6 lições do fundo que rendeu 41% em 2020

6 lições do fundo que rendeu 41% em 2020

janeiro 19, 2021 Off Por JJ

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Começo de ano é sinônimo de muita leitura: muitas gestoras aproveitam esse momento para publicarem cartas aos seus cotistas. Neste começo de 2021, a leitura que mais me marcou foi da carta anual da Sharp Capital.

Eu já queria ler a carta da Sharp antes mesmo de ela ser escrita. Isso porque um dos fundos da gestora carioca brilhou na minha carteira pessoal em 2020 – sou cotista do Sharp Long Biased, que no ano teve rentabilidade de 41,93% (não está errado, é 41% mesmo).

[AQUI UMA DICA IMPORTANTE: este fundo estava fechado até então, mas reabriu na última segunda-feira, 18/jan. Essa reabertura deve durar pouquíssimos dias. #ficadica].

Aos que não conhecem a Sharp: a gestora nasceu em 2018, fundada por ex-sócios da GAP Asset. Ivan Guetta, um dos fundadores e CIO, ingressou na GAP em 2003 como estagiário e por lá ficou 15 anos. Quando saiu para fundar a Sharp, 13 pessoas da GAP vieram juntos (sendo 9 delas da área de gestão), o que denota a forte cultura que Guetta construiu dentro da gestora.

Outros pontos da Sharp que valem a pena destacar:

  • O fundo Sharp Long Short completou 15 anos em 2020 (embora a Sharp seja de 2018, os fundos carregam o histórico da GAP) e ele nunca terminou um ano sequer com rentabilidade negativa. Na verdade, seu “pior” ano foi 2008 (crise do subprime), quando o fundo ganhou 5,98%, quase a metade do CDI no período.
  • Ainda sobre o Sharp Long Short, ele só perdeu para o CDI em 2 destes 15 anos (além de 2008, ele também não bateu o benchmark em 2015: 12,01% para o fundo, contra 13,24% do CDI).

– Efeito “short IRB”: quando a “bomba” IRB explodiu no começo de 2020 com a divulgação das cartas da Squadra, a Sharp (que também tinha uma posição “short” nas ações IRBR3), anunciou o fechamento de seus fundos. O motivo: essa exposição poderia atrair novos investidores para o fundo, o que diluiria a posição vendida em IRB (já que não havia muita liquidez para aumentar esse short). Ele abriu mão de ter mais dinheiro sob gestão para priorizar o retorno do capital já investido. Ponto positivo pra ele!

As 6 lições da carta da Sharp

O texto da Sharp tem 9 páginas (link aqui) mas trarei aqui os 6 melhores trechos da carta.

1.
Se nos preocupamos demais com eventos raros, corremos o risco de nos tornarmos neuróticos e desfocados, se nos preocupamos de menos, corremos o risco de nos tornarmos extintos. Das 500 empresas listadas entre as maiores dos EUA em 1955, aproximadamente 10% permanecem no ranking até hoje. A competição inova, a tecnologia altera a essência do modelo de negócios, a regulação muda pela caneta de poucos, a sucessão cria desafios, os métodos de gestão eficiente evoluem e os hábitos do consumidor simplesmente mudam. A passagem do tempo pode erodir as fortalezas até das empresas mais dominantes e mesmo ínfimos riscos mortais ao negócio, com chance de apenas 1% de ocorrência por ano, acumulariam uma probabilidade fatal de 26% ao considerarmos um horizonte de análise de 30 anos.

2.
John Paulson gerou US$ 15 bilhões de resultado na crise de 2008, Elon Musk quer colonizar Marte para caso a Terra deixe de ser habitável e o Bitcoin tenta substituir o dinheiro. Quanto mais antiga a regra que define o status quo, mais assimétrico tende a ser o payoff ao apostar na quebra de paradigma. Além disso, pela cumulatividade inexorável das pequenas chances, quanto maior o prazo de análise, maior a chance de uma quebra de paradigma deixar de ser um grande desvio estatístico para se aproximar de uma certeza quase determinística.

3.
É geralmente mais fácil entender que um paradigma não se sustentará a longo prazo do que identificar seu momento de inflexão. A aparente beleza de um investimento que aprecia sem grandes perdas diárias é extremamente sedutora. A LFT, o crédito privado com resgate diário, a concentração nas “empresas-sensação” do momento, a reverência às companhias cujos resultados trimestrais crescem sem volatilidade, a apropriação do prêmio de risco de governança e a alavancagem de operações de arbitragem de eventos anunciados são exemplos de investimentos que podem trazer retornos consistentes por um bom tempo. Caberá ao investidor avaliar se está contemplando um oásis ou uma miragem.

4.
Uma das frases que mais escutamos durante a pandemia foi que o plano de digitalização planejado para os próximos dois anos foi posto de pé em duas semanas. Será que a empresa precisa estar lutando pela própria vida para compreender o senso de urgência em buscar a multicanalidade? Na fulminante crise de 2008 vimos as companhias reduzirem custos de forma importante e, em geral, sem posterior impacto evidente em receitas ou níveis de serviço. Sem o dilema de vida ou morte presente, por que fica tão mais difícil tomar as decisões corretas e duras?

5. [Sobre a importância de cercar-se de pessoas que você confia]
Temos a sorte de termos trilhado um caminho de pequenas chances para reunir um grupo muito único, com a incrível oportunidade de podermos aprender uns com os outros todos os dias, gerando uma espécie de network effect, em que o fortalecimento de cada nó da nossa rede melhora desproporcionalmente as habilidades de todos os demais. Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas sabemos que é a força dessa rede que nos permitirá superar as dificuldades que possam vir pela frente. Que venham as dificuldades, que a graça é resolvê-las. E resolvê-las, balanceando tranquilidade e paranoia, nos fará evoluir.

6. [Sobre como 2020 afetou as tomadas de decisões da Sharp]
Mudanças abruptas no ambiente econômico geralmente expõem fragilidades em investimentos que dependem quase exclusivamente de um cenário específico para serem vencedores. Eventos dessa natureza, como mudanças em perspectivas eleitorais ou o fatídico Joesley Day, quase não impunham mudanças em nossa carteira. No entanto, desta vez as condições se alteraram de tal maneira que foi necessário repensar premissas básicas de negócios, desde forças e fraquezas corporativas, até o funcionamento social em termos gerais.

Ficamos satisfeitos em constatar que a grande maioria das companhias investidas estava preparada para atravessar o deserto gerado pela crise. Em alguns casos, modelos de negócios praticamente blindavam as companhias da crise, como em B3 e Omega. Em vários outros, acreditávamos que os diferenciais competitivos se ampliariam na seca, o que geraria ainda mais a já conhecida desigualdade corporativa, como em Mercado Livre e Localiza. Também desinvestimos de algumas empresas quando a avaliação de valor nos pareceu extremamente opaca, dada a amplitude atípica de probabilidades não desprezíveis, como em Azul e Aliansce Sonae.

Link da carta completa da Sharp.