Quais são as primeiras impressões do mercado sobre a anulação das condenações de Lula por Fachin? 5 analistas comentam

Quais são as primeiras impressões do mercado sobre a anulação das condenações de Lula por Fachin? 5 analistas comentam

março 8, 2021 Off Por JJ

SÃO PAULO – A reação do mercado foi imediata. Se os últimos dias já foram conturbados para o Ibovespa, para o mercado de juros futuros e para a moeda brasileira por conta do noticiário político, a reta final do pregão desta segunda-feira (8) trouxe ainda mais turbulência para os investidores em Brasil.

Isso após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anular todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato. Com a decisão, o ex-presidente Lula recupera os direitos políticos e volta a ser elegível.

Após a notícia, o Ibovespa acelera perdas e já cai cerca de 4% por volta das 17h30 (horário de Brasília). O dólar comercial sobe 1,64% a R$ 5,7758 na compra e a R$ 5,7768 na venda. Já o dólar futuro para abril tem alta de 1,54% a R$ 5,784.

Segundo Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, o mercado já estava de mau humor e ficou pior, pois a aceitação do habeas corpus da defesa de Lula foi uma surpresa. Isso porque o único processo que estava no radar em relação a esse tema era o de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, que servia só para a condenação no caso do tríplex do Guarujá e não para as investigações do sítio em Atibaia.

Agora, de acordo com Attuch, os investidores enxergam um cenário extremamente polarizado para 2022, com um segundo turno quase certo entre o atual presidente Jair Bolsonaro e Lula. “Se o mercado se decepcionou com o Bolsonaro nas últimas semanas com a falta de agenda reformista, agora o que se enxerga para o ano que vem são dois candidatos que não são comprometidos com as reformas de ajuste fiscal”, avalia.

De acordo com Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a possibilidade de Lula se candidatar em 2022 aumenta a polarização sendo que, aos olhos do mercado, este é o pior cenário. Com essa decisão, o espaço fica menor para alguém com uma postura mais de centro ser competitivo. O estrategista destaca que Lula tem seus 20% de eleitores fiéis, que não o abandonam por nada, mesmo percentual de Bolsonaro. Isso historicamente leva os 2 para um eventual segundo turno. Olhando para os setores, estatais tendem a sofrer mais nesse cenário.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados se, de fato, for confirmado que Lula vai recuperar os direitos políticos e voltar a ser elegível, haverá um cenário complicado nos próximos dois anos. “A polarização fica instalada desde agora, sem chance para o centro democrático. Com Bolsonaro intervencionista e o PT sem mea-culpa na parte econômica, teremos uma situação muito tensa nos próximos dois anos. Com câmbio mais pressionado e bolsa mais instável”, destaca Vale.

Bruno Musa, da Acqua Investimentos, destaca que ainda é muito cedo para fazer previsões, mas é muito provável que a Procuradoria Geral da República vai recorrer, mas é algo que já estava sendo falado faz algum tempo. “O mercado deve continuar pedalando até entender tudo o que está acontecendo, mas o Brasil é cheio de imprevistos e altos e baixos. Acredito que a pressão no STF ficará ainda maior, o que pode gerar pressão entre os poderes. Mas não acho que vá mudar direcionalmente a trajetória de mercado, já que ainda falta tempo para as eleições”, avalia.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, destaca que a Procuradoria Geral da República (PGR) vai recorrer da decisão de Fachin e que ela pode ser revertida pelo plenário do Supremo.

Ele destaca ainda que essa é uma tentativa de Fachin para salvar a Lava Jato, tentar mostrar que dá para separar o joio do trigo. Contudo, o que resta é um cenário complicado, porque o STF mostra que a pouca credibilidade que tinha está se perdendo, além de ainda transferir para Bolsonaro uma preocupação ainda maior na concorrência pelo poder.

“Bolsonaro pode abandonar toda a agenda econômica e ser ainda mais populista para tentar garantir a sua reeleição. Agrava ainda mais a situação, porque se se esperava alguma mudança de postura em direção à austeridade fiscal, com o Lula forte na concorrência para 2022, Bolsonaro deve tomar medidas de maior gasto, como auxílio emergencial. No entanto, é preciso acompanhar o desfecho total disso no STF, pois a PGR vai recorrer. Nada está decidido”, avalia Agostini.

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