Petróleo perto de US$ 70 desafia recuperação econômica global
março 9, 2021(Bloomberg) — O salto dos preços do petróleo chama a atenção sobre como o aumento constante dos custos de energia ameaça criar um entrave à recuperação econômica global e alimenta temores de inflação.
Depois de subir mais de 30% neste ano com cortes da produção coordenados por grandes exportadores e demanda em recuperação após o mergulho com a crise de Covid-19, um ataque com míssil no domingo contra um importante terminal de exportação da Arábia Saudita fez o petróleo Brent ultrapassar US$ 70 o barril pela primeira vez desde janeiro de 2020.
Embora os preços tenham recuado desde então, o impacto sobre a inflação e recuperação global depende da duração do rali.
Crescimento global
Para economistas, o que importa é a causa dos preços mais altos, e não o preço em si. Os custos crescentes de energia devido à forte demanda normalmente indicam um crescimento sólido e resiliente, enquanto o aumento dos preços puxado pela oferta limitada pode pesar na recuperação. Economistas do Morgan Stanley estimam que a commodity precisaria ser negociada a US$ 85 o barril, em média, para a carga global do petróleo ultrapassar as médias de longo prazo.
“Como contexto, a carga global do petróleo ultrapassou pela última vez a média de longo prazo em 2005, mas com o cenário de forte crescimento global, as economias foram capazes de suportar o impacto da alta dos preços do petróleo até 2007, quando a expansão mundial já perdia força e, ainda assim, as cotações do petróleo subiam rapidamente”, escreveram economistas do banco na semana passada.
Leia também:
• Petrobras anuncia alta de 8,8% da gasolina e de 5,5% do diesel nas refinarias a partir de terça
Inflação
A valorização do petróleo tem como pano de fundo o debate sobre a inflação global. Com o salto dos rendimentos dos títulos, investidores continuam a testar autoridades monetárias, como o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, segundo os quais a inflação não é uma ameaça este ano, mesmo com trilhões de dólares de estímulo sendo injetados na economia global.
Os custos do petróleo e dos alimentos estão em alta, embora, como as duas categorias mais voláteis dos preços ao consumidor, geralmente sejam considerados transitórios por autoridades monetárias. E mesmo com os custos de imóveis e semicondutores também subindo, a tendência global prevalecente ainda é de crescimento moderado dos preços.
“Como bons economistas, estamos no meio-termo: a era da inflação escassa parece ter acabado, mas isso não significa necessariamente que a hiperinflação esteja próxima”, afirmou Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING, em relatório de 5 de março.
Bancos centrais
Embora a energia seja um componente importante dos indicadores de preços ao consumidor, autoridades costumam se concentrar nos núcleos dos índices, que excluem componentes voláteis como o petróleo. Se a alta dos preços se mostrar significativa e sustentada, esses custos serão refletidos nas tarifas de transporte e serviços públicos. Esse cenário pressionaria bancos centrais a limitarem o apoio à economia, embora por enquanto continuem a enfatizar que o alto desemprego compensará qualquer pressão inflacionária.
Estagnado em sua profissão? Série gratuita do InfoMoney mostra como você pode se tornar um Analista de Ações em 2021. Clique aqui para se inscrever.