Conselho pune Deltan Dallagnol com pena de censura por postagens contra Renan Calheiros

Conselho pune Deltan Dallagnol com pena de censura por postagens contra Renan Calheiros

setembro 8, 2020 Off Por JJ

SÃO PAULO – O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decidiu, nesta terça-feira (8), aplicar punição de censura ao procurador Deltan Dallagnol, ex-coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba (PR), por postagens em que ele se posicionou contra a candidatura do senador Renan Calheiros (MDB-AL) à presidência do Senado Federal, em 2019.

O caso, que havia tido tramitação suspensa por decisão liminar do ministro Celso de Mello, foi retomado após o aval do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado entendeu que, em função de riscos de prescrição, era necessária uma deliberação do colegiado.

Os conselheiros entenderam que Deltan Dallagnol, que pediu afastamento do comando da força-tarefa na semana passada, extrapolou limites da simples crítica e tentou interferir nos rumos do Poder Legislativo ao se manifestar contra o sistema de votação fechada, prevista para a escolha dos responsáveis por presidir as casas por dois anos.

A penalidade de censura é considerada uma das mais graves na corporação. Na prática, ela atrasa a progressão na carreira e pode servir de agravante em outros processos no conselho. Outras punições possíveis são advertência, suspensão, demissão ou cassação da aposentadoria.

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O processo decorre de representação apresentada por Renan Calheiros, que alegou quebra de decoro por parte do procurador. O congressista, investigado pela Lava Jato, afirma que Dallagnol foi às redes sociais para criticá-lo e tentar interferir na eleição para a presidência da mesa diretora da casa legislativa, que acabou vencida por Davi Alcolumbre (DEM-AP).

A representação apresentada por Calheiros diz que a ação do coordenador da força-tarefa da Lava Jato configurou ato político-partidário – o que é vedado aos membros do Ministério Público.

“Reduzir esse caso a um debate sobre liberdade de expressão é ignorar os imensos riscos à democracia, quando se abre as portas para agentes não eleitos, vitalícios e inamovíveis disputarem espaço, narrativas e, em última análise, o poder com agentes eleitos”, argumentou o conselheiro Otávio Rodrigues.

Na avaliação do conselheiro, Dallagnol “ultrapassou os limites da simples crítica, com manifestação pessoal desconfortável à vítima”. Para ele, a conduta do procurador não atacou somente um parlamentar, mas o Poder Legislativo.

“Nada impede que os primeiros deixem o conforto de seus cargos públicos, renunciem à magistratura judiciária ou ministerial, e entrem na arena partidária, disputando votos e espaço na mídia sem a proteção reputacional que a toga e a beca quase sempre emprestam aos que as vestem”, afirmou ainda o relator.

“O membro do Ministério Público deve se abster de realizar manifestações públicas, pois ao fazê-lo, também compromete a isenção perante a sociedade”, concluiu.

A notícia representa mais um revés simbólico para a Lava Jato. A operação tem sofrido derrotas importantes no Judiciário. Na semana passada, chamou atenção a decisão de Deltan Dallagnol deixar o comando da força-tarefa de Curitiba por alegações familiares e o pedido de demissão coletiva de procuradores da equipe de São Paulo.

Entenda os impactos pela última edição do podcast Frequência Política: