As ações compradas e vendidas pelas gestoras Leblon, Safari e XP na crise
abril 29, 2020SÃO PAULO – Gestores experientes do mercado, como Marcelo Cavalheiro, da Safari Capital, Pedro Chermont, da Leblon Equities, e Marcos Peixoto, da XP Asset, avaliam que a queda do mercado criou uma oportunidade para comprar ações de empresas de ótima qualidade que, em uma situação normal de pressão e temperatura, não estariam nos atuais patamares.
“Estamos em uma zona de compra de ações”, afirmou Chermont, durante live promovida pela XP Investimentos nesta quarta-feira. “A probabilidade de ganhar dinheiro em um horizonte de dois anos no atual patamar de preços é gigantesca.”
Apesar da visão construtiva, os especialistas reconhecem que o cenário à frente não é trivial dado o tamanho dos desafios econômicos e políticos que o país terá de enfrentar. Por isso, a preferência no momento tem se concentrado em apostas seguras de mais alta convicção.
O gestor da Leblon citou a B3 como uma empresa “anti-fragilidade” que tem carregado no portfólio. “Os volumes vão crescer no curto prazo com o aumento dos investidores operando no mercado”, disse Chermont. E, no longo prazo, a posição em B3 mira o processo de desenvolvimento do ainda incipiente mercado de capitais brasileiro, interrompido com a crise, mas que ele acredita que não deve demorar muito para ser retomado.
Rumo foi outra ação citada pelo gestor da Leblon e que consta também no portfólio da Safari. “As pessoas vão demorar para voltar a frequentar os shoppings, mas a movimentação de cargas nas estradas continua e deve se recuperar antes”, diz Cavalheiro, que ainda tem mantido uma posição no S&P 500 para se aproveitar da retomada das Bolsas americanas.
A Magazine Luiza, pelo braço de e-commerce e diante da expectativa de crescimento das vendas virtuais, também consta na carteira da Safari.
Pela mesma tese, Chermont tem carregado ações da Natura nos fundos da Leblon. “A empresa estava em um processo para fazer com que as revendedoras porta a porta fossem para o digital nos próximos três anos. Com a crise, 90% das revendedoras já estão no online.”
Já na XP Asset, o foco se voltou para as exportadoras como Vale e Suzano, e aos frigoríficos Marfrig e JBS. “Não faz sentido uma empresa como a Vale cair 40% em dólar, enquanto pares comparáveis como a Rio Tinto caem menos da metade”, disse Peixoto.
Bye, bye
Já entre as posições que têm perdido espaço nas carteiras, a XP Asset cortou pela metade uma exposição relevante que o fundo carregava em Via Varejo dado o risco gerado pelo fechamento das lojas físicas.
Peixoto ressaltou, contudo, a boa impressão causada pela empresa ao conseguir no meio da crise potencializar seu braço de vendas eletrônicas. “As vendas digitais representavam cerca de 20% da receita da Via Varejo, e subiram para 70% nas últimas semanas”, disse o gestor da XP Asset.
Na Leblon, Chermont conta ter se desfeito totalmente da posição em Via Varejo, além das também varejistas Lojas Renner e Guararapes. “Renner era nossa posição mais longeva, estava desde 2008 na carteira, sendo uma das principais contribuições para a performance do fundo nos últimos anos.”
Risco político
Embora demonstrem uma visão construtiva para a Bolsa, os gestores veem o risco político como um dos principais, senão o principal, no radar do mercado atualmente.
Chermont lembrou que o presidente Jair Bolsonaro vem se aproximando dos partidos do chamado “Centrão”, o que pode levar a um aumento ainda maior dos gastos públicos, indo em direção contrária à agenda defendida pelo ministro da Economia Paulo Guedes.
Segundo o gestor da Safari, os investidores terão de aprender a conviver com os ruídos políticos, que, na visão do especialista, já se manifestavam desde o ano passado e se intensificaram em 2020.
Peixoto, da XP, demonstrou um pouco mais de otimismo com os rumos do governo, e não acredita na saída de Guedes no curto prazo. “Bolsonaro parece ter sete vidas, a popularidade dele não cai mesmo com tantas polêmicas”, disse Peixoto, reconhecendo a falta de previsibilidade quando se tratam das atitudes do presidente da República.
Em defesa do governo
Já Alexandre Mathias, diretor de investimentos da Petros, fundo de pensão da Petrobras, demonstrou satisfação com as medidas compensatórias adotadas pelo governo brasileiro até aqui. “Não entendo as pessoas que dizem que o governo demorou na tomada de decisão”, afirmou Mathias. “Talvez o Banco Central tenha adotado um gradualismo maior, mas que deve mudar na reunião do Copom de maio.”
Com as perspectivas de uma Selic ainda mais baixa do que já está, o dirigente do fundo de pensão afirmou que o comportamento do investidor pessoa física, que não só não resgatou como aplicou na Bolsa em março, deveria servir como um parâmetro para a atuação das fundações no mercado.
“Os fundos de pensão têm que ter um comportamento análogo ou mais educado que esse do investidor pessoa física”, afirmou Mathias, que disse ainda estar avaliando como se dará a recomposição da carteira de ações da Petros após a queda dos mercados.
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