Como o Brasil e o mundo estão repercutindo a saída de Sergio Moro do governo
abril 24, 2020SÃO PAULO – O pedido de demissão do ex-juiz Sergio Moro do comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira (24), gerou repercussão entre autoridades dos mundos político e econômico, bem como na imprensa internacional.
Isso porque, além de afirmar ter sido pego de surpresa com a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, nome de sua confiança, Moro disse que não endossou a decisão. “Fiquei sabendo [da exoneração] pelo Diário Oficial, não assinei esse decreto”, afirmou em coletiva de imprensa, nesta manhã.
Durante o discurso, o ex-ministro ainda revelou uma “insistência” de Bolsonaro em interferir diretamente na atuação da Polícia Federal. Leia mais aqui.
Em resposta ao discurso de Moro, o presidente Jair Bolsonaro convocou, para esta tarde, às 17h, uma coletiva de imprensa.
– Hoje às 17h, em coletiva, restabelecerei a verdade sobre a demissão a pedido do Sr. Valeixo, bem como do Sr. Sérgio Moro.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 24, 2020
A saída do ex-juiz e, agora, ex-ministro da Justiça reforça a dificuldade que o presidente vem enfrentando na articulação política, em meio à pandemia de coronavírus. Na última sexta-feira (17), Luiz Henrique Mandetta, então ministro da Saúde, foi demitido após desentendimentos com Bolsonaro em relação às medidas tomadas pra conter o avanço da crise.
O InfoMoney mostra a seguir como autoridades estão se posicionando em relação à saída e às declarações de Moro em suas redes sociais, e como a decisão está sendo repercutida ao redor do mundo. Confira.
Autoridades, partidos políticos e instituições
No mundo político, enquanto uns lamentam a saída do ex-ministro, agradecendo o trabalho feito por Moro, outros criticam a postura de Bolsonaro.
Luis Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (SFT) e próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comentou em live promovida pela XP nesta manhã a saída de Moro.
“Sergio Moro é a face da Lava Jato, que foi uma mudança de paradigma. A corrupção era a regra do jogo. Em toda negociação relevante havia um desvio de dinheiro, cultura essa que nos atrasou na história. E isso [saída do juiz] revela um certo arrefecimento desse esforço de transformação no Brasil. Mas a história seguirá seu curso independentemente de A ou B”, disse.
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No Twitter, os governadores dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, bem como partidos políticos e autoridades como o presidente nacional da Organização dos Advogados do Brasil (OAB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, entre outros, se posicionaram. Confira:
É hora de falar. Pr está cavando sua fossa. Que renuncie antes de ser renunciado. Poupe-nos de, além do coronavírus, termos um longo processo de impeachment. Que assuma logo o vice para voltarmos ao foco: a saúde e o emprego. Menos instabilidade, mais ação pelo Brasil.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) April 24, 2020
O trabalho realizado sempre foi técnico.
Durante a epidemia trabalhamos mais próximos, sempre pensando no bem comum.
Parabéns pelo trabalho Ministro @SF_Moro. O país agradece!
Outras lutas virão!— Henrique Mandetta (@lhmandetta) April 24, 2020
Mais grave que a saída de @SF_Moro do MJ, foi a razão alegada. O presidente deve uma explicação sobre possíveis tentativas de interferir na autonomia da PF e no andamento de inquéritos no STF. Autonomia e isenção são prerrogativas e pilares do Estado democrático de Direito.
— José Serra (@joseserra_) April 24, 2020
Sérgio Moro reafirmou ser um homem íntegro e comprometido com o combate à corrupção e ao crime organizado ao pedir demissão por não aceitar interferência política no Ministério da Justiça. Lamento a sua saída e desejo sucesso em suas próximas missões.
— João Amoêdo (@joaoamoedonovo) April 24, 2020
Lamento profundamente a saída de @SF_Moro do Ministério da Justiça. Manifesto minha admiração por tudo que Moro representa ao país no combate à corrupção, seja como juiz ou ministro. O Brasil agradece o trabalho e dedicação daquele que trouxe mais esperança para o nosso povo.
— Romeu Zema (@RomeuZema) April 24, 2020
Assisto com tristeza ao pedido de demissão do meu ex-colega, o Juiz Federal Sergio Moro, cujos princípios adotamos em nossa vida profissional com uma missão: o combate ao crime. Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência, tem carta branca sempre
— Wilson Witzel (@wilsonwitzel) April 24, 2020
Hoje sofreram derrota o trabalho técnico, o combate à corrupção e a valorização do mérito. A saída do Min. @SF_Moro, na forma como se deu e pelas motivações apresentadas, em um momento delicado da vida do país, abala os brasileiros que lutam por um país mais justo e transparente.
— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) April 24, 2020
O Brasil perde muito com saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Moro mudou a história do País ao comandar a Lava Jato e colocar dezenas de corruptos na cadeia. Deu sinal de grandeza ao deixar a magistratura, para se doar ainda mais ao nosso País como ministro.
— João Doria (@jdoriajr) April 24, 2020
A OAB irá analisar os indícios de crimes, apontados por Moro. Mas preciso registrar meu lamento e minha indignação com as crises que o Presidente nos impõe, por motivos extremamente suspeitos, em meio a uma crise pandêmica que, de tão grave, deveria ao menos ser a única.
— Felipe Santa Cruz (@felipeoabrj) April 24, 2020
Bomba 💣
A entrevista de Sergio Moro é uma confissão de crimes e uma delação contra Bolsonaro: corrupção, pagamento secreto de ministro, obstrução de justiça, prevaricação. Moro tinha de sair da entrevista direto para depor na Polícia Federal! pic.twitter.com/KIJPu2w1ej— PT Brasil (@ptbrasil) April 24, 2020
O Brasil perde com a saída de Sérgio Moro. Bolsonaro nunca quis um governo de técnicos qualificados. A queda de Sergio Moro mostra que o presidente quer apenas um governo dos que baixam a cabeça para ele e os filhos, no lugar de agirem pelo País.
— PSDB (@PSDBoficial) April 24, 2020
Ter um profissional técnico e experiente como @SF_Moro à frente do Ministério da Justiça dava tranquilidade à população brasileira de que este também seria um compromisso do governo. https://t.co/5iGISXdf7o
— NOVO na Câmara (@novonacamara) April 24, 2020
Repercussão mundo afora
A renúncia do ex-ministro também foi pauta das discussões ao redor do mundo, com cientistas políticos citando o episódio como uma manobra arriscada em meio ao coronavírus, e veículos de imprensa internacionais relembrando o papel de Moro na Lava Jato.
Em sua conta no Twitter, Ian Bremmer, presidente e fundador da consultoria de risco político Eurasia, também comentou o episódio: “O ministro da Justiça Sergio Moro pediu demissão após Bolsonaro demitir o chefe da Polícia Federal, porque investigações estavam chegando muito perto da família do presidente. Moro forneceu credibilidade anti-corrupção para a Administração. Mudança perigosa em meio a uma pandemia mal administrada”, publicou.
Brazil Minister of Justice Sergio Moro quits…after Bolsonaro fires the federal police chief…because investigations were getting too close to President’s family.
Moro provided anti-corruption credibility to Administration. Dangerous turn in middle of badly managed pandemic.
— ian bremmer (@ianbremmer) April 24, 2020
Na imprensa internacional, veículos como os ingleses The Guardian e BBC, o americano New York Times e o argentino Clarin noticiaram a saída de Moro. Confira:
The Guardian
O jornal britânico se referiu ao ex-ministro como um herói para os brasileiros de direita e uma figura de “ódio” para muitos da esquerda. “Com Lula de lado, Bolsonaro obteve uma vitória esmagadora ao se comprometer com o combate à corrupção e apontou Moro apenas alguns dias depois como um símbolo poderoso de suas supostas intenções”, escreveu o veículo, em seu site.
BBC
Na BBC, de Londres, a notícia é que de que Moro fez um discurso condenatório, acusando o presidente Bolsonaro de se intrometer nos esforços da Polícia Federal para combater a corrupção.
“Visto como um cruzado contra a corrupção, ele era uma estrela quando Bolsonaro o convidou para participar do governo. Anteriormente, Moro supervisionou uma enorme investigação sobre corrupção, que expôs bilhões de dólares em subornos e terminou na prisão de muitos empresários e políticos poderosos, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
New York Times
“Sergio Moro, um ex-juiz que se tornou o rosto de uma poderosa repressão anticorrupção que varreu a América Latina, renunciou em protesto nesta sexta-feira depois que o presidente Jair Bolsonaro demitiu o diretor da Polícia Federal”, escreveu o The New York Times.
O jornal americano também citou o discurso de renúncia, em que Moro “contou em detalhes o que chamou de sua conversa final e tensa com o presidente”.
“Moro, 47, foi o líder mais visível de uma investigação de corrupção que começou no Brasil em 2014 e se espalhou por toda a região, levando à prisão de presidentes e poderosos magnatas dos negócios”, destacou o jornal, que citou a prisão do ex-presidente Lula.
Clarin
“A renúncia de Moro, que era um dos ministros mais populares do governo, comoveu o país, indignou simpatizantes do próprio governo e provocou outra vez panelaços em protesto em diversas cidades, que exigiam a saída do presidente”, escreveu o jornal argentino.