Candidato à presidência, economista vê COB sem ousadia e transparência
outubro 5, 2020Hélio Meirelles Cardoso, de 68 anos, quer renovar a entidade substituindo Paulo Wanderley, um dos rivais na eleição
Um dos três candidatos à presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB), o carioca Hélio Meirelles Cardoso acredita ter todos os predicados necessários para levantar a entidade. Engenheiro químico e economista por formação, o dirigente de 68 anos preside a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno desde 2002. Com passagens por diferentes esferas do governo, ele foi diretor da Petrobras Química S.A., na década de 80, diretor financeiro do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e também já atuou como assessor parlamentar em Brasília. Agora ele quer renovar o COB, substituindo Paulo Wanderley, um dos seus rivais na eleição.
Ele atribui ao atual presidente uma gestão marcada pela falta de ousadia, de competência e de transparência. Na sua avaliação, a gestão atual desperdiçou oportunidades e carece de profissionalismo para gerir a soma de R$ 1,2 bilhão, somente em recursos da loteria, no próximo ciclo olímpico. “Ninguém entende como o COB até hoje não tem um patrocinador máster”, diz Meirelles, em entrevista. Ele critica também a postura do COB diante das dificuldades das demais confederações, ao afirmar que a entidade maior se tornou um “pronto-socorro”, a fomentar “clientelismo” na relação com as confederações de menor porte.
Além de prometer mais ousadia e transparência total, Meirelles quer se aproximar da comissão dos atletas para renovar o COB, se for eleito no dia 7, quarta-feira. O aposentado pela Petrobrás vai enfrentar também no pleito Rafael Westrupp, atual presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e ex-aliado de Paulo Wanderley. Em sua chapa, Meirelles tem como vice Robson Caetano, dono de duas medalhas olímpicas. Eles têm o apoio público de outras cinco confederações, do levantamento de peso, do remo, do tiro esportivo, do tênis de mesa e do pentatlo moderno.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Você é engenheiro e economista e nunca praticou pentatlo. Como chegou à confederação brasileira da modalidade?
“O primeiro presidente foi um coronel da reserva que morava no Rio Grande do Sul. Ele precisava viajar o tempo inteiro para assinar documentos e agilizar a criação da entidade. Acabou cansando e desistiu do cargo. O vice era também um militar, que achou melhor convidar um civil para comandar a entidade. Ele já me conhecia, sabia que eu tinha sido secretário da Indústria, Comércio e Turismo do Estado do Rio. Eu assumi para cumprir um mandato tampão, mas não surgiu ninguém para ocupar o cargo quando o mandato acabou e foi mantido por mais um mandato. Como eu já estava aposentado e estava gostando da situação, fui ficando. Em 2008, fui eleito auditor da federação internacional de pentatlo, me envolvendo cada vez mais”.
O movimento político a que você pertence já existia na última eleição do Nuzman, certo?
“Sim, essas cinco confederações que nos apoiam hoje formaram um grupo em 2016 para tentar inscrever uma chapa para provocar o Nuzman, para trazê-lo para o debate. Não queríamos assinar um cheque em branco para ele. O que de bom está acontecendo agora, com vários candidatos, nós queríamos provocar em 2016. O Nuzman tinha maioria esmagadora, mas não tinha programa, não mostrava o que ia fazer. A nossa chapa seria invertida. Eu seria vice e o Alaor, do tênis de mesa, seria o presidente. Tentamos na Justiça, mas o estatuto era draconiano. Precisava ter o apoio de 10 confederações para indicar uma chapa. Só tínhamos cinco. Não teve chapa, mas o grupo continuou unido até agora”.
O vice da chapa atual é Robson Caetano, mas você não citou a Confederação de Atletismo como as que apoiam a sua candidatura. Por quê?
“Nós não estamos contando votos. Não estamos fazendo aquele negócio de cruzinha, esse é meu, aquele é seu. Nós sabemos que o ambiente é difícil. Não queremos expor ninguém. Não achamos que isso seja legal, isso afugenta as pessoas. Muita gente criticando pelo fato de algumas reportagens estarem decidindo votos de gente que não declarou voto. Uma coisa é a CBF declarar voto, outra coisa é o basquete, o vôlei. Eles assumiram e declararam. Mas começar a rotular presidente é uma coisa que não fazemos. Estamos trabalhando para que, no dia 7 de outubro, nós irmos para o segundo turno. Esse é o nosso trabalho. O nosso programa de governo é claramente o melhor entre as três chapas. Pode ser que não consigamos ir muito longe. Mas vamos manter a nossa tradição, fomos os cinco mosqueteiros em 2016 e, se for o caso, seremos os cinco mosqueteiros em 2020. Temos coerência”.
Quais são suas principais propostas para o COB?
