alcançava 21.
Outro fator é que muitos fundos ainda estavam em período de alocação dos recursos, captados nas primeiras ofertas, e levaram alguns meses para adquirir ativos, o que afetou as taxas médias das carteiras e a exposição aos indexadores.
Anna Clara cita também o aumento dos spread de crédito em função da alta dos juros. No segundo semestre de 2022, a curva de juros apresentou um movimento de abertura, diante de incertezas fiscais e inflacionárias, o que foi acompanhado pelos spreads dos Fiagros. “O risco do mercado aumentou, então o investidor precisa ter um retorno mais elevado para tomar risco”, justifica.
Os Fiagros, segundo a especialista, têm um cenário promissor pela frente, já que o agronegócio representava 27,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil até 2021. Ela destaca que o crédito subsidiado não era suficiente diante da demanda e, por esse motivo, o mercado de capitais se tornou uma alternativa para empresas e produtores rurais, principalmente de menor porte.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o patrimônio líquido total dos Fiagros alcançou R$ 10,4 bilhões em dezembro de 2022. O crescimento da indústria foi de 544%, se comparado com dezembro de 2021, quando era de R$ 1,6 bilhão.
Os cinco Fiagros que mais pagaram dividendos em janeiro
O Fiagro que mais pagou dividendos em janeiro foi o NCRA11, que remunerou os seus cotistas com R$ 2,65 por cota, bem acima do R$ 1,10 entregues em dezembro. O dividend yield foi de 2,97%.
Anna Clara explica que o fundo recebeu recursos em dezembro, por conta dos CRAs com operações semestrais, o que elevou o valor dos dividendos em janeiro. A média vista nos últimos meses não superava R$ 1,15 por cota. “Durante o semestre, o NCRA11 paga um resultado menor do que o seu potencial e no final do semestre, recebe juros desses papéis e consegue distribuir dividendos maiores”, explica.
Segundo a especialista, a gestora já deixou claro que pretende estabilizar o valor dos dividendos neste ano. Os recursos recebidos no final dos semestres devem acabar sendo redistribuídos para ter dividendos semelhantes todos os meses. Anna Clara acredita que neste novo formato, os dividendos do NCRA11 devem ser superiores a R$ 1,15. Ela explica que a carteira do fundo é composta por 87% de ativos CDI mais 5,7% e 13% em IPCA mais 9,9%.
Já o segundo melhor pagador do mês foi o OIAG11, da gestora Fator ORE, com um dividend yield de 1,56%. O Fiagro tem uma carteira com rentabilidade média de CDI mais 4,9%.
Nos últimos meses, o OIAG11 vinha entregando R$ 0,14 por cota, mas em janeiro conseguiu pagar R$ 0,16. Em relatório gerencial, a Fator ORE explicou que o motivo foi uma venda de ativos, que rendeu ganhos de capital.
Na terceira posição está o VGIA11, da Valora, que pagou R$ 0,15 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,51% em janeiro. Anna Clara explica que o fundo vem se destacando entre os melhores pagadores. Em 2022, por exemplo, foi o segundo Fiagro que mais pagou dividendos, com uma média mensal de R$ 0,15 e dividend yield de 1,53%.
A especialista destaca que o fundo tem uma carteira que remunera a CDI mais 5,6% ao ano, acima da média do mercado. “O Fiagro tem liquidez elevada, negociando quase R$ 2 milhões por dia”, diz. Esse aspecto, segundo ela, ajudou no crescimento do fundo, que tem valor de mercado de quase R$ 700 milhões. “É um dos três maiores Fiagros do mercado”.
De acordo com Anna Clara, a carteira tem risco moderado e é focada em crédito para várias cooperativas e distribuidoras, com operações pulverizadas.
EGAF11 vai pagar dividendos mensais
“O EGAF11 cansou de ser o patinho feio da indústria”, conta o gestor Bruno Lund, diretor da Eco Gestão de Ativos. Durante meses, o Fiagro pagou dividendos de forma trimestral, enquanto todos os outros fundos da indústria entregavam dividendos mensais. Isso provocava dúvidas e uma perda de atratividade dos investidores, acostumados a receber uma renda mensal, lembra o gestor.
Lund explica que isso acontecia porque os CRAs nos quais o fundo investe têm fluxos de pagamento anual e semestral, por estarem atrelados à indústria de insumos, uma das mais seguras do agronegócio. Uma solução para ter dividendos mensais seria o fundo fazer uma gestão de caixa em ativos de renda fixa, mas a ideia não agradava Lund.
“Todos os ativos de renda fixa dentro de um Fiagro são tributados. Se eu alocar o caixa em títulos públicos federais ou em fundos, o rendimento seria de cerca de 100% do CDI. Contudo, com a tributação, a rentabilidade do caixa cairia para 70% do CDI”, explica. Para o gestor, essa alternativa era pouco eficiente e muito onerosa.
A saída foi uma parceria de cogestão com a Multiplica, uma casa também focada no agronegócio, que tinha a pretensão de lançar um Fiagro semelhante ao EGAF11. Segundo Lund, um dos benefícios dessa parceria foi a possibilidade de aplicar o caixa em um FDIC (fundo de recebíveis) com rentabilidade CDI mais 4% ao ano e liquidez em até um dia (D+1). O risco de inadimplência do ativo era menor que 1%.
“Tenho o conforto de aplicar o caixa do fiagro e resgatar em até um dia. Como o FDIC é um fundo também focado em agro é isento de imposto”, explica Lund.
O intuito agora é que o caixa represente entre 7% e 8% do patrimônio líquido do fundo. O EGAF11 deve começar a pagar dividendos mensais em fevereiro.
Segundo Lund, a EcoAgro pretende estabilizar as distribuições de dividendos em 2023. Desta forma, o investidor pode esperar um rendimento mensal de no mínimo CDI mais 4%. Contudo, o gestor reforça que será o fim dos pagamentos exorbitantes em julho e janeiro. “A ideia é ter pagamentos estáveis ao longo do ano, para que o investidor possa contar com isso. Ele não deve esperar que quando o fundo receba recursos os dividendos serão maiores”, diz.
O EGAF11 paga dividendos no décimo dia útil do mês para os acionistas que tiveram posição até o quinto dia útil, quando são anunciados os proventos. Para Anna Clara, com os dividendos mensais, o EGAF11 deve aumentar a sua atratividade e liquidez.
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