Arthur Lira e Rodrigo Pacheco são favoritos em eleições no Congresso, mas reformas devem enfrentar dificuldades, dizem analistas

Arthur Lira e Rodrigo Pacheco são favoritos em eleições no Congresso, mas reformas devem enfrentar dificuldades, dizem analistas

janeiro 22, 2021 Off Por JJ

O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) faz pronunciamento em plenário.

(Foto: Beto Barata/Agência Senado)

SÃO PAULO – A pouco mais de uma semana das eleições que definirão as posições de comando no Congresso Nacional pelos próximos dois anos, analistas políticos veem os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como favoritos nas disputas.

É o que mostra a 23ª edição do Barômetro do Poder, iniciativa do InfoMoney que compila mensalmente as expectativas de consultorias de análise de risco político e analistas independentes sobre alguns dos assuntos em destaque na cena política nacional. Clique aqui para acessar a íntegra.

Segundo o levantamento, realizado entre os dias 18 e 20 de janeiro, 57% dos participantes veem Arthur Lira (PP-AL) à frente na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados.

O parlamentar é líder do chamado “centrão” e o favorito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para comandar a casa legislativa durante a segunda metade de seu mandato.

Lira conta hoje com o apoio de 11 partidos: PL (43), PP (40), PSD (35), Republicanos (32), PTB (11), Pros (11), Podemos (10), PSC (10), Avante (8), Patriota (6) e, desde ontem (21), o PSL (53), que mudou de lado na disputa.

Logo na sequência aparece Baleia Rossi (MDB-SP), com 43% das menções. O deputado é presidente nacional do MDB e, nesta eleição, defende uma candidatura independente dos outros Poderes – em contraposição à proximidade que seu adversário tem do Palácio do Planalto.

Baleia conta com o endosso do atual presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o apoio formal também de 11 partidos: PT (52), MDB (33), PSB (30), PSDB (33), DEM (29), PDT (26), Cidadania (7), PV (4), PCdoB (7), Rede (1) e o Solidariedade (14), que nesta semana deixou a base do adversário.

Outros postulantes ao cargo, como os deputados Alexandre Frota (PSDB-SP), André Janones (Avante-MG), Capitão Augusto (PL-SP), Fábio Ramalho (MDB-MG), Luiza Erundina (PSOL-SP) e Marcel Van Hatten (Novo-RS), não foram citados pelos analistas políticos.

Esta edição contou com 14 participantes, sendo 10 casas de análise de risco político – Control Risks, Dharma Political Risk & Strategy, Empower Consultoria, Eurasia Group, Medley Global Advisors, Patri Políticas Públicas, Prospectiva Consultoria, Pulso Público, Tendências Consultoria Integrada e XP Política – e 4 analistas independentes – Antonio Lavareda (Ipespe), Carlos Melo (Insper), Claudio Couto (EAESP/FGV) e Thomas Traumann.

Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados do levantamento são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e comentários.

O cenário atual traz mudanças em relação ao último levantamento, realizado entre os dias 7 e 9 de dezembro – antes, portanto, da confirmação da candidatura pelo bloco liderado por Rodrigo Maia.

Na ocasião, a avaliação dos analistas era de empate entre Arthur Lira e Baleia Rossi, cada um com 43% das indicações. O deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que também tentava viabilizar sua candidatura como representante do grupo do atual presidente da casa legislativa, aparecia com 14% – o que poderia indicar uma percepção de desvantagem para o líder do “centrão” na disputa.

Já no Senado Federal, a avaliação dos especialistas é de uma situação mais confortável para o candidato apoiado pelo governo federal. Para 86% dos entrevistados, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) é o favorito na disputa. Ele conta com o apoio de nove legendas: DEM (5), PSD (11), PP (7), PT (6), PDT (3), PL (3), Republicanos (2), Pros (3) e PSC (1).

O arco de apoio partidário reflete o peso da candidatura, endossada pelo atual presidente da casa legislativa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o próprio presidente Jair Bolsonaro e partidos de oposição ao governo.

Do outro lado, a candidata Simone Tebet (MDB-MS) foi apontada por 14% dos entrevistados. A senadora é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e nesta disputa representa a maior bancada partidária da casa legislativa, composta por 15 parlamentares. Ela recebeu apoio formal de Podemos (9), Cidadania (3) e PSB (1), mas também espera contar com votos em outras siglas, como o PSDB (7).

Outros nomes, como Major Olimpio (PSL-SP) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO), não foram citados pelos analistas políticos.

Na avaliação dos analistas políticos, o resultado das eleições nas duas casas legislativas pode ser fator decisivo para as relações entre o governo e o parlamento e para o futuro de agendas de interesse do Palácio do Planalto.

“O elemento fundamental da relação entre os Poderes Executivo e Legislativo na atual conjuntura é a eleição para a presidência das duas Casas, sobretudo a da Câmara”, diz um dos analistas.

