Ibovespa sobe seguindo exterior no dia da posse de Biden, mas investidores seguem monitorando fiscal no Brasil
janeiro 20, 2021
SÃO PAULO – O Ibovespa opera em alta nesta quarta-feira (20) seguindo o exterior na contramão do que ocorria no pré-market. Lá fora, as bolsas sobem com os investidores atentos à posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden. Por aqui, o clima é de incerteza por conta da “guerra das vacinas” e dos rumores fiscais da véspera.
No radar, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, considera “inevitáveis as bandeiras vermelhas em São Paulo”. Além disso, em meio à falta de insumos importados da China, a Fiocruz adiou de 8 de fevereiro para o início de março a previsão de entrega das primeiras doses da vacina da Universidade de Oxford e da AstraZeneca produzidas no Brasil.
Com o aumento nos contágios pela Covid-19 no País e esses atrasos na vacinação em massa da população se somando à perda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, já se fala na hipótese de novos estímulos apesar do limitadíssimo espaço no Orçamento para tanto.
Vale lembrar que hoje é dia de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a taxa básica de juros, Selic, em 2% ao ano.
Às 10h07 (horário de Brasília), o Ibovespa tinha alta de 0,67%, a 121.446 pontos.
Enquanto isso, o dólar comercial cai 0,56% a R$ 5,3149 na compra e a R$ 5,3159 na venda. Já o dólar futuro com vencimento em fevereiro tem perdas de 0,88%, a R$ 5,314.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 cai dois pontos-base a 3,23%, o DI para janeiro de 2023 tem queda de dois pontos-base a 5,00%, o DI para janeiro de 2025 recua quatro pontos-base a 6,50% e o DI para janeiro de 2025 registra variação negativa de quatro pontos-base a 7,15%.
Voltando aos EUA, ontem, Janet Yellen, indicada por Biden para a secretaria do Tesouro, defendeu o pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão planejado pelo novo presidente. “Economistas nem sempre concordam, mas há um consenso agora: sem mais ação fiscal, corremos risco de recessão prolongada. É preciso fazer mais para apoiar a economia americana”, afirmou.
Já nesta quarta-feira, o discurso de posse de Biden deve ser centrado na necessidade de unir o país em meio à acirrada disputa partidária no Congresso, além da violenta invasão. Além da Presidência, o Partido Democrata terá controle tanto da Câmara quanto do Senado, após garantir duas vagas pelo estado da Geórgia. Isso dará espaço para conduzir uma ambiciosa agenda de gastos.
Na Europa, investidores aguardam as reações do mercado após o atual primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte ganhar um voto de confiança no Senado na terça, seguindo a um voto similar pela Câmara na segunda-feira (18). Com os votos, Conte poderá continuar em seu cargo, mesmo após perder a maioria no Congresso após o pequeno partido Italia Viva deixar sua coalizão.
O partido do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi deixou a coalizão por conta de discordâncias sobre a forma de empregar os fundos da União Europeia para impulsionar a economia italiana.
Além disso, dados indicam que a inflação dobrou em dezembro no Reino Unido, apesar de restrições de mobilidade terem sido implementadas durante as festas de final de ano por conta da pandemia. A inflação medida pelo índice CDI (sigla em inglês para índice de preços do consumidor) ter subido 0,6% em dezembro, a partir de 0,3% em novembro, de acordo com o Escritório para Estatística Nacional.
Na Ásia, investidores acompanharam o anúncio sobre a taxa de juros preferencial da China com vencimento em um ano, que ficou inalterada em 3,85%, assim como a taxa de juros com vencimento em cinco anos, que ficou em 4,65%. Os índices estão em linha com a expectativa de analistas e traders ouvidos por uma pesquisa da agência internacional de notícias Reuters.
As ações da gigante do comércio eletrônico Alibaba tiveram alta de 8,52% após o fundador Jack Ma reaparecer nas redes sociais, falando a professores rurais como iniciativa de uma de suas ações de sua fundação de caridade. É sua primeira aparição em semanas fora dos holofotes, à medida que suas empresas sofrem pressões regulatórias.
Covid no Brasil
O consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil divulgou, às 20h de terça (19), o avanço da pandemia em 24 h no país.
A média móvel de casos confirmados em 7 dias foi de 54.321, alta de 49% frente ao período encerrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 63.504 casos. A média móvel de mortes em 7 dias foi de 969, alta de 33% frente ao patamar registrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registradas 1.183 mortes.
O Tribunal de Justiça do Amazonas deu 48 horas para o governo estadual liberar o envio de 155 cilindros de oxigênio para o município de Coari, que fica a 450 km da capital Manaus. Sete pacientes internados morreram na terça por falta de oxigênio no município, que deveria ter recebido 40 cilindros de oxigênio na segunda (18). Mas o avião que realizaria o transporte viajou para Tefé, também no Amazonas, e não pôde retornar, sob a justificativa de que o aeroporto não aceita decolagens noturnas.
Em um evento em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, ao lado do governador João Doria (PSDB), o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, cobrou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defenda a vacina CoronaVac, desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
O Butantan importou da China 6 milhões de doses prontas da vacina, que deverá ser produzida pelo instituto no Brasil a partir de insumos importados da China. Mas o Brasil tem enfrentado dificuldades em garantir a importação de insumos da China para a fabricação local do imunizante.