“A nossa plataforma foi dividida em 20 itens ligados à gestão e à governança e outros 20 itens mais ligados à parte esportiva. Alguém poderia brincar com a gente: ‘Pô, Hélio, quem tem 40 projetos não tem nenhum, né?’ Se olhar no final do nosso programa, tem lá a agenda dos 100 dias, com um cronograma para mostrar aquilo que nós vamos atacar de imediato. São coisas que dependem basicamente da nossa iniciativa e que poderiam ser realizadas pelo COB. E não faz por questões de falta de ousadia. O que estamos colocando é um projeto ousado”.
O que falta ao COB, além de ousadia?
“A primeira coisa é a transparência. A imprensa e a sociedade ficaram satisfeitos de ver o Nuzman indo embora e pelo fato do COB ter colocado uns penduricalhos em seu site, como os salários dos funcionários e dos dirigentes. O pessoal entra lá e pensa: ‘nossa, puxa vida, mudou mesmo’. Não é assim, a caixa-preta continua mais preta do que antes. As demonstrações financeiras são colocadas na assembleia de uma maneira tão fechada, tão hermética, que ninguém entende. Já falei para a comissão de atletas que nós vamos mudar esse procedimento. Vamos apresentar A+B=C. E vamos mostrar que confederação A recebeu isso, mais isso e aquilo, e confederação B recebeu aquilo. Teremos a transparência que hoje não existe. E isto é fundamental. O COB continua ser uma espécie de hospital, porque as dificuldades de gestão são tantas, são tantas as amarras, que elas buscam o COB para pedir ajuda”.
O COB se tornou um pronto-socorro das confederações?
“Sim, é exatamente isso. As confederações hoje têm muitas obrigações e muita limitação para destinar seus recursos. E ficam na dependência desta ajuda do COB para que o CPF do presidente da confederação não seja prejudicado, alvo de qualquer irregularidade. Aí fica aquele clientelismo. E o clientelismo não aparece no balanço. É por isso que hoje o Paulo Wanderley conta com 18 confederações apoiando ele, porque as pessoas ficam inseguras em função da dificuldade que é gerir uma confederação”.
Como você avalia a gestão do Paulo como presidente do COB?
“Ele conseguiu superar aquela etapa, dificílima, quando o Nuzman saiu. Mas depois se acomodou. Ele está basicamente fazendo o feijão com arroz. O COB precisa arejar, precisa de competência e de gestão. O Paulo, por exemplo, se mantém distante do legado olímpico. Não estou dizendo que ele deveria assumir a gestão do legado olímpico. Mas ele não participa de soluções para o legado O COB tem que mostrar interesse em resolver aquele problema. Nós estamos na mesma cidade, no Rio. Outra coisa, o COB criou o Programa Gestão, Ética e Transparência (GET), mas não se enquadra no próprio programa porque precisa obedecer determinadas questões de transparência. De repente, digamos que não está preparado ainda para assumir situações de transparência e de governança. E onde está o patrocinador máster do COB? Ninguém entende como o COB até hoje não tem um master. Os atuais são mais para dar uniforme, alimentação. É interessante. Mas, convenhamos, é muito pouco”.
Por que o COB não consegue obter um patrocinador máster, na sua opinião?
“Não consegue porque a área de marketing e comunicação é fraca. Eles não conseguem demonstrar ainda que estão num nível adequado de transparência. Você entra no site, não é fácil encontrar uma demonstração financeira. Tem que fazer a busca e usar a palavra certa, se não a busca vai dar em água. O COB não se preparou para ser algo atraente. Não tem uma política de desenvolvimento de marca. Não se preocupa em viabilizar competições internacionais para ter visibilidade. Não faz parceria com o Ministério da Cidadania, buscar recursos da Lei de Incentivo. O patrocinador está com o pé atrás para colocar o nome dele, sua marca, lá. Tem que aparecer e dar a cara ao patrocinador. Tem que ser convincente. E o Paulo não faz isso. Ele acha que o patrocinador vai cair do céu”.
Você se sente preparado para gerir o COB, uma entidade muito mais complexa que a Confederação de Pentatlo?
“Completamente. Eu fui gestor de empresa muito maior, de 1000 empregados. Trabalhei no polo petroquímico. Eu tenho 18 anos de inserção, seis anos em Brasília, morava lá. Como funcionário da Petrobras, eu fui cedido ao antigo Ministério da Indústria e Comércio, trabalhei seis anos dentro do governo federal. Depois fui assessor parlamentar. Tenho conhecimento de Brasília como ninguém tem, embora seja engenheiro e economista. Eu redijo legislação, sei ler legislação com facilidade. No pentatlo, eu sou um presidente operacional. Eu vivo os problemas o tempo todo Não tenho a menor dificuldade ou receio para assumir o COB”.
*Com informações do Estadão Conteúdo