Aprendendo com o Jogo do Milhão
novembro 19, 2020É engraçado como alguns programas televisivos deixam marcas em nossas memórias, não é mesmo? E uma das memórias mais vivas e divertidas que tenho da minha infância é a do programa do SBT chamado Jogo do Milhão – posteriormente, Show do Milhão.
Para quem não conhece ou não lembra, o programa foi ao ar pela primeira vez em 1999 e era um jogo de perguntas e respostas apresentado pelo Silvio Santos, que concedia o prêmio máximo de R$ 1 milhão aos sortudos que chegassem ao final.
O programa tinha três rodadas de perguntas: a primeira continha cinco perguntas, cada uma valendo R$ 1 mil cumulativos; a segunda, de cinco perguntas, valendo R$ 10 mil cumulativos; e, a terceira, de cinco perguntas, R$ 100 mil cumulativos. A última pergunta valia o prêmio máximo: R$ 1 milhão.
Os jogadores também tinham direito de receber ajudas: a famosa ajuda dos universitários, ajuda da plateia e cartas que eliminavam algumas alternativas. Além disso, podiam pular a pergunta.
Eu, particularmente, adorava o programa. Era aquele momento que eu torcia, gritava com a televisão, pesquisava as respostas e, como não poderia ser diferente, aprendia junto com os jogadores.
Mas, refletindo sobre o jogo e fazendo um paralelo com o nosso universo do mercado financeiro, eu faço duas indagações a você, leitor ou leitora: como saber a hora de sair? E quando saber se ainda vale a pena continuar?
Quando você inicia sua trajetória no mundo dos investimentos, a primeira coisa que deve ser definida é o seu perfil de investidor.
Todas as vezes que você abre uma conta em alguma corretora de valores mobiliários, é obrigatório o preenchimento de um questionário chamado suitability. É por meio dele que você e a instituição na qual você está se cadastrando passam a conhecer seu perfil de investidor.
O que isso quer dizer?
Por meio desse questionário, é possível descobrir qual é a sua tolerância ao risco (baixa, moderada ou alta), o motivo de você estar investindo (construção ou manutenção de patrimônio) e qual o nível de conhecimento que você possui sobre o mercado financeiro.
Com o questionário respondido, você define o seu perfil: conservador (menor exposição a riscos, mas com possibilidade menor de ganhos relevantes), moderado ou agressivo (maior exposição a riscos, mas com grande possibilidade de retornos relevantes). Com base nisso, serão oferecidos a você os produtos de acordo com o seu apetite ao risco.
Depois de ter isso definido, o segundo passo é traçar o objetivo do seu investimento e o prazo para ele. E, no mercado de ações, no qual eu atuo, isso tem que ficar bastante claro.
Como utilizo a análise fundamentalista para selecionar as ações que vão fazer parte do portfólio, eu prezo por uma análise profunda e crítica da situação econômico-financeira da companhia, o que ela faz, como ela faz, o ambiente em que está inserida, seus competidores, as perspectivas do negócio. Enfim, olho a empresa de uma forma completa e nos mínimos detalhes.
E, quando partimos para o momento de comprar as ações de uma empresa, é muito importante ter em mente qual será o seu objetivo de ganhos com ela. O foco e o horizonte para esse tipo de investimento, que eu acredito que realmente faz diferença, é sempre no longo prazo.
É muito fácil, assim como no jogo, que nos deixemos levar pelas emoções (tanto pela empolgação como pelo medo). É nesse momento que você, às vezes, sai da posição de alguém que investe para alguém que torce.
Então, se você estabeleceu um objetivo para aquele investimento, continue na sua estratégia sem se deixar levar pelos barulhos que as notícias de curto prazo podem causar.
E, se você conseguiu atingir o objetivo traçado ou a tese de investimento daquela empresa mudou e não faz mais sentido, é o momento de reavaliar a estratégia, entender se talvez possa ser a hora de se desfazer dela ou mesmo encontrar outra oportunidade de investimento.
Eu entendo que muitas vezes nossas emoções tomam conta da nossa racionalidade – a empolgação ou o medo podem atrapalhar a análise dos seus investimentos. Mas, assim como no Jogo do Milhão, o investidor ou a investidora deve saber a hora de sair do jogo. Por isso, traçar o objetivo e a estratégia e se manter firme neles é tão importante.
Outro ensinamento que o jogo trouxe é: o que é suficiente para você pode ser diferente do que é suficiente para o outro.
Alguns jogadores entravam no programa com o objetivo de comprar uma casa, então R$ 30 mil já eram suficientes (à época). Outros tinham projetos sociais e tinham como meta chegar a R$ 100 mil, por exemplo.
Para outros, ir para o tudo ou nada fazia muito sentido – o jogador era jovem e tinha ainda um mundo de oportunidades à sua frente.
Então, por mais que a grama do vizinho pareça mais verde que a sua, lembre-se do seu objetivo, quais são os retornos que para você são suficientes e o quanto você está disposto ou disposta a se arriscar para aquilo.
E, se precisar, peça ajuda aos universitários, ou seja, as especialistas que podem te ajudar a entender melhor seus investimentos e a analisar se é o momento de deixar o jogo ou não.
Abraços,
Aline Tavares
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