“Se a vacina agora é do Brasil, o nosso presidente tenha a dignidade de defendê-la e de solicitar, inclusive, apoio, pro seu Ministério de Relações Exteriores na conversa com o governo da China. É o que nós esperamos (…) Até domingo a vacina era a inimiga número um do nosso presidente. E a China, por consequência. A vacina não valia nada porque ela era da China, tremendo a bobagem de quem não tem a menor noção. E é a vacina que vai salvar milhões de brasileiros nesse momento. Quer dizer, não vejo outra vacina, né?”, afirmou Dimas Covas.
O Brasil também tem enfrentado dificuldades em importar insumos para fabricação local do outro imunizante aprovado para uso emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o produto desenvolvido pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, que no Brasil têm como parceira a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Além disso, na semana passada teve a importação de 2 milhões de doses da mesma vacina produzida pelo Instituto Serum, da Índia, barrada pelo governo do país, que busca priorizar a vacinação local. Após o avião que partiria a Mumbai ter o voo adiado na sexta (15), Bolsonaro chegou a dizer que o voo partiria em “dois ou três dias, no máximo”, o que não ocorreu.
O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, estão em contato com autoridades da China. Segundo informações de bastidores publicadas pelo portal G1, há temor, no entanto, entre assessores da Presidência, de que as conversas sejam dificultadas pela má repercussão de ataques de membros do governo ao país asiático durante os dois últimos anos, inclusive durante a pandemia.
É cogitada a possibilidade de montar uma força-tarefa com a inclusão do vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB).
Nesta quarta, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) se encontra com o embaixador da China, Yang Wanming, para tratar sobre a importação de insumos para a produção da Coronavac.
Segundo informações repassadas pelo Ministério da Saúde ao portal UOL, a previsão é de que a população esteja vacinada apenas no segundo trimestre de 2022, na melhor das hipóteses.
Na última segunda, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski pediu que o Ministério apresentasse um cronograma de vacinação, no que ainda não foi atendido. De acordo com a Folha de S. Paulo, governadores têm retomado articulações para buscar saídas que não dependam do governo federal.
Auxílio emergencial e disputa no Senado
O jornal Folha de S. Paulo ouviu uma dezena de políticos, privilegiando nomes associados ao governo. Segundo o jornal, as derrotas na busca por um imunizante para ser oferecido à população brasileira contra o coronavírus têm feito até mesmo com que membros do Centrão, base de apoio de Bolsonaro, falem sobre o tema de um processo de impeachment contra o presidente.
Além disso, segundo informações de bastidores publicadas pelo jornal, a equipe econômica acompanha os dados sobre o avanço da covid no Brasil com preocupação, mas considera o cenário diferente daquele de meados de 2020, e diz avaliar que o momento não demanda medidas como um novo auxílio emergencial. A possibilidade não é, no entanto, descartada caso haja uma situação extrema.
Por enquanto, eles dizem avaliar que a economia tem se movimentado, mesmo sem o auxílio. A avaliação é de que a alta de casos pode estar relacionada com as festas de final de ano, que aumentaram o número de encontros. Por isso, é necessário avaliar como a situação se desenrola nos próximos dias.
O auxílio foi pago entre abril e dezembro, e de forma residual neste mês de janeiro. Os principais candidatos à presidência da Câmara têm falado sobre a possibilidade de relançá-lo.
Segundo o jornal Valor, a equipe econômica estuda a possibilidade de renovar o Programa de Preservação de Renda e do Emprego, que permite a suspensão de contrato e redução de jornada e salário do funcionário como opção para barrar a alta do desemprego.
Ainda no radar político, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) formalizou na terça-feira sua candidatura à presidência do Senado, com a promessa de uma atuação independente, apesar de ser o nome que conta com a simpatia do governo, e com o foco no combate às consequências da crise causada pelo coronavírus.
Apoiado pelo atual presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), Pacheco é hoje favorito na disputa, contando com o apoio, inclusive, de partidos da oposição, como o PT e o PDT. Dentro os tópicos em que listou como compromissos de uma eventual gestão, em carta que oficializou sua candidatura, Pacheco elencou “preservar a independência do Senado Federal, premissa fundamental para a tomada de decisões políticas livres e autônomas que sejam de interesse da nação e dos brasileiros”.
Radar corporativo
As prévias operacionais de construtoras seguem sendo destaque no noticiário corporativo. Entre as companhias que divulgaram seus números, estão Tenda, Lavvi e Plano&Plano. A Tenda lançou 20 empreendimentos no quarto trimestre de 2020, totalizando R$ 885,2 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV).
No radar de recomendações, o Bradesco BBI reduziu a recomendação dos ADRs (American Depositary Receipts) da Embraer para underperform (desempenho abaixo da média), com preço-alvo de US$ 4, destacando que mesmo o início da vacinação não deve mudar os desafios estruturais da fabricante de aviões brasileira. Já a Rede D’Or teve a cobertura iniciada pela XP Investimentos com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 85.
Já o Grupo Ultrapar está liderando negociações para a aquisição da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), da Petrobras, localizada no Rio Grande do Sul, afirmaram ambas as empresas em comunicados.
A Cemig deixou de ser a maior acionista da distribuidora de energia Light através de uma oferta primária (com os recursos indo para o caixa da Light) de 68.621.264 novas ações ordinárias e uma secundária de 68.621.264 papéis de titularidade da Cemig e equivalente a 22,5% do capital social da distribuidora. Os papéis foram vendidos a R$ 20,00 a unidade: o follow on movimentou R$ 2,74 bilhões, com Cemig e Light levando, cada, R$ 1,37 bilhão.