Bolsa Família fora do teto de gastos ganha força em discussões sobre PEC Emergencial

Bolsa Família fora do teto de gastos ganha força em discussões sobre PEC Emergencial

março 3, 2021 Off Por JJ

O senador Marcio Bittar (MDB-AC) discursa no plenário durante sessão deliberativa ordinária semipresencial (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)

SÃO PAULO – A inclusão do Bolsa Família na reta final das discussões sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial abriu a possibilidade de o programa social ficar fora não apenas dos “gatilhos fiscais” previstos no texto, mas também dos próprios limites impostos pelo teto de gastos em 2021 – regra que limita o crescimento das despesas de um ano à inflação do ano anterior.

Na prática, a ideia de retirar as despesas com o Bolsa Família das restrições impostas pela regra fiscal neste ano abriria a possibilidade de novos gastos ocuparem o espaço. No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), ainda sob apreciação do Congresso Nacional, o orçamento previsto para o programa social é de R$ 34 bilhões.

Ontem (2), lideranças partidárias do Senado Federal apoiaram sugestão apresentada pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que tratava da exclusão do programa social e de quaisquer iniciativas de combate à pobreza das vedações previstas nos “gatilhos” criados pela PEC Emergencial. A redação, porém, não fazia menção ao teto de gastos – ideia que passou a ganhar força nos bastidores.

A PEC Emergencial é apontada pelo governo como caminho fundamental para viabilizar a concessão de uma nova rodada do auxílio emergencial, diante do recrudescimento da pandemia do novo coronavírus no país. A votação do relatório do senador Marcio Bittar (MDB-AC) está prevista para ocorrer na tarde desta quarta-feira (3).

Por se tratar de PEC, o texto precisa do apoio de 3/5 dos membros das duas casas legislativas em dois turnos de votação. Como a discussão foi iniciada no Senado Federal, ainda restaria análise por parte da Câmara dos Deputados. A promulgação do texto é tida como condição fundamental para o governo para a edição de Medida Provisória liberando recursos para a nova rodada do auxílio emergencial.

Com a evolução das discussões sobre o Bolsa Família, a equipe econômica do governo colocou o time em campo para negociar com os parlamentares. No mercado, há uma leitura de que a iniciativa poderia fragilizar a regra fiscal e significar uma deterioração das contas públicas – muito mais do que eventual retirada do programa de transferência de renda da mira dos gatilhos.

Politicamente, o desfecho poderia representar uma nova derrota do ministro Paulo Guedes (Economia) no governo, apesar de eventual aprovação dos gatilhos fiscais, a serem acionados em caso de calamidade pública ou quando o nível de despesas correntes atingir a marca de 95% das despesas totais.

O episódio ocorre menos de duas semanas depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciar a substituição do executivo Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna na presidência da Petrobras. O caso também sucede decisão de zerar impostos federais incidentes sobre o diesel e o gás de cozinha – medida compensada por uma elevação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de empresas do setor financeiro.

O movimento também gera preocupação entre os especialistas em contas públicas. “Seria uma péssima escolha. A retirada de despesas permanentes do teto de gastos é o caminho da contabilidade criativa. Os efeitos são muito claros: abre-se espaço para despesas novas e isso piorará o déficit primário e a dívida pública”, pontua o economista Felipe Salto, da Instituição Fiscal Independente (IFI).

“O risco é, em razão dessa medida, o déficit primário do governo central se aproximar de R$ 300 bilhões em 2021”, diz.

Ao jornal O Estado de S.Paulo, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, disse que, caso a retirada do Bolsa Família do teto de gastos seja aprovada, “o céu é o limite”. “Esse valor pode ser qualquer coisa”, advertiu.

“Os sinais que estão vindo é de pouco compromisso fiscal para o longo o prazo com uma dificuldade da parte política em geral de aprovar ajustes que sejam até leves. Estamos falando de gatilhos que têm impacto em 2023, 2024, 2025”, criticou.

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