“Embora a aliança com o ‘centrão’ dê certo alento ao governo, a piora da situação política de Bolsonaro, com a crise das vacinas, o colapso sanitário da pandemia, a posse de Biden e as dificuldades nas relações com parceiros importantes, tende a degradar a base de sustentação do governo. O clima mudou contrariamente a Bolsonaro e isso pode pesar, inclusive, na sucessão das duas casas e no eventual encaminhamento de um pedido de impeachment”, complementa.

Nova conjuntura, velhos problemas

O Barômetro do Poder também mostra que, apesar de candidatos mais alinhados aos interesses do Palácio do Planalto serem vistos hoje como favoritos nas disputas pelas presidências das casas legislativas, analistas políticos mantêm ceticismo em relação à capacidade de o governo aprovar proposições no parlamento e conduzir uma agenda de reformas econômicas.

Segundo o levantamento, 43% dos analistas veem baixa capacidade de o governo aprovar uma agenda no Congresso Nacional, contra apenas 7% na ponta oposta. Em uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), o poder de articulação da atual gestão junto aos parlamentares é avaliado em 2,64.

A relação entre os Poderes Executivo e Legislativo é considerada ruim por 50% dos entrevistados, ao passo que o grupo dos que a classificam positivamente soma 7%.

Na avaliação de 57% dos especialistas consultados, a tendência é que a situação piore nos próximos seis meses, enquanto 21% apostam em uma melhora e outros 21% acreditem na manutenção do quadro atual.

O levantamento mostra que, dividindo os 513 deputados federais e os 81 senadores em três grandes grupos (alinhados com o governo, de oposição e indefinidos), a média das estimativas aponta para uma base aliada com 203 assentos na Câmara (40%) e 25 no Senado (31%).

A fotografia de janeiro mostra uma recuperação de 15 deputados e 2 senadores em relação às estimativas de dezembro, o que marca uma reaproximação aos números de três meses atrás. Já a oposição teria 147 deputados e 22 senadores. Os incertos, por sua vez, somam em média 163 deputados e 34 senadores.

“A provável vitória dos candidatos governistas no Congresso dará nova tração à agenda bolsonarista”, disse um analista.

“A crise social e o agravamento da pandemia devem pressionar o governo no Legislativo e no Judiciário”, ponderou outro especialista.

No caso das reformas econômicas, o quadro segue de pessimismo. Entre 10 temas em discussão na agenda tributária, apenas a unificação de PIS e Cofins, proposta pelo governo no PL 3.887/2020, é apontado com melhores chances de avanço ‒ 3,07 em uma escala de 1 a 5.

Nenhum analista aposta suas fichas em um imposto sobre transações financeiras ou digitais, na desoneração da folha de salários ou na substituição do IPI por um imposto seletivo sobre produtos com externalidades negativas. Já as PECs 45 e 110, em tramitação no Congresso Nacional, têm altas chances de aprovação para apenas 7% dos entrevistados.

Já no campo da reforma administrativa, 92% veem baixas chances de aprovação de um texto que atinja os atuais servidores, e apenas 8% esperam a inclusão de militares, promotores, juízes e parlamentares.

Mas 23% atribuem boas chances de avanço para uma proposta válida apenas para futuros entrantes no funcionalismo público, como previsto na PEC 32/2020, encaminhada pelo governo federal, enquanto outros 77% avaliam probabilidade regular. Em uma escala de 1 a 5, esta chance é estimada em 3,23 pelos participantes.

Há também pessimismo em relação ao andamento da agenda de desestatizações. Entre 8 estatais citadas por membros do governo como prioritárias em um programa de privatizações, nenhuma é vista pelos especialistas com boas chances de avançar.

Delas, a mais bem posicionada é a Eletrobras. Em uma escala de 1 a 5, a probabilidade de êxito em um processo de desestatização da companhia é estimada em 2,38. Para 57% dos entrevistados, as chances são reduzidas.

EBC e Telebras não tiveram nenhum analista apontando ambiente favorável para privatização. Enquanto Correios e Docas de Santos têm chances altas para 15%.

“Guedes entregou… nada. Somente o que estava herdado de Temer (Previdência e novo marco do saneamento). Pode entregar agora só o que faltava da herança (privatização da Eletrobras e autonomia do BC). Tudo o que trouxe de novo não andou. Um governo natimorto, sem força política, preocupado apenas em conflitos. Risco de impeachment permanece. Especialmente se Arthur Lira não for eleito na Câmara”, diz um analista.

De acordo com o levantamento, apenas 7% dos entrevistados veem altas chances de abreviação do mandato do presidente Jair Bolsonaro, seja por impeachment, cassação ou renúncia. Para 58%, elas são baixas.

Em uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a probabilidade média atribuída pelos analistas é de 2,21. Em junho do ano passado, o indicador chegou a marcar 3,15.

O Barômetro também registrou uma preocupação da maioria dos analistas com o efeito colateral que a pauta de costumes pode trazer para o andamento da agenda econômica no parlamento.

Para 58% deles, o avanço de propostas conservadoras poderia atrapalhar o andamento das reformas. Outros 28% discordam.

“Bolsonaro terá uma base forte no Congresso, mas irá desperdiçá-la com a pauta de costumes e deixar as reformas para outro governo”, afirma um dos entrevistados.

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