Aumento nas taxas de CDBs pode não significar prêmio mais atraente; saiba quando vale investir

Aumento nas taxas de CDBs pode não significar prêmio mais atraente; saiba quando vale investir

outubro 1, 2020 Off Por JJ

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(Getty Images)

SÃO PAULO – A Selic na mínima histórica e os crescentes riscos fiscais no horizonte em meio aos gastos com a pandemia têm elevado os prêmios pagos por produtos de emissão bancária, como os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) indexados ao CDI ou ao IPCA, de forma a deixar o produto mais atrativo em um cenário de retornos irrisórios nos títulos públicos.

Levantamento feito pelo buscador de investimentos Yubb a pedido do InfoMoney mostra um aumento de até 25,3 pontos percentuais no prêmio médio, em 12 meses, dos CDBs que têm o CDI como referencial: de 105,8% para 131,1% do benchmark, até setembro, nos papéis com prazo de três anos.

Importante lembrar que a Selic, que serve como baliza para o CDI, foi de 5,5% para 2% ao ano no mesmo intervalo.

De todo modo, o movimento de abertura dos prêmios também pode ser visto nos certificados indexados à inflação, que alcançaram a máxima recente de 4% em setembro, contra 2,4% há um ano, e 3,5% no auge da crise.

Já nos CDBs prefixados, as maiores taxas oferecidas foram em março e abril, com prêmios de 6,7%. Em setembro, a taxa média era de 5,75%.

O estudo levou em conta produtos de aproximadamente 90 emissores e 33 distribuidores, e analisou como se comportaram, no último ano, os retornos médios dos CDBs com vencimentos em 24 e 36 meses. Confira:

Análise redobrada

Em um contexto de juros próximos ou até abaixo da inflação, mais do que analisar as taxas oferecidas, o investidor precisa prestar atenção no ganho real do investimento, diz Mauro Morelli, assessor de investimentos no escritório Davos.

Mesmo que o produto ofereça uma taxa de 150% do CDI, isso representa hoje um ganho nominal de apenas 2,5%, já líquido de Imposto de Renda (alíquota de 17,5%), que perde para a inflação – o IPCA foi de 2,65% nos últimos 12 meses, até setembro, e as projeções no relatório Focus do Banco Central apontam para 3,01% no ano que vem.

Morelli destaca ainda que, além dos juros baixos, as discussões em torno do teto de gastos contribuem para o aumento do risco país e, consequentemente, para a abertura das taxas, como também tem sido visto nos títulos públicos. O aumento fica mais evidente, diz, nos certificados prefixados e indexados à inflação, e principalmente quanto maior o prazo de vencimento.

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Nesse novo contexto recheado de incertezas, Daiane Reis, especialista na área de produtos e sócia do escritório Monte Bravo, não vê atratividade para a aquisição dos CDBs de grandes instituições financeiras. “As taxas caíram muito por conta do cenário [de juros nas mínimas] e no prazo de vencimento ainda há incidência de IR”, afirma.

Assim como demais aplicações de renda fixa, como Tesouro Direto, os CDBs estão sujeitos à tabela regressiva de Imposto de Renda, com alíquotas que variam de 22,5% a 15%, a depender do prazo do investimento.

Para Camila Sandoval, sócia-fundadora da Sonata Gestão de Recursos, CDBs de bancos menores que ofereçam taxas ao redor de 170% do CDI, ou prefixados na casa dos 8%, podem ser boas opções, desde que o investidor tenha ciência que está tomando risco de crédito. Nesse caso, o ideal é que a aplicação fique dentro do limite do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) – de até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão.

IPCA x CDI X Prefixados

Com preocupações com relação ao aumento dos preços dos alimentos, e em um cenário de grande estímulo fiscal e monetário, a preferência dos especialistas consultados tem sido claramente por produtos atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de forma a proteger o poder de compra do investidor.

Segundo Camila, da Sonata, prefixados até poderiam entrar para o portfólio em momentos de estresse, a depender do nível do prêmio. “Uma taxa de 9% seria interessante, porque é muito difícil que a inflação em três anos chegue a isso. Mas na dúvida, sempre prefiro os atrelados ao IPCA”, diz.

Morelli, da Davos, também declara preferência aos atrelados à inflação. “O Copom não vai mexer nos juros tão cedo, e muito provavelmente o próximo [movimento] será de alta [da Selic]”, afirma ele, lembrando que o aperto monetário tende a ser negativo para o rendimento dos prefixados.

Já os atrelados ao CDI são os menos arriscados, mas o problema nesse caso é o carrego, com uma Selic que deve permanecer abaixo da inflação nos próximos meses, diz Morelli. Os CDBs de prazo mais curto seguirão com taxas pouco atraentes diante da expectativa de manutenção dos juros baixos, afirma ele. “Mesmo 160% do CDI não é nenhuma maravilha. Mas se os juros subirem, vai ter uma expectativa de ganho maior.”

Riscos no horizonte

Com juros tão baixos, o investidor que quiser melhores retornos terá de abrir mão da liquidez, diz Daiane, da Monte Bravo.

Na última quarta-feira (30), era possível encontrar em plataformas independentes juros de até 4,9% nos indexados à inflação, e prefixados com prêmios de 9,65%. É o caso dos CDBs do banco BS2 com vencimento em setembro de 2026.

Porém, ainda que os prêmios sejam mais elevados, Morelli, da Davos, afirma que o investidor precisa ficar atento aos riscos ao alongar demais o portfólio.

“Quando se alonga o prazo, coloca-se mais risco na carteira, então é preciso analisar se faz sentido para o perfil do cliente”, afirma, destacando as preocupações com o âmbito fiscal brasileiro em meio aos gastos com a pandemia.

CDBs x crédito privado

Para entregar retornos mais atrativos para o investidor, assessores de investimento e gestoras de patrimônio têm, em geral, dado preferência a ativos mais arrojados, como da classe de crédito privado.

Daiane, da Monte Bravo, diz que prefere usar CDBs para compor portfólios mais conservadores, enquanto na fatia de renda fixa de investidores de perfil moderado a escolha recai sobre produtos como debêntures incentivadas e Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), uma vez que oferecem taxas mais elevadas, e isenção de IR para a pessoa física.

A opinião é compartilhada por Camila, da Sonata, que cita a possibilidade de encontrar hoje no mercado produtos high grade (crédito de maior qualidade) com taxas reais (acima da inflação) entre 3,5% até quase 5%.

Daiane cita como exemplo a emissão, em setembro, da debênture de infraestrutura da Eneva, com rating ‘AAA’, vencimento de 15 anos e prêmio de IPCA mais 4,9%.

O investidor, contudo, precisa estar ciente do risco de crédito mais elevado dos ativos, e de que não há cobertura do FGC; as garantias existentes são feitas pelas próprias instituições emissoras.

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