Americanas (AMER3): o que acontece com as ações se a varejista pedir recuperação judicial?
janeiro 19, 2023
Um pedido de recuperação judicial (RJ) nos próximos dias ou até mesmo nas próximas horas. Esse foi o cenário desenhado pela Americanas (AMER3) na manhã desta quinta-feira (19), após esforços judiciais de bancos contra a companhia, que na semana passada anunciou ter detectado “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões e dias depois de obter uma decisão judicial protegendo-a por 30 dias de credores.
Nesta quinta, a companhia afirmou que sua posição de caixa é de R$ 800 milhões, dos quais “parcela significativa” estava “injustificadamente indisponível para movimentação na data de ontem”, após BTG Pactual (BPAC11) conseguir na Justiça o direito de bloquear R$ 1,2 bilhão sob custódia do banco.
A situação é bem diferente da apresentada pelo ex-CEO da varejista Sergio Rial, que em conferência com o mercado na semana passada afirmou que a companhia tinha um caixa de R$ 7,8 bilhões, o que deixaria a empresa em uma situação confortável para fazer frente às obrigações correntes e tocar a operação enquanto negociava com os bancos, além se seguir com investigações sobre eventuais fraudes. Porém, sem caixa e com poucos ativos, o pedido de RJ é visto apenas como uma “questão de tempo” (cada vez mais curto).
Com o cenário de recuperação judicial cada vez mais iminente, o que deve ocorrer com a companhia e as suas ações?
Logo após o pedido, o primeiro passo é a suspensão de negociação das ações. A duração dessa suspensão depende do juiz do caso e da Bolsa de Valores. Será feito um levantamento das condições da companhia e do que foi apresentado no pedido, para, então, ocorrer a comunicação ao mercado. Passado o prazo dado pelo juiz, as ações voltam a ser negociadas.
Além disso, uma vez que o pedido de recuperação seja aprovado, a companhia obtém um período de 180 dias (prazo de blindagem) em que todas suas obrigações de dívida ficam suspensas.
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As ações devem sair do Ibovespa e de todos os outros índices uma vez que, de acordo com a metodologia da B3, companhias em recuperação judicial não são elegíveis para fazer parte de nenhum índice.
“Portanto, a Americanas deve ser removida dos índices que participa se a recuperação judicial for sancionada, com essa retirada sendo feita, geralmente, no dia seguinte do anúncio”, destaca a XP.
Abaixo, segue o quadro dos índices que a Americanas faz parte:
Em relatório anterior, a XP já havia indicado quatro principais implicações para a ação da Americanas frente à possibilidade de recuperação judicial, que ganhou força desde então.
A empresa ficaria nesse estado delicado por um período longo, de no mínimo três anos, estima a casa. A saída do Ibovespa poderia impactar negativamente a liquidez dos papéis, avalia.
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Nesse processo, a “arrumação da casa” ou o rebalanceamento da estrutura de capital pode ocorrer por venda de ativos, renegociação de dívidas, conversões de dívidas em ações e aumento de capital. No entanto, a dissolução da companhia também não é descartada.
Em meio a tudo isso, espera-se muita volatilidade para os papéis. “As ações tendem a sofrer durante processos de recuperação judicial, uma vez que as medidas são focadas nos credores e são geralmente diluitivas aos acionistas”, escreveram os analistas Daniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt.
No relatório mais recente, a XP também destacou o que pode ocorrer na sessão logo após o pedido de recuperação judicial, com forte queda dos ativos, lembrando o caso de Oi (OIBR3;OIBR4). A empresa pediu recuperação judicial em 20 de junho de 2016 e, no dia seguinte, as ações preferenciais fecharam em queda de mais de 18%, após terem desabado mais de 30% na mínima da sessão do dia 21. A empresa, cabe destacar, deixou a recuperação em dezembro do ano passado, o que levou a uma disparada das ações na sessão pós-anúncio.
A XP mantém a recomendação “em análise” para a Americanas, em linha com a recomendação em revisão dos ativos por diversas casas de análises logo após o anúncio das bilionárias inconsistências contábeis.
Ao falar também sobre o impacto nas operações da empresa, o Morgan Stanley destacou que, na recuperação judicial, as companhias podem continuar operando, enquanto entram em um processo que acaba resultando em uma reestruturação financeira.
Assim, os analistas da casa acreditam que uma recuperação judicial pode acelerar o ritmo em que a Americanas cede participação no e-commerce nacional (cerca de 15%, segundo projeção para 2022), aponta o banco.
O Morgan Stanley vê o Mercado Livre (MELI34) provavelmente sendo o que capturará a maior participação de mercado deixada pela Americanas, enquanto Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) também aparecem entre as potenciais beneficiários.
Confira os próximos passos da Americanas caso haja recuperação judicial, conforme destaca a XP:
- Apresentação do plano de Recuperação Judicial: a companhia tem até 60 dias para apresentar a primeira versão de um plano de reestruturação, com as principais medidas a serem tomadas para o balanceamento de sua estrutura de capital, que geralmente foca em três principais pilares:
(i) Gestão dos passivos: pode ser feita através da negociação de dívidas (cortes ou extensão de prazo) e conversão de dívida em ações;
(ii) Injeção de capital: a XP estima serem necessários entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões;
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(iii) Desinvestimento de ativos: os analistas da XP acreditam que o Hortifruti Natural da Terra, Grupo Uni.co (Puket e Imaginarium) e a Joint Venture Vem Conveniência podem ser potenciais candidatos.
- Convocação de uma assembleia de credores: a companhia tem até 150 dias para convocar uma assembleia de credores para aprovar o plano;
- Aprovação do plano de reestruturação: a lei prevê que o período de blindagem seja suficiente para a aprovação de um plano, apesar de poder ser estendido por mais 180 dias.
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