Clubhouse veio para ficar? Rede salta 4.900% nas buscas no Google, mas usuários do Android ficam de fora

Clubhouse veio para ficar? Rede salta 4.900% nas buscas no Google, mas usuários do Android ficam de fora

fevereiro 9, 2021 Off Por JJ

(Unsplash)

SÃO PAULO – A nova rede social Clubhouse, focada em conversas por áudio, ganhou muita popularidade nos últimos dias: apenas entre os dias 1 e 9 de fevereiro as buscas pelo aplicativo saltaram 4.900% na comparação com todo o mês de janeiro, segundo dados exclusivos do Google enviados ao InfoMoney. Ainda, nas últimas 24 horas, o Brasil foi um dos dez países que mais buscou por “Clubhouse”.

A rede social também apresentou um salto impressionante no número de usuários: até dezembro, eram cerca de 600 mil. No último dia 5, já eram 6 milhões de usuários, segundo informações da Backlinko, consultoria especialista em estratégias e treinamento de SEO (sigla em inglês para “otimização de mecanismo de busca”).

Paul Davison e Rohan Seth, ambos ex-funcionários do Google, fundaram a startup em abril de 2020 em meio à pandemia. Hoje, a empresa já vale US$ 1 bilhão, conforme o site The Information divulgou após conversas com pessoas próximas à empresa. Entre os investidores estão as companhias de venture capital Andreessen Horowitz e Kortschak Investments, além de Tim Kendall, CEO da Moment Health, empresa de saúde focada em bem-estar.

O que é a Clubhouse? 

Fato é que os desenvolvedores da startup informaram em janeiro que começariam a trabalhar na versão Android em breve. Embora não há previsão para isso se concretizar, foi um sinal de que os usuários Android terão acesso à rede.

“Desde os primeiros dias, quisemos construir o Clubhouse para todos. Com isso em mente, estamos entusiasmados em começar a trabalhar em nosso aplicativo Android em breve e em adicionar mais recursos de acessibilidade e localização para que as pessoas em todo o mundo possam experimentar o Clubhouse de uma forma que lhes pareça nativa”, disse a empresa em um post em seu blog.

“Há estudos que mostram que usuários da Apple têm mais o perfil de early adotpters, ou seja, têm mais predisposição a usarem uma nova tecnologia que os usuários Android. A partir disso, é preciso fazer os testes técnicos. Você precisa validar o seu produto com um grupo menor de pessoas antes de expandir muito rapidamente”, explica Luísa. “Toda startup faz isso: trata-se de encontrar o MVP [sigla em inglês para “produto mínimo viável”]. O próprio Instagram, no início, só funcionava para usuários da Apple. Até hoje, algumas funcionalidades funcionam antes apenas para o iOS e depois são liberadas para o público geral.”

A docente acrescentou que vincular a rede social à Apple “é uma forma de associar a nova rede com algo consolidado e que já tem sucesso”, explica. “Assim, excluir o Android foi uma estratégia de negócio. A empresa optou pela estratégia de escassez: poucos convites e menos usuários, o que vem se provando acertado”, diz.

Mesmo assim, Luísa entende que a chegada do Clubhouse ao sistema Android é questão de tempo. “Não faz sentido, do ponto de vista de negócio, ficar de fora do Android. Eles estão validando o produto em um sistema operacional com menos volume de usuários para testar a aderência ao mercado e ter a capacidade técnica para ajustar algumas coisas e depois ampliar a atuação”, diz.

A febre veio para ficar? 

Naturalmente, ainda é cedo para cravar se o Clubhouse vai se consolidar como uma rede social popular ou se é uma novidade passageira. O mercado ainda está entendendo como a rede funciona.

Luísa acredita que o aplicativo tem potencial para ficar. A demanda existe, já que o interesse na rede vem subindo rapidamente, como mostram os dados de busca do Google. Para além do interesse atual, a rede pode se consolidar pela possibilidade de monetizar o conteúdo.

“Já tem gente monetizando. As pessoas estão vendendo convite de entrada por valores que variam entre R$ 300 e R$ 500 cada. Claro que não é a forma ideal de monetização, mas as pessoas já encontraram caminhos. Há também a possibilidade de fazer cursos e marcar horário com os alunos. O professor envia o link e libera os acessos à sala privada conforme os alunos forem pagando. No caso de influenciadores, é possível cobrar ‘ingressos’ para ver palestras e eventos feitos dentro da plataforma. Quanto mais exclusivo é o conteúdo, mais caro dá para cobrar. Se um consultor der aulas para dois ou três alunos em uma sala privada, consegue dar mais atenção. Pode ser uma forma concreta de fazer dinheiro”, explica a professora.

Felipe Russi, diretor de marketing da Tatix Full Commerce, empresa especializada na gestão e operação de e-commerce, acrescenta que outra forma de vender dentro da plataforma seria por meio de comando de voz. “A popularização de assistentes pessoais virtuais tende a tornar as compras realizadas por comando de voz cada vez mais comuns. É esperado que as conversas conduzidas por inteligência artificial fiquem cada vez mais naturais e eficientes, enquanto isso os recursos humanos ficam livres para as tarefas nas quais são insubstituíveis. Baseando-se nos históricos de buscas e de compras dos consumidores, as lojas podem oferecer recomendações mais assertivas”, diz.

Um em cada cinco consumidores nos EUA já fizeram alguma compra por meio de um dispositivo controlado por voz, como o Amazon Echo ou Google Assistant, segundo aponta o estudo Future of Retail 2017, da agência de marketing Walker Sands. Estima-se que, até 2022, o volume transacionado por assistentes de voz será de US$ 40 bilhões, de acordo com uma pesquisa da OC&C Strategy Consultants.

Porém, Luísa diz que o caminho não é tão simples. “O grande desafio virá quando mais usuários entrarem para a plataforma. Se nada fica gravado, como controlar a propagação de discursos de ódio, por exemplo? Fica difícil comprovar algo. É um ponto de atenção. Outra questão tem a ver com a infraestrutura tecnológica para aguentar todos os usuários ao mesmo tempo. É um volume de conteúdo muito grande acontecendo ao vivo e a todo momento. A empresa precisa investir em bons servidores e muita tecnologia para evitar que o app caia”, diz.

Profissão Broker: série do InfoMoney mostra como entrar para uma das profissões mais estimulantes e bem remuneradas do mercado financeiro em 2021. Clique aqui para assistir.