Tesouro Direto: após semana de alta, taxas recuam; remuneração de prefixado supera 13% ao ano
julho 1, 2022As taxas dos títulos públicos operam em queda na manhã desta sexta-feira (1). Nos prefixados, as taxas recuam até 19 pontos-base, enquanto nos papéis de inflação a baixa é de até 8 pontos-base. É uma reversão do movimento observado ao longo da semana, quando as remunerações aumentaram.
Segundo Igor Cavaca, gestor da Warren Asset Management, parte deste movimento ainda está associado à publicação do PCE (índice de preços do consumo, na sigla em inglês) nos Estados Unidos, que veio abaixo do esperado e mostrou uma redução no consumo no país. Trata-se de uma métrica de inflação acompanhada de perto pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para embasar suas decisões de política monetária. “Isso pode levar a uma política monetária contracionista menos intensa do que o previsto, com efeitos positivos para o Brasil”, afirma.
Em compensação, Cavaca destaca que começa a haver uma “abertura da curva IPCA” – o que corresponde a uma elevação da taxas de juros reais, descontando a inflação – especialmente nos prazos mais curtos. O movimento, segundo ele, está diretamente relacionado à aprovação da PEC dos Auxílios, com uma série de itens adicionais que implicam em expansão fiscal neste ano, o que pode impactar os níveis inflacionários até 2024, segundo o gestor.
Atenção ainda para os dados da balança comercial de junho às 15h. As projeções do mercado esperam um superávit de US$ 9,994 bilhões. Nos Estados Unidos, investidores aguardam o PMI da indústria de junho e o indicador ISM.
Dentro do Tesouro Direto, a maior queda era do título prefixado de curto prazo. O Tesouro Prefixado 2025 oferecia, às 9h24, um retorno anual de 12,73%, abaixo dos 12,92% registrados ontem.
Já o Tesouro Prefixado 2029 apresentava uma rentabilidade anual de 12,85% nesta manhã, abaixo dos 12,96% da sessão anterior.
O Tesouro Prefixado 2033 voltou a negociar, após quatro dias suspenso por conta do pagamento de cupom semestral.
Nos títulos atrelados à inflação, a maior baixa nas taxas era do Tesouro IPCA+ 2026. O título público oferecia um ganho real de 5,64%, inferior aos 5,72% oferecidos ontem.
As taxas recuavam entre 2 e 8 pontos-base.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta sexta-feira (1):
Inflação da zona do euro
A taxa anual de inflação ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês) da zona do euro atingiu a máxima histórica de 8,6% em junho, superando o recorde anterior de 8,1% observado em maio, ainda em meio aos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, segundo dados preliminares divulgados nesta sexta-feira pela agência de estatísticas da União Europeia, a Eurostat.
O resultado do mês passado ficou acima da expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam avanço da taxa a 8,4%.
Apenas os custos de energia deram um salto anual de 41,9% em junho, impulsionados pelo conflito russo-ucraniano, após subirem 39,1% em maio. O CPI recorde amplia pressões para que o Banco Central Europeu (BCE) aperte sua política monetária. A meta de inflação do BCE é de 2%.
O núcleo do CPI, que desconsidera os preços de energia e de alimentos, teve acréscimo anual de 3,7% em junho. Neste caso, o projeção do mercado era de aumento maior, de 3,9%. Com informações da Dow Jones Newswires.
Selic e eleições
Com novas pressões salariais no radar em um cenário de estimativas já ao redor do teto da meta de inflação em 2023 (4,75%), economistas avaliam que não é desprezível o risco de o Banco Central ter de avançar com o ciclo de aperto monetário até setembro, no auge da campanha eleitoral. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 20 e 21 de setembro, enquanto o primeiro turno da eleição é dia 2 de outubro.
Neste ano, porém, há uma novidade: a autonomia formal do BC. Conquistada no ano passado, com o argumento também de se desvencilhar dos ciclos políticos, essa independência, na avaliação de especialistas, blinda mais o BC de pressões populistas e dá mais espaço para continuar, se for preciso, a alta de juros mesmo com a eleição.
O Copom já sinalizou nova alta da Selic em agosto, para 13,5% ou 13,75%. Também indicou que pretende deixar os juros mais contracionistas por mais tempo, terminando 2023 provavelmente acima de 10%, para alcançar uma inflação “ao redor” do centro da meta do ano que vem (3,25%).
Para o economista João Fernandes, sócio da Quantitas Asset, essa estratégia parece arriscada, especialmente pensando no cenário de inflação de serviços. Hoje, o economista espera 5,5% para o IPCA em 2023. “Não tem como descartar que as expectativas comecem a subir para além dos 5%. Nesse sentido, a alternativa seria aumentar mais uma vez o juro, para 14,25%, por exemplo”, diz Fernandes.
Da mesma forma, o chefe do Centro de Estudos Monetários da FGV, José Julio Sena, diz que ainda é difícil precisar o fim do ciclo de alta de juros, mas que a diretoria atual não demonstra que deixaria de elevar os juros por causa da eleição. “Claro que a autonomia formal reforça a minha convicção. O ponto é: se o BC sentir que precisa fazer mais aumento, acho que acabará fazendo. No momento, ninguém sabe se será ou não necessário.”