Tesouro Direto: taxa de prefixado 2029 e 2033 ultrapassa 12% ao ano com foco do mercado nas eleições

Muito mais do que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (26), em que o consenso prevê que o colegiado irá manter a Selic em 13,75% ao ano, a atenção do mercado está voltada para a eleição deste domingo (30).

Na véspera (25), a informação do jornal Folha de S.Paulo de que o Ministério da Economia estudava a desindexação do salário mínimo e dos benefícios previdenciários acabou exigindo uma rápida ação da campanha de Jair Bolsonaro (PL) para “estancar” possíveis estragos negativos à imagem do candidato à reeleição.

Após a turbulência, Paulo Guedes, ministro da Economia, negou a informação e alegou que “petistas infiltrados” no ministério teriam divulgado estudos antigos. A atitude, no entanto, pode ter sido tardia. Segundo o jornal Valor Econômico, coordenadores da campanha de Bolsonaro identificaram efeitos negativos do noticiário sobre economia na candidatura do chefe do Executivo por meio de pesquisas qualitativas com indecisos.

“O mercado vai ficar na posição defensiva até que se saiba o resultado da eleição no domingo. A percepção das últimas pesquisas é de que a distância entre os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a ficar mais ampla. E isso traz incerteza sobre como poderá ser um novo mandato”, afirma Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

Segundo o profissional, a depender de quem estará no comando do Ministério da Economia, a política econômica terá um viés mais ou menos comprometido com o ajuste fiscal, o que gera apreensão entre agentes econômicos.

A Bolsa opera em queda nesta quarta-feira, assim como aconteceu nos últimos dois pregões, ao contrário do dólar, que apresenta alta frente ao real.

No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos opera com alta nos juros nesta tarde, ao contrário do cenário visto pela manhã, em que as taxas operavam sem direção única. Chama atenção que dois papéis prefixados ofereciam rentabilidade acima de 12% ao ano.

Entre os prefixados, a maior alta é do Tesouro Prefixado 2025, que viu o retorno passar de 11,84%, na véspera, para 11,94% ao ano, na última atualização da tarde. O papel com vencimento em 2033, por sua vez, oferecia uma remuneração de 12,14% ao ano, maior do que os 12,10% vistos na véspera (25).

Os papéis atrelados à inflação também registravam crescimento nas taxas reais. Por volta das 15h25 (horário de Brasília), as maiores remunerações reais eram oferecidas pelo Tesouro IPCA+2045 e pelo Tesouro IPCA+2055, com cupom semestral, ambas no valor de 5,82% ao ano. Na sessão anterior, os dois entregavam um juro real de 5,80% ao ano.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (26): 

Eleições, dedução de TSE

A quatro dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Palácio do Planalto. É o que mostra pesquisa realizada pela Quaest, por encomenda da Genial Investimentos, divulgada nesta quarta-feira (26).

Segundo o levantamento, Lula tem 48% das intenções de voto totais − oscilação positiva de 1 ponto percentual em relação à semana passada. Já Bolsonaro aparece com 42% − mesmo patamar da última pesquisa. Outros 5% dos entrevistados indicam voto em branco ou nulo, mesma marca dos indecisos. Os movimentos ocorreram dentro da margem de erro estimada, que é de 2 p.p. para cima ou para baixo.

Também na cena política, o Ministério da Economia informou na noite de terça-feira (25) que não existe uma proposta a ser adotada após as eleições que trate dos temas que têm sido veiculados pela imprensa, como fim das deduções de gastos com saúde e educação do imposto de renda.

“Supostos estudos, análises, ensaios, opiniões e outros tipos de trabalho eventualmente produzidos pelas áreas técnicas não podem ser incorretamente confundidos com propostas do Ministério ou do Ministro sem que tenham sido chancelados por ele”, disse o comunicado.

Investidores também monitoram reportagem do jornal Valor Econômico, que trouxe hoje que a campanha de Jair Bolsonaro (PL) apresentou ontem (25) uma tabela com o exemplo de oito rádios de Pernambuco e da Bahia que supostamente privilegiaram a exibição de propaganda eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O documento, segundo o jornal, quantifica o tempo de exibição de programas de cada um dos candidatos, mas não detalha os horários e dias, envolve apenas uma amostra colhida entre 7 e 14 de outubro.

A campanha também encaminhou um link da plataforma Google Drive para que Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), juntamente com a sua assessoria e corpo técnico analisem o documento.

Preparação para o Copom

Em dia de decisão do Copom, a expectativa unânime dos analistas é de que o colegiado manterá não só a taxa Selic nos atuais 13,75%, como também o tom conservador no comunicado após a decisão. A explicação é que o balanço de riscos observado pelo Banco Central teve poucas alterações em relação à última reunião, em 21 de setembro.

“Desde a reunião, os dados de atividade real foram mistos. Os serviços foram fortes e mais firmes do que o esperado, mas a atividade de varejo e industrial foi fraca, levando a uma atividade real do IBC-Br em agosto mais fraca do que o esperado”, comentou o Goldman Sachs em relatório.

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O banco de investimentos também destacou o equilíbrio entre um mercado de trabalho mais sólido e índices de confiança firmes do consumidor e das empresas, enquanto os PMIs de manufatura e serviços mostraram dados mais fracos. No front externo, houve uma percepção de inflação global mais branda, mas com a manutenção da pressão sobre a inflação de serviços.

“Esperamos que o Copom deixe a taxa básica de juros inalterada em um restritivo 13,75%, juntamente com uma orientação conservadora, indicando que permanecerá vigilante e avaliará se a estratégia de manter a taxa básica no nível atual por um período de tempo suficientemente prolongado será capaz de garantir a convergência da inflação para a meta”, disse o banco.

A instituição acrescentou ainda que espera no comunicado o alerta de que o comitê não hesitará em retomar o ciclo de alta caso o processo de desinflação não evolua como esperado.

Em entrevista ao Macro Pickers, Fabio Kanczuk, ex-diretor do Banco Central e head de Macroeconomia da ASA Investiments, disse que o Copom não deve “sacudir o barco” no comunicado de hoje.

Para ele, a preocupação do Banco Central não é com taxa do momento, o juro overnight, mas com a curva de um ano à frente. “Na última reunião, ele (o BC) precisou dar sinais, mas de um mês e meio para cá, coisa andaram ao lado dele”, disse. Com isso, ele acredita que o Copom desta quarta-feira precisa ser um “não-Copom”. “Não mexe em time que está ganhando, não fala nada de diferente (no comunicado)”.

Caged

Na cena econômica, o mercado de trabalho formal brasileiro registrou um saldo positivo de 278.085 carteiras assinadas em setembro, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta quarta-feira (26) pelo Ministério do Trabalho. Em agosto, foram abertas 285,3 mil vagas, dado revisado para cima.

O dado de setembro ficou acima das projeções de mercado. O consenso Refinitiv aponta para saldo de 260 mil postos de trabalho.

O resultado do mês passado decorreu de 1,926 milhão de admissões e de 1,648 milhão de desligamentos.

O total de vínculos celetistas ativos em setembro de 2022 alcançou 42,825 milhões, o que representa uma variação de +0,65% em relação ao estoque do mês anterior.

No acumulado do ano de 2022, foi registrado saldo de 2,14 milhões de empregos, decorrente de 17,614 milhões de admissões e de 15,466 milhões de desligamentos.

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