O preço da desigualdade de gêneros

O preço da desigualdade de gêneros

março 8, 2021 Off Por JJ

Todas as vezes que uma jovem deputada assume um mandato e inicia a luta de igualdade de salários entre homens e mulheres, a história sempre parece ser atual.

Mas no Mês da Mulher seria injusto não retornar a 1947 e lembrar daquela que, aos 25 anos, foi eleita como deputada estadual na cidade de Santos, tornando-se uma das primeiras mulheres a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), além de se consagrar como líder feminista que lutou pelos direitos sociais no Brasil, tendo como projetos um abono de Natal que foi o precursor do 13º salário e outro que instituía a remuneração sem distinção de gênero.

Zuleika Alambert (1922-2012) foi escritora, jornalista, deputada e ativista. Juntamente com Ruth Cardoso, lutou pela redemocratização do país e pela criação de instrumentos de políticas públicas em prol da mulher, como o Conselho Estadual da Condição Feminina do Governo do Estado de São Paulo e o Conselho Nacional de Direitos da Mulher do Governo Federal.

Entre suas obras, destacam-se “Uma Jovem Brasileira Na URSS” (1953); “Estudantes Fazem História” (1964); “A Situação E A Organização Das Mulheres” (1980); “Feminismo – O Ponto De Vista Marxista” (1986); “Metodologia De Trabalho Para As Mulheres” (1990); “Mulher – Uma Trajetória Épica” (1997); e “A Mulher Na História – A História Da Mulher” (2004).

Por seu destaque na luta pelo protagonismo feminino na sociedade brasileira, recebeu o título de Cidadã Paulistana em 1983, foi homenageada em 2004 com o Prêmio Bertha Lutz e integrou o grupo de mulheres brasileiras indicadas para receber o Prêmio Nobel da Paz de 2005.

No entanto, de lá para cá e de modo geral, o mundo avançou pouco na igualdade de gênero: menos mulheres que homens têm entrado no mercado de trabalho; a participação de mulheres na política e em cargos privados sênior ainda é inferior à masculina e sua presença em setores emergentes de tecnologia ainda é insignificante.

As conclusões são do último relatório global de paridade de gêneros de 2020 publicado pelo Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum – WEF, na sigla em inglês), em que 152 países participaram do estudo.

O relatório aponta que, para ser capaz de entregar a promessa da Quarta Revolução Industrial para toda a sociedade, fazer prosperar as economias mundiais ou alcançar as metas de desenvolvimento sustentável propostas pelas Nações Unidas, será preciso criar condições de igualdade de metade dos talentos mundiais.

Os motivos disso são, sobretudo, as persistentes disparidades em participação e oportunidade econômicas.

Numa classificação global entre os 152 países, o Brasil ocupa o 92º lugar no quesito que analisa a igualdade salarial entre homens e mulheres que desempenham trabalhos idênticos. Na classificação regional, que compreende a América Latina e o Caribe, entre os 25 países, o Brasil ocupa a posição de número 22.

E por que é tão importante o papel da mulher na economia?

São diversos os estudos e pesquisas que demonstram o poder e a força que a mulher exerce na sociedade e, portanto, a diferença que ela promove na economia.

Um desses estudos, conduzido em 2018 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), concluiu que “mulheres mais fortes financeiramente demonstraram maior probabilidade de investir no bem-estar familiar e a tomar decisões financeiras mais inteligentes, que repercutem na educação e na saúde de sua família” e que coincide com um outro estudo realizado pelo Banco Mundial – “O Efeito do Poder Econômico das Mulheres na América Latina e Caribe” – que mostrou que a participação feminina no mercado de trabalho promove transformações sociais significativas e tem um papel importante na redução da pobreza.

Segundo um levantamento feito em 2015 pelo Instituto McKinsey Global, a igualdade de salário entre gêneros “no qual os países alcancem o ritmo dos países mais igualitários de suas regiões” poderia injetar até US$ 12 trilhões no PIB global até 2025. Em um cenário no qual “mulheres participam na economia de modo idêntico aos homens”, os ganhos poderiam chegar a US$ 28 trilhões no PIB anual global.

Assim, como conclui o próprio estudo realizado pelo FMI, “mais participação feminina leva a mais eficiência e estabilidade financeira” e, conforme resume o estudo do Fórum Econômico Mundial, “a igualdade de gêneros é boa para os negócios”.

Portanto, todas as vezes que uma jovem deputada brasileira assumir um mandato e iniciar a luta de igualdade de salários entre homens e mulheres, vamos entender a importância de continuarmos sendo representadas.

Porque é sinal que a luta iniciada em 1947 por Zuleika Alambert, aquela jovem que viveu intensamente dos 25 aos 90 anos lutando pelos direitos da mulher brasileira, ainda não acabou.

Feliz Dia da Mulher.