Estratégia de sauditas aposta em fim de reinado do gás de xisto

Estratégia de sauditas aposta em fim de reinado do gás de xisto

março 5, 2021 Off Por JJ

(Bloomberg) — A Arábia Saudita acaba de fazer uma grande aposta de que os dias de glória do gás de xisto dos Estados Unidos, que transformaram o mapa energético global na última década, nunca mais voltarão.

Ao manter um controle rígido sobre a oferta na reunião de quinta-feira da aliança Opep+ de produtores de petróleo, o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro de Energia da Arábia Saudita, mostrou que está focado em elevar os preços – e confiante de que, desta vez, isso não incentivará produtores dos EUA a retomar a expansão e roubar participação de mercado.

A percepção vem carregada de uma boa dose de tensão diplomática: a Rússia, o parceiro mais importante da Arábia Saudita na Opep+, tentou convencer o governo de Riade por vários meses a aumentar a produção, temendo que a valorização dos preços do petróleo despertasse os produtores de gás de xisto. Mas os sauditas estão confiantes de que o setor nos EUA se reformou.

Se o príncipe estiver certo, a Opep+ será capaz de elevar os preços agora e recuperar a participação de mercado mais tarde, sem se preocupar com a saturação do mercado pelos rivais do Texas, Oklahoma e Dakota do Norte. Mas se o governo de Riade calculou mal – e já errou sobre o gás de xisto antes -, o perigo será a redução dos preços e da produção no longo prazo.

Os sauditas até agora convenceram os aliados de que a estratégia funcionará. Depois de uma rápida reunião virtual na quinta-feira, a Opep+ concordou em prolongar os cortes da produção, desafiando as expectativas de um aumento. A Rússia, no entanto, garantiu isenção para si mesma e para o Cazaquistão, e aumentará a produção marginalmente em abril.

Após a decisão, vários bancos atualizaram as previsões para os preços do petróleo: o Goldman Sachs aumentou as estimativas em US$ 5 – para US$ 75 no próximo trimestre e US$ 80 nos três meses seguintes.

“Esta é uma medida incrivelmente ousada por parte da Opep+ para estender o rali do preço do petróleo”, disse Regina Mayor, líder do setor de energia da KPMG Global.

Se a história servir de guia, entretanto, podem surgir problemas. A coalizão Opep+, que reúne Arábia Saudita, Rússia e quase duas dezenas de outros produtores de petróleo, subestimou no passado seus rivais americanos, que ano após ano produziram mais do que a maioria esperava. De uma mínima de menos de 7 milhões de barris por dia em 2007, a produção total de petróleo dos EUA mais do que dobrou para um recorde de quase 18 milhões de barris por dia no início de 2020, obrigando o cartel a ceder participação de mercado.

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