Gestão do caixa nas empresas: duas dicas para o ano que chega
dezembro 14, 2020Em primeiro lugar, um breve diagnóstico do ano que se aproxima é, no mínimo, preocupante.
Apesar do otimismo natural sempre que se começa um novo ciclo, turbinado principalmente por boas notícias relacionadas a vacinas e a potencial retomada de uma normalidade, ainda é cedo para concluirmos que a crise sanitária pela qual estamos passando está perto do fim.
Há incertezas científicas em muitos aspectos, seja no campo epidemiológico, seja no próprio tratamento da doença.
Ainda não está estabelecido um padrão global de conduta política, ou mesmo de comportamento das pessoas e mercados. Tais dúvidas são um tipo novo de incerteza que afeta claramente o dia a dia das empresas.
No ápice da crise pelo qual passamos em 2020, aprendemos que dispor de reservas de caixa foi muito importante para sustentar os elos das cadeias produtivas e as operações em si de cada empresa. As reservas foram o melhor “seguro operacional” que as empresas poderiam ter no momento mais agudo.
É fácil concluir que, para 2021, manter uma reserva de caixa confortável será bastante recomendável. As incertezas ainda não se dissiparam. Foi bastante comum, ao longo de 2020, sermos questionados por executivos e empresários sobre quais seriam os volumes ideais de tais reservas. Com o aprendizado de 2020, ficou mais fácil responder a essa pergunta.
Pense no menor faturamento que você obteve no ápice da crise e, conservadoramente, aplique esse faturamento ao tempo necessário para sua recuperação em 2020. Se quiser ser ainda mais conservador, adicione um fator de segurança, digamos de 50%. Com isso, calcule sua necessidade de capital de giro no período.
Eis uma boa e simples metodologia, customizada para cada empresa.
Para completar minha sugestão para 2021, recomendo que você avalie como investir essa reserva estratégica.
Diferentemente de mercados mais maduros, no Brasil há uma quase que total prevalência de emissões bancárias, mais especificamente de certificados de depósitos bancários (CDBs), como destino dos investimentos das empresas.
Dentre esses, a preferência absoluta recai sobre CDBs de bancos de primeira linha com liquidez diária.
Nada contra. Obviamente, essa decisão remete a seguinte escolha: uma classe de ativo apenas, emissor bancário (na prática, é você dando crédito para o banco), na qual você corre o risco de crédito do banco e com liquidez imediata.
Como toda escolha implica em renúncias, essa implica em renunciar ao efeito “diversificação do caixa” (categoria de ativos), de riscos e de prazos. Comumente, você abdica também da rentabilidade, sem necessariamente estar correndo menos risco.
O que mais escuto é que a rentabilidade do caixa não é uma prioridade para as empresas, e que, portanto, os tesoureiros preferem a segurança de saberem que terão os recursos e o quanto terão (rentabilidade conhecida).
Esse argumento é válido, mas talvez não seja apropriado para todo o caixa e em todas as situações, especialmente com relação à rentabilidade conhecida.
Recomendo que todos procurem entender como se comporta o caixa de empresas de capital aberto em mercados mais evoluídos – e que convivem com taxas de juros mais civilizadas por mais tempo.
Observem o caixa de uma Alphabet ou de uma Apple, por exemplo. Vejam qual o percentual desse caixa está em depósitos a prazo. Usualmente, ele não passa de 25%. Há uma concentração em títulos públicos e crédito privado, por conta de sua relação retorno/risco e de seu efeito diversificação.
Dito isso, minha recomendação final é que dediquem algum tempo a entender como, dentro de um perfil de risco adequado a suas políticas de investimento, maximizar o retorno desse caixa de reserva.
Para isso procurem, junto a seu banker, especialista de investimentos ou assessor de investimentos, a orientação e apoio especializado.
Minhas duas grandes dicas para 2021, em tempos de incerteza e juros baixos são: reservem mais caixa para sua empresa e fujam do óbvio na hora de investir o seu caixa.