Após IPOs de Méliuz e Enjoei, movimento de startups na Bolsa deve crescer, diz sócio da Monashees
janeiro 26, 2021SÃO PAULO – De um mês para o outro o volume total de recursos capitados por startups na Bolsa brasileira, a B3, passou de zero para R$ 1,79 bilhão. As duas empresas protagonistas desses números foram a plataforma de brechós Enjoei (ENJU3) e a companhia de cashback Méliuz (CASH3), que fizeram suas oferta em novembro de 2020. Por trás de ambas as histórias está a gestora de venture capital brasileira Monashees. Para Marcelo Lima, sócio da gestora, o acontecimento foi um marco que deve estimular outros empreendedores a levar suas startups para a Bolsa.
“Tradicionalmente, o capital para empresas de tecnologia no Brasil sempre veio dos Estado Unidos e da Ásia. Isso criava uma série de restrições. Ter o caminho do IPO [ oferta inicial de ações, na sigla em inglês] destrava muita oportunidade de crescimento”, disse durante conferência para investidores organizada pelo banco Credit Suisse.
Embora Lima não tenha falado especificamente das empresas investidas pela Monashees, é bem provável que algumas delas venham ao mercado em breve. A gestora — fundada em 2005 por Eric Acher, executivo com passagens pela McKinsey e pelo General Atlantic, e por Fabio Igel, herdeiro da família que controla o grupo Ultra — possui cerca de 83 companhias ativas em seu portfólio. São nomes como a startup de logística Loggi, o e-commerce de móveis MadeiraMadeira, o banco Neon, o e-commerce de produtos para pets Petlove e startup de entregas Rappi.
A pioneira de venture capital no Brasil já levantou nove fundos de venture capital. O mais recente, em 2019, foi de US$ 280 milhões. Agora, a gestora ,que sempre focou em rodadas semente e series A, está montando um novo fundo para investir em empresas até o estágio pré-IPO.
O futuro de Enjoei e Méliuz
O apetite dos investidores por companhias de tecnologia no Brasil parece alto. Desde o IPO, as ações da Méliuz já subiram 180% e as da Enjoei, 57%. Ao contrário de outros setores, em que as companhias tendem a entrar na Bolsa com uma posição já consolidada no mercado, no caso das startups o IPO acontece em um momento em que ainda lutam para construir a parte central de seus negócios.
“Agora com capital aberto a pressão é um privilégio. A gente já é acostumado a ter sócio e esse frio na barriga motiva a levar a companhia para o próximo estágio”, afirmou Tiê Lima, fundador da Enjoei, sobre o processo de IPO em painel do Credit Suisse. Segundo o empreendedor, o objetivo da companhia, fundada em 2009, é ser uma plataforma que vai auxiliar marcas a participarem da economia circular.
“A gente entende que trazer as marcas para participarem desse processo pode ser muito gigantesco. As marcas de moda estão lutando para se tornarem ominichannel. A gente quer fazer parte do omnichannel delas”, afirmou. Na semana passada, a empresa anunciou uma parceria com a varejista C&A em que oferece créditos ao consumidor em troca de roupas usadas.
Para Israel Salmen, da Méliuz, o IPO vai auxiliar a companhia a desenvolver novos produtos e serviços em sua plataforma. Hoje, a Méliuz se define como uma plataforma de engajamento online que quer oferecer muito mais do que apenas cashback. O caminho passa por oferecer serviços financeiros dos mais variados, como seguros e pagamentos. Confira mais detalhes sobre a história e o plano de crescimento da Méliuz no podcast Do Zero ao Topo.
O crescimento do Venture Capital no Brasil
O mercado de venture capital no Brasil começou a se desenvolver entre 2010 e 2011, com um volume que oscilava entre US$ 40 e US$ 50 milhões por ano. Em 2019, o volume chegou a US$ 4,4 bilhões. Para Marcelo Lima, da Monashees, é apenas o começo. “O venture capital ainda representa 0,09% do PIB do Brasil enquanto nos Estados Unidos o percentual é de 0,5%, 0,6% do PIB”, afirmou.
Segundo o investidor, a América Latina está posicionada hoje para ser a região que se transformará na próxima potência de tecnologia, a exemplo do que já ocorreu na China, nos Estados Unidos e na Europa.
No estágio atual, segundo Marcelo, já temos empreendedores e funcionários que construíram grandes carreiras em startups já vendidas e começam a montar novas companhias. “Hoje já há pessoas com experiência em produto e tecnologia, algo que não tínhamos antes. Fica mais fácil de o mercado crescer”, disse.
Segundo o investidor, ter boas pessoas na execução é um dos principais fatores que levou a Monashees a investir no series A tanto da Enjoei quanto da Méliuz. “Buscamos empreendedores que conhecem muito o seu mercado, com uma ambição grande, brilho no olho, resiliência e visão de futuro. Além disso, chamou atenção o fato de os dois negócios estarem atacando mercados grandes e com muito espaço para resolver problemas”, afirmou.
Confira a história completa da Méliuz no podcast Do Zero ao Topo.