Você sabe mesmo o que é o investimento ESG? Presidente da National Geographic explica

Você sabe mesmo o que é o investimento ESG? Presidente da National Geographic explica

março 3, 2021 Off Por JJ

Imóvel, dinheiro, tempo
(nattanan23/Pixabay)

SÃO PAULO – A sigla ESG representa a busca por melhores práticas ambientais, sociais e de governança, e se tornou conhecida inclusive no mundo dos investimentos. O movimento significa aplicar o dinheiro de maneira responsável, indo além da rentabilidade.

Parece simples, mas muitos ainda confundem o ESG com termos relacionados – como investimento de impacto ou filantropia. Jean Case, presidente da National Geographic e CEO da Case Foundation, explicou as diferenças entre os termos e compartilhou sua experiência no assunto durante a Expert ESG, evento promovido nesta semana pela XP Investimentos.

Entender o que é ESG se tornou essencial no mundo das aplicações financeiras. O movimento vem guiando a decisão de muitas pessoas e fazendo com que empresas e fundos de investimentos acompanhem o ESG e até se alinhem às suas práticas.

Em 2020, fundos sustentáveis atingiram a marca de US$ 51,1 bilhões em novos investimentos. É quase o dobro dos cerca de US$ 21,2 bilhões recebidos em 2019, segundo a Morningstar, consultoria de dados especializada em fundos.

ESG x investimentos de impacto

Existem algumas estratégias no escopo de investimentos que se baseiam em fatores socioambientais. Uma delas inclui os investimentos de impacto – que não é sinônimo de ESG, exatamente.

Para um investimento ser de impacto, são necessárias três características. A primeira é a intencionalidade, ou que tipo de impacto essa empresa busca. É conhecer a empresa, e entender se ela tem dentro do negócio o objetivo de impacto. A segunda característica é a mensuração do impacto: como a empresa vem medindo o impacto que quer produzir? Por fim, a terceira característica é a transparência sobre os itens citados. É preciso ser transparente em relação às suas intenções com os investidores. Eles precisam saber o que está sendo feito”, explica.

Segundo ela, essas mesmas características deveriam ser verdade para avaliar investir em empresas que seguem as práticas ESG. Porém, a falta de consistência nos processos de mensuração atrapalha o desenvolvimento do conceito dentro de muitas empresas.

“Eu passei um período observando como o ESG está sendo medido em diferentes empresas, e não tem consistência nos processos. Em alguns casos, se o fundo está indo muito bem, causando impacto positivo no aspecto do meio ambiente, a gestora pode ser reconhecida como praticante do conjunto de práticas ESG ou mesmo ganhar uma boa nota em relação às práticas, mesmo se não tiver times diversos, por exemplo”, afirma.

Assim, para a executiva, é preciso deixar de lado o status que o ESG pode trazer. O termo está em alta, mas o foco deve estar em entender a relação entre as letras. E elas devem ser aplicadas em conjunto. “Para isso, padrões de qualidade precisam ser criados e definidos. Eles darão aos investidores a confiança de que, se a empresa é ESG, está seguindo os conceitos. Não apenas se aproveitando do status da sigla no mercado”, afirma.

Filantropia x retorno financeiro

Jean também ressaltou a diferença entre filantropia, que não deixa de ser outra possibilidade dentro dos investimentos ESG, e aplicações tradicionais.

“Entendo que todo capital pode ter impacto, não importa como é aplicado. Todos os investimentos têm impacto. A questão é: que tipo de impacto? Quando pensamos em filantropia versus investimentos, eu costumo dizer que a filantropia é sinônimo de prejuízo. Você perde 100% do capital. Você investe em alguma causa, e nunca verá esse dinheiro novamente. Mas você faz isso porque, possivelmente, você acredita que esse dinheiro vai fazer a diferença de alguma forma. Está disposto a não ter retorno em troca”, explica.

Mas muitos investidores também querem ver impacto. “O que geralmente vejo é que, onde tem filantropia, tem impacto. Mas, como não entrega, o retorno fracassa em termos de popularidade. Nem todo mundo aposta nisso. Por outro lado, é necessário achar o equilíbrio: ter retorno sem sacrificar o impacto socioambiental no meio do caminho”, defende.

Nesse sentido, a solução pode vir justamente do investimento de impacto. Jean cita o exemplo da companhia de óculos Warby Parker. “A empresa começou com o desejo de ser a companhia de óculos mais popular do mundo. Como parte da estratégia, ficou definido que toda vez que uma pessoa compra na Parker alguém sem condições ganha um óculos de graça. Hoje, não só a Parker é uma grande empresa, como também consegue produzir algum impacto social toda vez que vende uma peça”, diz.

Startups e desigualdade nos negócios

Jean acredita que o venture capital é um dos instrumentos mais importantes para os empreendedores. Porém, esse tipo de investimento ainda é distribuído de forma desigual em termos de gênero e raça.

“Boa parte do mundo entende que o venture capital, que eu chamo de jet fuel [combustível de jatos], é importante. (…) Os retornos advindos de venture capital são altos, mas porque os riscos também são: muitas startups não atingem o sucesso e fracassam. Mas fato é que não há igualdade na direção desse dinheiro”, afirma. O InfoMoney fez uma reportagem explicando os estágios de crescimento das startups.

Segundo Jean, mulheres que começaram empresas nos EUA no ano passado receberam 2,2% do total de valor de venture capital investido, enquanto os homens ficaram com os outros 97,8% desse capital. A situação de negros empreendedores é ainda pior: no ano passado, receberam menos de 1% de investimentos vindos de venture capital, segundo a executiva.

“O investimento ainda é sobre raça, local e gênero – e isso está errado. Não deveria ser sobre sua cor, sua origem ou se você é mulher. Deveria ser sobre a qualidade da ideia, e o potencial que o empreendedor tem para liderar a empresa. Precisamos continuar procurando talentos em todo mundo e trazê-los para os holofotes”, afirma.

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