Tesouro Direto: falas de Campos Neto impulsionam taxas, que voltam à casa de 5,80% nos títulos de inflação
setembro 6, 2022O mercado de juros amanheceu em alta nesta terça-feira (6), digerindo as falas mais recentes do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em um evento realizado na noite de segunda-feira (5), o dirigente da autoridade sinalizou que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) – que tem reunião agendada para os dias 20 e 21 deste mês – está em aberto e que o colegiado vai avaliar “um possível ajuste final” da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Rapidamente, a curva de juros passou a refletir as chances de que o fim do ciclo de elevação dos juros tenham ainda mais um capítulo daqui a duas semanas.
Às 9h, os contratos futuros de DI indicavam elevação em diversos vencimentos. Os maiores avanços, de 0,13 pontos percentuais, eram registrados nos contratos com vencimento em 2024 e 2025, que marcavam taxas de 12,95% e 11,81% ao ano, respectivamente.
“Observando os números, parece haver uma boa justificativa para um alívio nos juros”, diz a Levante em relatório. Mas considerando que boa parte da queda recente dos índices de preço – que chegaram a registrar deflação em julho, o que deve se repetir referente a agosto – veio da redução dos preços dos combustíveis, tanto pelas concessões da Petrobras quanto pelo corte de impostos, os analistas da Levante ainda não enxergam necessidade de afrouxar a política monetária.
“Assim, é incorreto considerar que Campos Neto foi hawkish em suas declarações da segunda-feira. Ele apenas deixou claro que a inflação segue estruturalmente elevada e que, como o programa do Chacrinha, seu combate só acaba quando termina”.
O relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, mostrou que os agentes financeiros consultados semanalmente mantinham a expectativa de que a Selic encerrasse 2022 em 13,75% ao ano – o que implicaria que o Copom não realizasse novas elevações de juros daqui até dezembro. Ao mesmo tempo, o mercado aumentou de 11% para 11,25% ao ano a perspectiva para os juros no fim de 2023. As projeções não mudaram nem para 2024 (8,00%) nem para 2025 (7,50%).
Acompanhando o movimento dos futuros, nesta véspera do feriado de Sete de Setembro, as taxas dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto também subiram, e as elevações mais fortes aconteceram nos papéis prefixados de vencimento curto. O Tesouro Prefixado 2025, que oferecia remuneração de 11,77% ao ano na tarde de ontem, começou o dia pagando juros de 11,86%. No papel com vencimento em 2031, que possui cupons semestrais, a alta era menor: a taxa passou de 11,91% para 11,93% ao ano.
Também subiam as taxas dos títulos atrelados à inflação. Em praticamente todos os casos, o avanço era de 0,04 pontos percentuais, levando a remuneração de vários papéis de volta à casa de 5,80% ao ano, mais a variação do IPCA.
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A exceção era o Tesouro IPCA+ 2032, que oferecia remuneração de 5,79% ao ano mais a variação do IPCA – ontem, a taxa era de 5,73%, uma diferença de 0,06 pontos percentuais.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta terça-feira (6):
Campos Neto hawkish?
Em evento promovido ontem pelo Valor Econômico, Campos Neto afirmou que “a gente entende que tem que passar mensagem dura”. “Aproveitamos eventos como esse para nos manifestar e a mensagem que continua valendo hoje é a do último Copom, que a gente disse que avaliaria um possível ajuste final”, disse.
Ele reforçou, em mais de uma ocasião, que o BC vai avaliar um possível ajuste final na reunião do Copom em setembro. No encontro de agosto, o BC disse que avaliaria “a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”.
Como em sua última apresentação, Campos Neto disse que a batalha da inflação não está ganha e que “não é para comemorar”, apesar da melhora recente do IPCA – índice oficial de inflação – e das expectativas de 2022. O presidente do BC voltou a destacar que o principal motivo para melhora no curto prazo são as medidas de desoneração tributária do governo, mas citou que há notícias mais favoráveis em “outros índices” na margem. Campos Neto ainda avaliou que há uma reprecificação da inércia para 2023, que fica menor com as expectativas cadentes para este ano.
Preços dos combustíveis
O preço médio do litro do diesel comum em agosto foi comercializado a R$ 7,42, e do tipo S-10 a R$ 7,51, valores 4,65% mais baratos quando comparados ao fechamento de julho. O levantamento é da Ticket Log, com base nos abastecimentos realizados em seus 21 mil postos credenciados.
Douglas Pina, diretor-geral de Mainstream da Divisão de Frota e Mobilidade da Edenred Brasil, diz que apesar do recuo e do preço do combustível estar abaixo da paridade ante o mercado internacional, quando comparado com o preço comercializado nas bombas em 2021, em que o litro do tipo comum estava R$ 4,83 e o tipo S-10 custava em média R$ 4,89, o combustível está 53% mais caro para os motoristas.
Juros nos EUA e na Europa
Segundo dados do FedWatch, do CME Group, a probabilidade de o Fed (Federal Reserve, banco central americano) elevar de forma mais agressiva a taxa de juros em sua reunião deste mês – para o patamar de 3,00%-3,25% – é de 66% nesta terça-feira (6). Ontem, o índice estava em 54%. Agora, há também 34% de chance de que o Fed eleve a taxa de juros em 0,50 pp.
A reunião de política monetária dos Estados Unidos nesse mês encerrará no mesmo dia da reunião do Copom brasileiro: 21 de setembro.
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Já no Velho Continente, Yannis Stournaras, dirigente do Banco Central Europeu (BCE), avalia que a inflação está próxima do pico e deve iniciar uma “firme desaceleração”, em meio à estabilização dos preços de energia e o arrefecimento dos gargalos globais de oferta. Em artigo publicado na revista Eurofi, Stournaras argumentou que o cenário permitirá que o BCE promova uma “normalização progressiva” dos juros, com a decisão tomada a cada encontro.
“Tanto o momento quanto o ritmo dos movimentos dependerão da evolução de nossa avaliação em relação aos riscos inflacionários, que podem refletir gargalos na oferta, mas também pressões contracionistas sobre os preços”, escreveu Stournaras.